São Paulo – Os pequenos produtores de café podem ganhar o mercado internacional. Grandes processadoras estrangeiras fazem negócio com empresas que produzem pequenas quantidades do produto, desde que atendam aos padrões de plantio, secagem e seleção dos frutos e grãos. Uma das potenciais clientes é a italiana illy, que faturou 391 milhões de euros em 2014, o equivalente a R$ 1,6 bilhão, e tem no Brasil um dos seus principais fornecedores. Em entrevista à ANBA, a diretora da empresa, Anna Illy, afirmou que é a qualidade dos grãos que leva sua companhia a comprar ou não de um fornecedor.
“Aqui no Brasil compramos lotes desde 80 sacas [de 60 quilos cada] até mil sacas. Nos outros países, o mínimo é um contêiner”, afirmou a executiva na quinta-feira (03), durante Women Vendors Exhibition and Forum (WVEF), evento realizado em São Paulo que promoveu rodadas de negócios entre 420 empresas vendedoras e 40 compradoras lideradas por mulheres.
A illy participou do WVEF a convite da diretora-executiva do International Trade Centre (ITC), Arancha González. O ITC é uma agência da Organização Mundial do Comércio (OMC) e da ONU que o promove a internacionalização de pequenas e médias empresas. Nas rodadas de negócios, a executiva da illy se reuniu com produtoras brasileiras, de Ruanda, Peru e Uganda, entre outros países.
“Apresentei uma palestra, mostramos às empreendedoras dicas no preparo e melhoria da qualidade do grão. Claro, o objetivo final é que as empresas dessas empresárias sejam nossas fornecedoras, mas pode ser que não seja possível, que não atendam nossas demandas em relação à altitude e tipo de café, por exemplo. No entanto, poderão se capacitar para vender a outros compradores”, disse Anna.
A illy compra apenas grãos do tipo arábica, o mais produzido pelo Brasil, e submete o produto a avaliações antes de fechar negócio. Outros grandes processadores internacionais determinam padrões de qualidade para o grão. Atualmente, a multinacional tem venda direta em São Paulo e no Rio de Janeiro e distribuidores em Recife, Manaus, Porto Alegre e na capital, Brasília. De acordo com Anna, a illy tem um cadastro de aproximadamente mil produtores brasileiros de café.
Exportar é a meta
Diretora comercial do Centro Comunitário Rural de Conceição (CCRC), de Minas Gerais, Julenia Maria Lopes da Silva afirmou que a associação está aperfeiçoando o produto e se preparando para exportar. No ano passado, os produtores criaram uma marca, chamada Fruto Fino, como parte de um projeto para ampliar as vendas de café, que é procedente de propriedades de agricultura familiar. O CCRC produz em média 40 mil sacas por ano.
“Vimos que nosso produto tem qualidade, mas ainda há grande procura pelo café commodity. Queremos que seja reconhecido como café especial”, afirmou Silva. Café especial é grão superior, conforme suas características de sabor e aroma, entre outras. Ele atende a normas internacionais de qualificação e tem um preço maior do que o café que não é especial.
Geralmente, o café especial é negociado diretamente entre produtor e torrefador. Eventualmente, produto é vendido em leilões. Atualmente, a saca do café no mercado internacional está cotada a US$ 119,20, aproximadamente R$ 447. Uma saca de café arábica especial pode custar o dobro do café comum. Metade da produção dos associados do CCRC pode atender o mercado de cafés especiais.
Silva afirma que gostaria de começar a exportar já em 2016. “A Europa bebe um bom café e poderia ser um destino, assim como compradores com quem nos reunimos no WVEF, que são dos Estados Unidos, África do Sul e Etiópia. Eles perguntaram se poderíamos compor metade de um contêiner com o café commodity e a outra metade de café especial”, disse.


