São Paulo – Os contos da clássica obra As Mil e Uma Noites foram unidos a relatos de refugiados que moram no Brasil em uma peça teatral que está em cartaz na cidade do Rio de Janeiro. Com o nome As Mil e Uma Noites e encenada pelo grupo Teatro Voador Não Identificado (TVNI), a montagem estreou no dia 29 de junho e poderá ser vista até 09 de setembro no espaço cultural Oi Futuro Flamengo.
Longe das propostas teatrais convencionais, o espetáculo muda a cada apresentação, mostrando sempre distintas histórias de refugiados e diferentes contos de Sherazade, que é a personagem principal do livro das Mil e Uma Noites. No total são 33 espetáculos, em referência aos 33 meses que compõem mil e uma noites. O diretor e mentor da peça, Leandro Romano, adaptou a conta mensal à sua ideia original de fazer mil e uma apresentações.
A história de Sherazade, que se casou com o rei que assassinava uma mulher a cada dia, após casar-se com ela na noite anterior, é o pontapé inicial da peça. No livro, a personagem conta uma história atrativa para o rei à noite, deixando o final para o dia seguinte, para assim ser poupada da morte. Na peça, Sherazade narra esses contos e ainda comanda a encenação.
A personagem serve de ponto (dá a fala) aos atores que interpretam os refugiados. Assim, o diretor deu viabilidade à proposta da peça mutável, já que a equipe não teria como decorar novos textos cada vez que subisse ao palco.
A ideia do espetáculo foi de Romano e começou a se desenhar há cerca de três anos, quando ele iniciou a leitura pessoal de As Mil e Uma Noites. Para a criação do texto, que é de Gabriela Giffoni e Luiz Antonio Ribeiro, foram entrevistados refugiados árabes que vivem no Rio, de países como Síria, Egito, Marrocos e Palestina. De acordo com Romano, os relatos de vida são fieis, mas foram encurtados e editados porque eram muito longos.
Os atores que interpretam os refugiados começam a participação em cena falando em terceira pessoa, depois intercalam as narrativas em primeira e em terceira pessoa, e terminam em primeira pessoa, fazendo um caminho de aproximação. Em suas falas, os refugiados dão um panorama do cenário do qual vieram, dos países de origem, e do que enfrentam no Brasil, abordando também a situação política e econômica nacional.
Essa é uma proposta do espetáculo, aproximar Brasil e Oriente Médio por meio de cenas que aludem a Primavera Árabe e à luta por poderes na política brasileira. O diretor conta que desde o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff até o final do governo de Michel Temer serão mil e um dias. Em seus relatos, os refugiados fizeram pontes entre o Brasil e seus países, dizendo que, como os brasileiros, tentaram derrubar seus presidentes.
Nas primeiras apresentações da peça (assista teaser abaixo), alguns contos de Sherazade tinham animais como personagens e por isso máscaras deles foram usadas nos palcos. Essa composição tornou as cenas bem inusitadas, algumas delas com os bichos no foco da morte, sendo possível ao público fazer um paralelo com a ameaça de vida pela qual passaram os refugiados. Os próximos contos a serem apresentados, porém, não terão animais.
A peça tem no elenco Adassa Martins, Bernardo Marinho, Clarisse Zarvos, Elsa Romero, Gabriel Vaz, João Rodrigo Ostrower, Julia Bernat, Larissa Siqueira, Pedro Henrique Müller e Romulo Galvão. A assistência de direção é de Luciana Novack e a consultoria teórica é de Mamede Mustafá Jarouche, que traduziu o livro das Mil e Uma Noites para o português.
Depois da temporada no Oi Futuro Flamengo, a peça ainda não tem outro local definido para apresentação. O diretor Leandro Romano está em negociação para colocá-la em cartaz na capital paulista.
No Rio, o espetáculo pode ser visto de sexta-feira a domingo.
Serviço
Peça teatral “As Mil e Uma Noites”
De 29 de junho a 09 de setembro de 2018
No Oi Futuro Flamengo – Rua 2 de dezembro, 53 – Rio de Janeiro – RJ
De sexta-feira a domingo, às 20 horas
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