São Paulo – Um dos roteiristas do filme libanês Arzé (2024), Louay Khraish está em São Paulo nesta semana para acompanhar a 20ª Mostra Mundo Árabe de Cinema, organizada pelo Instituto da Cultura Árabe (Icarabe), Serviço Social do Comércio (Sesc) e Banco do Brasil (BB). Na quinta-feira (14), ele visitou a Câmara de Comércio Árabe Brasileira, patrocinadora do evento, em São Paulo. Em conversa com a reportagem da ANBA adiantou que tem uma ampla agenda de visitas na cidade, que não conhecia, e que o Brasil e São Paulo, lar de tantos imigrantes árabes, podem inspirar futuros filmes e histórias.
Com roteiro assinado por Khraish e Faissal Sam Shaib e direção de Mira Shaib, “Arzé” foi selecionado pelo Líbano para concorrer ao Oscar deste ano, mas não chegou a ser um dos cinco indicados finais na categoria de Melhor Filme Internacional, que premiou o brasileiro “Ainda estou aqui”. Nem por isso Khraish ficou triste. Ao contrário, a identificação e até o “o orgulho” que os libaneses sentem pelo Brasil é tão grande que ele até ficou feliz.

Tanto o Brasil retratado por “Ainda estou aqui” quanto o Líbano vivenciaram turbulências internas, avalia o roteirista, que acabam por aproximar os países e suas histórias. Mais do que isso, diz Khraish, há uma similaridade até na forma de produção cinematográfica dos dois longas-metragens. “Existe uma cor, um acalento, alguma similaridade. Não sei explicar ao certo”, diz.
Em “Arzé”, uma mãe solteira (interpretada por Diamant Abou Abboud) percorre as ruas de Beirute em busca da moto roubada de seu filho em um roteiro que aborda a convivência, retrata a realidade libanesa e coloca em cena discussões de temas contemporâneos. A inspiração da dupla de roteiristas, conta Khraish, veio do filme italiano “Ladrões de Bicicleta” (1948). “Realmente gostamos desta história por causa da sua simplicidade, de um filme sobre o relacionamento de um pai e seu filho e sua busca por uma bicicleta roubada. Nos encantou a forma como o filme retrata a Itália do pós-guerra”, afirma Khraish sobre o clássico europeu. “Este filme tem uma história que pode ser contada no Líbano”, diz.
Arzé seguiu os passos da sua inspiração italiana porque os roteiristas e a diretora queriam que ele fosse, inicialmente, muito assistido dentro do próprio Líbano, mas que alcançasse a audiência da vizinhança, em países como Síria e Jordânia. Sabiam também do potencial do filme na América do Sul em razão da similaridade cultural entre os povos.
Khraish nasceu em Ain-Ebel, cidade ao Sul de Beirute, e hoje vive entre a capital libanesa e Los Angeles, nos Estados Unidos. Já esteve no Rio de Janeiro e, para sua primeira visita a São Paulo, trouxe alguns objetivos: encontrar amigos, visitar museus e pontos turísticos, como a Catedral da Sé e o Mercado Municipal de São Paulo. O “Mercadão”, como é chamado, fica nas proximidades da Rua 25 de Março, um dos principais redutos da comunidade árabe no Brasil.
“Acho que há muitas histórias não contadas sobre a experiência árabe ou libanesa em São Paulo que merecem ser narradas. Nos Estados Unidos, por exemplo, os americanos [descendentes de] italianos fizeram um trabalho muito bom ao contar suas histórias. Acho que há muito potencial de histórias aqui no Brasil e em outros países da América do Sul sobre imigração do Líbano ou da Síria”, afirma.
Confira a programação completa da Mostra Mundo Árabe de Cinema neste link.
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