Alexandre Rocha
São Paulo – A indústria brasileira de brinquedos ainda não explora o mercado dos países árabes, mas pretende começar a fazê-lo a partir do próximo ano, segundo informou o presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), Synésio Batista da Costa.
“Em 2004 nós vamos sair para a rua, será o momento de irmos para lá. Vamos participar de feiras e trabalhar esses mercados”, afirmou Costa, em entrevista à ANBA. Ele disse, no entanto, que ainda precisam ser definidos em quais eventos os fabricantes brasileiros irão participar.
Neste ano, o segmento prevê exportar US$ 30 milhões em brinquedos, um aumento de 20% em relação a 2002, quando foram vendidos ao exterior US$ 25 milhões. Os destinos tradicionais são Estados Unidos, América Latina e Europa.
Catar: 100% importados
“Posso dizer que os países árabes são um mercado importante, mais em decorrência do alto poder aquisitivo do que pela quantidade de crianças”, afirmou Costa.
O Catar, por exemplo, importa praticamente 100% dos brinquedos que consome, e seus principais fornecedores são China, Estados Unidos, Taiwan, Itália e Japão. Costa diz, porém, que os produtos chineses comprados pelo país são de marcas americanas e japonesas que produzem na China.
Na avaliação do executivo, é necessário apresentar produtos diferenciados para competir com fabricantes de outros países. “Produtos muito baratos, como os de R$ 1,99 que temos por aqui, não entram no Catar. O consumidor não encara”, disse.
O executivo reconhece que o mercado internacional de brinquedos está “entupido” de fornecedores. “Para ganhar uma fatia é preciso deslocar algum concorrente e podemos conseguir isso com produtos diferenciados”, declarou. Ele acredita que tais brinquedos não precisam ser étnicos.
Segundo Costa, as experiências com brinquedos étnicos até agora foram mal sucedidas. “Na China não se consegue vender bem bonecas com os olhinhos puxados, assim como bonecas negras não foram muito compradas por famílias negras. O padrão que o consumidor quer é o ocidental, que ele vê na TV. Então os brinquedos étnicos acabam sendo mais uma estratégia de marketing do que de vendas efetivamente”, ressaltou.
Bonecas e jogos, não eletrônicos
A chave, para o executivo, é oferecer produtos "sofisticados", com “alto valor agregado”. Nessa linha, ele acredita que brinquedos brasileiros como bonecas e jogos (não eletrônicos) podem ter boas chances de aceitação entre os consumidores árabes.
“Nós temos bonecas ‘super fashion’, lindas, com vários acessórios e guarda-roupas temáticos diferentes. Além disso, temos bons jogos, alguns inclusive que detemos patentes exclusivas”, afirmou.
Esses produtos, segundo Costa, não precisam ter necessariamente grandes recursos tecnológicos até porque, sempre de acordo com ele, o Brasil não é um grande produtor de brinquedos eletrônicos.
Costa disse, no entanto, que só após uma análise mais detalhada do mercado árabe será possível dizer exatamente quais são os brinquedos mais adequados para exportação.
Déficit comercial
O Brasil ainda apresenta um déficit na balança comercial de brinquedos: enquanto a previsão de exportações para 2003 está em US$ 30 milhões, a de importações gira na casa dos US$ 35 milhões.
É um volume inferior, porém, ao que foi importado no ano passado (US$ 40,2 milhões) e em 2001 (US$ 50,2 milhões). Em 1996 o volume de importações chegou a US$ 95,2 milhões.
Costa diz que o setor sofreu com o que chamou de despejo de “milhões de dólares em lixo”, quando ocorreu a abertura do mercado brasileiro para produtos estrangeiros, no início dos anos 90, após décadas de barreiras às importações.
Mas, diz o executivo, a indústria “conseguiu sobreviver” e agora passa pela fase final de um programa de ajuste, que inclui salvaguardas acertadas junto ao governo.
Essa recuperação pode ser notada nos outros números do segmento. Em 1996, o Brasil exportou apenas US$ 8 milhões em brinquedos; em 2001, já foram US$ 24,1 milhões e, no ano passado, US$ 25 milhões.
O país tem hoje 318 fabricantes de brinquedos. Em 1996, eram 325, em 2001 o número subiu para 331 e permaneceu igual em 2002, mas agora caiu. No entanto, o faturamento do setor vem crescendo.
As receitas, que em 1996 estavam em R$ 753,7 milhões, subiram para R$ 921,2 milhões em 2001 e para R$ 967,5 milhões em 2002. A previsão para este ano é de um faturamento de mais de R$ 1 bilhão.
A indústria de brinquedos emprega hoje 26,3 mil pessoas, sendo que 19,5 mil são empregos diretos e 6,8 mil terceirizados. Em 1996, eram 11,024 trabalhadores.