Marina Sarruf
e Isaura Daniel
São Paulo – A imigração libanesa começou oficialmente no Brasil por volta de 1880, quatro anos após a visita do imperador Dom Pedro II ao Líbano. A maioria dos imigrantes veio ao país fugindo da falta de perspectiva econômica da região, então dominada pela política turco-otomana. O Brasil, na época, atravessava a sua primeira fase de urbanização e industrialização, o que tornava propício os novos negócios.
Diferente dos imigrantes europeus, que procuraram no Brasil as terras para cultivo, os libaneses encontraram nas cidades um local para a criação de indústrias e casas de comércio. A maioria deles começou a sua vida no país vendendo mercadorias de porta em porta como mascate. O dinheiro juntado acabou sendo o pontapé para a abertura de pequenas confecções e lojas de tecidos.
Apesar da data oficial do início da imigração ser 1880, antes disso alguns libaneses já viviam no Brasil. Em 1808, por exemplo, quando a família real portuguesa chegou ao Brasil foi um libanês, Antun Elias Lubbos, quem ofereceu sua casa para o rei D. João VI como residência imperial. O libanês era proprietário de terras, possuía um açougue de carne de carneiro e uma casa de secos e molhados. O local se tornou Casa Imperial Brasileira, onde nasceu Dom Pedro II, e depois virou Museu Nacional da Quinta da Boa Vista.
Muitos dos imigrantes libaneses que vivem ou viveram no Brasil colaboraram inclusive com o desenvolvimento do próprio Líbano, com envio ao país de recursos que propiciaram a construção de hospitais, escolas e bibliotecas. No Brasil, eles também fizeram obras importantes, como o Hospital Sírio-Libanês e o próprio Clube Atlético Monte Líbano. A culinária libanesa é um exemplo de como a cultura libanesa se tornou popular. Quibes e esfihas são vendidos em restaurantes e lanchonetes de todo o país. Atualmente, há cerca de 7 milhões de libaneses e descendentes no Brasil, a maioria vive em São Paulo, mas eles estão espalhados por todo Brasil.
Histórias de libaneses
Com tanta gente na colônia, a imigração é repleta de histórias. Alguns vieram e voltaram para o Líbano, para depois retornar novamente ao Brasil, outros chegaram e nunca mais retornaram à sua terra natal. Uma das famílias que chegaram a São Paulo no final do século 19 foi a Massud. O médico João Massud Filho, neto do imigrante Amin Massud, conta que seu avô era um dissidente político na época do domínio turco e, por isso, resolveu fugir para o Brasil junto com sua mulher.
Como vários de seus compatriotas, Amin foi trabalhar no comércio junto com os irmãos. "Meu avô teve três filhos aqui. Ficou no Brasil por 65 anos e depois voltou para o Líbano", disse. Posteriormente Amin retornou definitivamente ao Brasil com os filhos. "Meu pai (João, filho de Amin) foi dono de cartório e chegou a ser prefeito da cidade de Getulina (no interior de São Paulo)", afirma Massud Filho.
Ele conta que sua mãe, Hania Massud, também saiu do Líbano e veio morar no Brasil, onde conheceu e se casou com seu pai. "Minha mãe foi para os Estados Unidos com 16 anos para se casar com uma pessoa muito mais velha do que ela, um homem que ela não conhecia. Era casamento arranjado. Quando chegou lá e viu o homem ela fugiu para França e depois veio para o Brasil", disse. "Meus pais nunca mais voltaram para o Líbano", acrescentou.
Uma outra história mais recente é a do libanês Tanos Nabhan. Ele veio para São Paulo com 29 anos de idade, em 1979, junto com sua esposa Marie Nabhan. Os dois saíram da cidade de Fharzabed por causa da guerra civil que durou 15 anos.
Nabhan, que era professor de árabe, história e geografia, chegou em São Paulo sem falar uma palavra em português, mas aos poucos foi aprendendo e começou a trabalhar no comércio. "Primeiro abri uma loja de confecções em Maringá (interior do Paraná), mas não deu certo. Depois voltei para São Paulo, onde abri uma lojinha, no Brás, de roupas e acessórios infantis", disse. Em 2003, o imigrante abriu uma fábrica de jeans infantil, a Parizi, também localizada no Brás.
Hoje, com 55 anos de idade, Nabhan afirma que se acostumou com o Brasil. "Já fui visitar o Líbano duas vezes. Mas o povo brasileiro é muito carinhoso, diferente de outros países, e isso nos ajudou muito a continuar aqui", disse.

