Cláudia Abreu
São Paulo – A produção musical ganhou reforço no Brasil. Um click no endereço www.studiolivre.utopia.com.br e dá para ver a quantas andas o processo criativo no país. Quase todo o dia aparece uma nova "batida". O grande interesse dos jovens por produção musical foi observado pelo Ministério da Cultura (Minc) e virou um projeto de inclusão digital inédito no mundo: o Pontos de Cultura.
"O programa capacitará gente interessada em produzir música, vídeo e arte na rede em todo o Brasil e fornecerá ferramentas tecnológicas para isso", explica Saulo Faria Barretto, do Instituto de Pesquisas em Tecnologia da Informação (IPTI), parceiro do ministério na implementação do projeto.
De acordo com o ministério, a intenção do governo federal é ter mil Pontos de Cultura até 2007. Até agora há 244 instalados. A premissa é simples: os Pontos terão estações multimídia para a produção cultural, seja por meio de produções de áudio, vídeo ou gráfica.
Os primeiros 100 receberão os kits tecnológicos (software e hardware) em setembro deste ano. "Não é só colocar o computador lá e ensinar a pessoa a entrar na internet, como é feito em vários lugares. Vamos mostrar que dá para fazer coisas interessantes com o computador, como música e filmes", afirma Alexandre Freire, coordenador de Pesquisa e Desenvolvimento do programa no Minc.
A produção musical e visual será possível porque todo o trabalho é realizado com softwares livres, que podem ser baixados gratuitamente da internet, sem pagamentos de licença. Para a produção de uma música, por exemplo, podem ser usados programas como o Ardour e o Hydrogen. "O sistema operacional é o Lynux, que também é gratuito", explica Freire.
Segundo ele, o modelo "ousado" do programa, que usa só software livre, tem chamado a atenção de profissionais interessados em promover a inclusão digital em outros países, como a África do Sul.
Investimento
Os recursos para os Pontos vêm do governo federal e de outros parceiros, como o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). A verba anual de cada Ponto é de R$ 185 mil, dividida em cinco parcelas. São para o desenvolvimento de projeto cultural e para a aquisição de equipamentos multimídia (computadores, câmeras digitais, suporte tecnológico em software livre e equipamento para conexão em banda larga – parceria com o Governo Eletrônico Serviço de Atendimento ao Cidadão, Gesac).
Etapas
Para ser implantado, o programa foi dividido em duas fases. A primeira é o treinamento dos multiplicadores. Um grupo de 40 pessoas do IPTI está visitando locais do Brasil onde existem pontos instalados, identificando pessoas que serão capacitadas. "Eles repassaram o conhecimento ao resto da comunidade", explica Saulo Barretto.
A etapa seguinte é o de acompanhamento, que será feito após a chegada dos primeiros kits multimídia, em setembro. "Vamos acompanhar, de forma contínua, o processo de formação das pessoas dessas comunidades, ver como é feita a transmissão de conhecimento ao grupo", afirma.
Enquanto os kits não chegam, manifestações culturais pipocam em todo o país. Esta semana, em Teresina, no Piauí, um grupo de 200 jovens entre 15 e 25 anos, ligados ao movimento Hip Hop, participou de oficinas de áudio e vídeo durante o 1° Encontro de Conhecimentos Livres dos Pontos de Cultura do Nordeste.
Logo no primeiro dia do evento – que termina na próxima semana – os jovens produziram uma faixa musical, "Autenticidade", com letra de uma rapper da cidade. A música pode ser baixada do site Studio Livre. Vários músicos participaram da gravação orientados por Cristiano Scabella, coordenador da área de áudio do IPTI.
O trabalho todo foi feito com softwares livres, os mesmos que estarão disponíveis nos kits. Segundo Scabella, se os jovens criadores fossem pagar pelo software, desembolsariam cerca de R$ 5 mil só em licenças para produzir a faixa.