São Paulo – O Brasil vai sofrer impactos resultantes do corte de gastos e da elevação da dívida dos Estados Unidos, mas eles não serão suficientes para colocar a economia nacional na mesma situação daquelas que estão em crise. Os maiores prejuízos deverão ficar com Japão, China e União Europeia, que têm economias mais atreladas ao desempenho da norte-americana. Seja por causa das exportações, no caso da China, ou por causa do valor das moedas frente ao dólar, situação da UE e do Japão.
Professor de economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), em Barueri, Antônio Carlos Alves dos Santos, afirma que a lei aprovada nesta terça-feira (02) pelo Senado norte-americano e sancionada pelo presidente Barack Obama não melhora a situação da economia dos EUA. O teto da dívida, que era de US$ 14,3 trilhões, passou para US$ 15,2 trilhões. O corte de gastos vai atingir US$ 917 bilhões. “Eles deveriam ter aumentado a arrecadação de impostos e não ter cortado gastos. Os juros são baixos e não seriam problema para 2012 ou 2013. Reduzir gastos agora é dar tiro no pé”, afirma.
Por outro lado, diz Santos, se a economia brasileira não vai ficar no mesmo estado da norte-americana, ela também pagará pelo déficit dos Estados Unidos. “O impacto aqui não será tão grande porque o crescimento do Brasil tem sido sustentado pela demanda interna. Porém, se a economia dos Estados Unidos não cresce, a demanda que ela gera também não”, ressalta Santos. Ele lembra, por exemplo, que o dólar desvalorizado é um problema dos norte-americanos, mas que afeta o resto da economia mundial, pois outros países, o Brasil entre eles, têm mais dificuldade para exportar.
O aumento do teto dívida norte-americana é corriqueiro, mas precisa ser aprovado na Câmara dos Representantes e no Senado. Nos últimos dias, Republicanos, que têm maioria na Câmara, e Democratas, que dominam o Senado, chegaram a um impasse porque os Republicanos queriam que, para cada dólar de aumento no teto da dívida outro dólar fosse cortado em despesas, e rejeitavam aumento de impostos. Eles não queriam aprovar um projeto que beneficiasse diretamente Obama, que já anunciou que vai concorrer à reeleição em 2012.
O professor de economia internacional das Faculdades Integradas Rio Branco, Carlos Stempniewski, também avalia que o projeto não resolveu os problemas dos EUA. “A quantia aprovada [máximo de US$ 15,2 trilhões para a dívida] é muito pequena e o teto poderá ser atingido novamente no fim do ano”, afirma. Ele é favorável a um corte elevado de gastos, aumento nos impostos e no teto da dívida. A lei aprovada nesta terça-feira não autoriza majoração de tributos.
Stempniewski observa que o Brasil poderá sofrer com o corte de gastos menos do que países que dependem mais das exportações para os Estados Unidos. Mesmo assim, o País não vai escapar dos maus resultados. “Economias que são muito dependentes das exportações para os Estados Unidos, como as da União Europeia, que tem uma moeda valorizada, e a China, vão sofrer os maiores impactos. O Brasil exporta muito em commodities e em minério de ferro para a China. Dificilmente empresas como a Vale, por exemplo, terão resultados tão bons como os que têm apresentado recentemente”, diz. Neste sentido, acrescenta, não adianta procurar outros parceiros comerciais. “Num cenário como esse, de retração, não haverá para quem vender”, destaca.
Stempniewski observa, no entanto, que a redução na atividade econômica e no consumo que o governo brasileiro iniciou em 2010 e continuou em 2011 poderão ser benéficos para o País. “No ano passado o Brasil cresceu 7,5% e o governo começou a trabalhar para reduzir o nosso crescimento para 3,5% ou 4% neste ano. Este é o PIB que o País suporta em um momento de crise sem sofrer grandes consequências. Então, é melhor continuarmos a crescer entre 3,5% e 4% em 2011 e 2012 do que sofrermos uma queda abrupta de 7,5% para 2% ou 3% se nada tivesse sido feito”, afirma.