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Dubai – Procura alta, mesas de reuniões constantemente ocupadas e um negócio fechado nas primeiras horas. Começou em ritmo acelerado a edição 2018 da Gulfood, feira da indústria alimentícia que conta com mais de cem empresas brasileiras expositoras, cinco delas dentro do estande da Câmara de Comércio Árabe Brasileira. Neste domingo (18), a mostra em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, foi aberta ao público, que compareceu em peso, lotando os corredores e estandes do centro de exposições.
Não havia nem chegado à metade do primeiro dia e a Nutrire, fabricante de rações para cães e gatos, fechou o envio de um contêiner para Belize, na América Central. Giane Danielli, gerente de importação e exportação da empresa, comemorou o acordo. “Os compradores africanos e da América Central representam distribuidores de diversos tipos de produtos. Por isso muitos acabam se interessando também pelo nosso”, explicou a gerente.
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Enquanto a reportagem da ANBA conversava com Danielli, compradores de outros países espiavam o estande e conferiam folhetos. No ano passado, a Nutrire participou pela primeira vez da Gulfood, sem muita expectativa. “Acabamos nos surpreendendo positivamente. Saímos com muitos contatos e as negociações seguiram ao longo do ano”, contou, explicando que por vezes as legislações de outros países impedem o fechamento imediato de negócios, por restrições ao uso de determinados ingredientes.
Entre os contatos feitos no ano passado, há empresários do Líbano e Omã. Nos próximos dias, a gerente espera receber em seu espaço a visita de contatos do Catar e Marrocos.
A empresa exporta rações de cães e gatos, das linhas premium e econômica, para Emirados, Arábia Saudita, Egito, Kuwait e Líbia. “São mais de 20 países”, disse Danielli, acrescentando que as exportações representam 30% do volume de produção da Nutrire – no ano passado, os embarques cresceram 9,7% sobre 2016.
Além do negócio fechado, os expositores no estande da Câmara Árabe receberam clientes e pessoas dispostas a negociar. O diretor-executivo da O Primo Logística, Augusto Ferraiol, participa pela quinta vez da Gulfood – a primeira como expositor. “Chegamos a um estágio em que precisamos ter um espaço para receber fornecedores e clientes”, disse à reportagem.
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Especializada em transporte de alimentos, a empresa manda representantes para as principais feiras do setor – Sial Paris e Shangai, na França e China, Anuga, na Alemanha, Seafood Boston, nos Estados Unidos, entre outras. Segundo Ferraiol, a importação de azeite e azeitonas do Egito é um dos principais negócios da empresa, que também envia muito frango e carne bovina os países árabes. Para ele, mostrar a cara a importadores e exportadores é fundamental para a confiança dos clientes em seu trabalho.
“Nós enviamos cerca de 500-600 contêineres a diversos locais do mundo. Na Gulfood estarão clientes que representam em torno de 400 desses contêineres. Só o retorno que tivemos antes mesmo de começar a feira, com clientes dispostos a marcar reuniões, já prova que precisamos estar sempre aqui”, afirmou.
À mesma conclusão chegou Elaine Guerra, gerente de vendas e marketing da Ostinato, que exporta amendoins, óleo de amendoim, castanha de caju e castanha-do-pará. “O mercado do Oriente Médio está crescendo e estamos desenvolvendo as exportações para a região. No primeiro momento estamos aqui para mostrar a cara, porque é aonde está o nosso foco”, afirmou.
Pela primeira vez a Ostinato está na Gulfood como expositora, mas desde 2015 a empresa envia representantes para andar pela feira. “No ano passado fechamos um acordo com uma empresa da África do Sul que só saiu porque estávamos na Gulfood. Ela compra bastante, para fazer pasta de amendoim”, contou.
Entre os árabes, a empresa só exporta para a Argélia, que é o segundo principal cliente dos produtos da Brumau, marca representada pela Ostinato. Segundo Guerra, há conversas adiantadas com um distribuidor no Egito e com a La Roche, fabricante de doces dos Emirados – que usaria o amendoim como matéria-prima de chocolate recheado. Ela está confiante em fechar algum negócio nos próximos dias.
Para Paula Costa, gerente de vendas da Almada, a participação na Gulfood faz parte da estratégia da exportadora de especiarias em retomar o mercado árabe. “Ficamos os últimos cinco anos focando Europa e Estados Unidos, e o Vietnã acabou tomando bastante espaço. Agora que estamos mais sólidos nesses mercados, vamos garimpar novamente a região e a Gulfood é a feira ideal para esse trabalho”, explicou.
A empresa é totalmente voltada à exportação e 15% da receita vem dos países árabes. Emirados, Marrocos, Síria e Egito são alguns dos destinos das pimentas branca, preta, rosa e dos cravos da empresa. Embora não acredite que vá fechar algum negócio durante a feira, está otimista com as negociações: “Os árabes estão interessados em diversificar os fornecedores”, disse.
Entrando no mercado
Outra expositora do estande da Câmara Árabe, a FIB Halal quer se apresentar a fornecedores e consumidores. A certificadora halal está há dois anos treinando sua equipe e agora começará a atuar com força no mercado. “Fomos acreditados pela Esma [Emirates Authority for Standartization and Metrology] e pela GAC [Gulf Accreditation Centre] e podemos certificar para os sete países do Golfo, além de outros 27 países fora da região”, conta Ahmad Ismail, diretor geral da certificadora.
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Segundo ele, o relacionamento é com os expositores brasileiros e os consumidores de produtos halal presentes na feira. A FIB Halal busca clientes no segmento de carne, frango, medicamentos e cosmético de todos os países islâmicos presentes na feira – a Gulfood recebe muitos visitantes da Índia, por exemplo. Além de expor, os representantes da empresa circularam pela feira para divulgar seu negócio, que não tem fins lucrativos: todo o lucro será revertido a causas sociais.
O diretor da Câmara Árabe, Mohamad Abdouni Neto, passou o dia no estande da entidade. Além de receber os associados e interessados no trabalho da associação, concedeu entrevistas a jornalistas dos Emirados e até de Goa, uma região da Índia.
“Fiquei muito feliz em saber que empresas já estão fechando negócio. No primeiro dia, normalmente, as pessoas vêm mais para olhar”. A visitação no estande foi tão intensa que o diretor não conseguiu nem andar pela feira. “Amanhã pretendo passear e visitar as empresas brasileiras”, prometeu.
A Gulfood estará aberta até a próxima quinta-feira (22), no World Trade Centre, em Dubai.