Dubai – Há onze anos, a cineasta saudita Haifaa Al-Mansour deu ao mundo o primeiro vislumbre do que o cinema saudita se tornaria. Na época, quando não havia incentivo para essa arte no país, Haifaa produziu seu primeiro longa-metragem, “O Sonho de Wadjda”. Se trata de um drama adolescente que se passa no subúrbio de Riad, onde uma garota faz de tudo para conseguir o dinheiro necessário para comprar uma bicicleta.
Hoje muita coisa mudou para Haifaa e para o cinema saudita, segundo reportagem sobre o assunto no site do jornal saudita Arab News. Os filmes da Arábia Saudita dominam a bilheteria local e ganham o mundo em festivais e na Netflix. Haifaa está entre as diretoras de televisão mais requisitadas de Hollywood, dirigindo séries de sucesso.
Mesmo com agenda lotada, o olhar da cineasta nunca deixou o seu país de origem e os jovens talentos sauditas do cinema e da televisão. “A Arábia Saudita está se tornando um mercado muito aquecido para o cinema”, disse Haifaa ao Arab News. Ela afirmou que, neste cenário, cada vez mais competitivo, é preciso garantir que as mulheres tenham seu lugar. “Agora mais do que nunca, precisamos de vozes femininas sauditas nesta conversa.”
Em outubro, ela voltou para a Arábia Saudita para impulsionar isso. Em parceria com a Film AlUla, comissão real da agência cinematográfica da cidade saudita de AlUla, Haifaa ajudou a liderar comitê para o programa inaugural da AlUla Creates Film, plataforma voltada a cineastas sauditas. Quatro talentos em ascensão – Hana Alfasi, Maram Taibah e as irmãs Raneem e Dana Almohandes – foram selecionadas para receber bolsas e fazer curtas-metragens.
Os três projetos foram escolhidos entre 85 inscrições. Haifaa afirma que por trás de cada história proposta para os filmes há histórias pessoais. “A conexão pessoal que se sente é o que as torna especiais e as diferencia das demais”, disse a cineasta ao Arab News. Ela afirma que são histórias de uma perspectiva claramente feminina.
Haifaa contou que os workshops que foram dados em AlUla em função do projeto também foram transformadores para ela, pois a remeteu a quando começou o seu trabalho no cinema, com o filme da menina da bicicleta. Ela relatou que a presença feminina menor do que a masculina no cinema é uma realidade mundial. A cada dez filmes produzidos no Ocidente, apenas um é feito por mulheres. “Tenho a sorte de ter dirigido quatro filmes na minha carreira, mas muitas não têm a oportunidade de fazer isso. É uma luta”, afirma.