Alexandre Rocha, enviado especial
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Sanaa (Iêmen) – O Iêmen precisa de tudo. Dependente das exportações de petróleo, o país tem necessidade de importar todos os tipos de mercadorias, sejam alimentos, matérias-primas ou bens acabados. A informação é do Presidente do Conselho da Federação das Câmaras de Comércio e Indústria iemenita, Mohammed Abdo Saeed, que recebeu ontem (01) o secretário-geral da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Michel Alaby, e a reportagem da ANBA em seu escritório em Sanaa, a capital.
“Aqui dá para se vender de tudo, o país está aberto e as taxas de importação são baixas, de 5% para a maioria dos produtos”, disse Saeed, que também é gerente do escritório de Sanaa da companhia Kayel Saeed Anam (KSA), maior grupo empresarial local. Hoje o Brasil é conhecido por aqui como exportador de açúcar, carne de frango e café. A própria KSA importa produtos brasileiros e já pensou até em ter uma usina de açúcar no país, projeto que até agora não foi adiante.
A Federação representa as 22 câmaras de comércio existentes no Iêmen, entidades privadas instaladas nas 22 províncias do país. Saeed sugeriu a participação em uma feira multissetorial, que ocorre em Sanaa em junho, como forma de ampliar a divulgação dos produtos brasileiros.
Ele falou também sobre o ambiente para investimentos no país, onde estrangeiros podem instalar empresas e deter 100% do capital, sejam elas tradings, indústrias ou até lojas de varejo. Para o empresário, que também é membro do Parlamento local, os setores com maior potencial de crescimento são os de turismo, pesca e comércio exterior.
“O país está localizado entre a Ásia e a África. Para quem quer atingir o mercado africano, é vantajoso investir aqui”, afirmou. O país tem tradição histórica como entreposto comercial e fica muito próximo da costa africana.
Na seara do turismo, o país é considerado berço dos povos árabe e judeu e está repleto de monumentos históricos e sítios arqueológicos, além de ter belas paisagens montanhosas e praias. Só para se ter uma idéia, a Grande Mesquita da Cidade Velha de Sanaa foi construída poucos anos após a morte do profeta Maomé.
A arquitetura local é por si só uma atração, com antigos prédios de vários andares construídos com tijolos de barro. As ruas estreitas e sinuosas da Cidade Velha guardam uma infinidade de “souks”, os tradicionais mercados árabes, onde são vendidos artesanatos, vestimentas e alimentos.
O litoral extenso favorece a pesca. O país é banhado pelas águas do Mar Vermelho, do Golfo de Aden e do Mar da Arábia. Todos esses segmentos, no entanto, ainda precisam bastante desenvolvidos e a população do país é pobre.
Hoje, segundo Saeed, a principal fonte de receita é mesmo o petróleo. O país exporta cerca de 300 mil barris por dias, especialmente para o Extremo Oriente. O turismo também tem alguma participação, com visitantes vindos principalmente da Alemanha, Itália, França e Espanha.
Café
Entre os elementos históricos o país é conhecido também por ter sido o primeiro a cultivar o café, planta originária da Etiópia. Daqui o café ganhou o mundo e chegou ao Brasil, hoje maior produtor exportador mundial da commodity.
“Hoje a produção de café é muito pequena, são cerca de cinco mil toneladas por ano, mas é de grande qualidade”, disse Saeed. Segundo ele, a cafeicultura foi substituída pelo cultivo do “qat”, planta estimulante cujas folhas são mascadas o tempo todo pela população local.
Empresa
O Grupo KSA, do qual Saeed é diretor, tem, de acordo com ele, uma faturamento anual de US$ 5 bilhões. Só para se ter uma idéia, o Produto Interno Bruto do Iêmen é de US$ 18,7 bilhões. A empresa atua no comércio, indústria, no setor bancário e no ramo de seguros. Ela tem 18 fábricas no Iêmen, quatro na Arábia Saudita, cinco no Egito, duas na Inglaterra e outras na Indonésia e na Malásia.
A população do Iêmen é de cerca de 22 milhões de pessoas. Além do frango e do açúcar, o Brasil exporta ao país, mas em quantidades bem menores, ferro fundido e aço, tabaco, lácteos, máquinas e equipamentos, armas e munição, papel, objetos de borracha e chocolate.

