Cláudia Abreu
São Paulo – A indústria brasileira de café solúvel Realcafé, do Espírito Santo, está exportando para a Síria. Em 2004 foram embarcados quatro contêineres do produto para um cliente no país árabe. Para este ano, a previsão da empresa é multiplicar esse número por seis. “A intenção é exportar três contêineres por mês a partir de maio”, afirma Bruno Giestas, gerente comercial da companhia.
As vendas para o Oriente Médio fazem parte da estratégia da empresa de abrir novos mercados. Os próximos embarques acontecerão ainda no primeiro semestre deste ano. A venda de três contêineres já foi acertada. A marca Realcafé, no entanto, não aparecerá. “Forneceremos o produto para uma indústria de café torrado e moído síria, que vai distribuí-lo na região como marca própria”, conta Giestas.
Esta é a segunda vez que a Realcafé investe no mercado árabe. O primeiro contato foi em 1995. Na época, a empresa chegou a embarcar 15 contêineres por mês para o Egito. O esquema era similar ao de agora, a companhia brasileira embalava o produto para a marca própria de uma grande empresa que tinha clientes na Rússia, na Europa e na Ásia. “O café saía do Brasil etiquetado, dentro de latinhas, pronto para o consumo”, diz Giestas.
Durante dois anos, os negócios foram de vento em popa, mas as crises russa e asiática impediram a continuidade das operações. “A importadora teve problemas financeiros e acabou com o setor de café solúvel”, afirma Giestas. De 1997 até o ano passado foram feitas algumas vendas, mas sem continuidade. “Fizemos remessas para a Argélia e outros países do norte da África”, conta.
Tecnologia
Segundo o executivo, a tecnologia para a fabricação de solúvel é muito mais complexa que a de torrefação. “São cerca de seis estágios a mais e o investimento em equipamento e mão-de-obra é vinte vezes maior”, afirma. Por esse motivo, indústrias torrefadoras preferem terceirizar a produção de café solúvel comprando de empresas como a Realcafé, que se especializou no produto.
Para exportar para a Síria, a Realcafé obteve a certificação halal (que respeita as regras islâmicas). O certificado abre caminhos para a entrada em outros países da região. No início deste ano, empresários iranianos vieram ao país para conhecer as instalações da companhia. “Eles também estão bem interessados no nosso produto”, afirma Giestas.
O objetivo da empresa é promover um aumento no consumo de café solúvel no Oriente Médio, assim como aconteceu no Japão e na Inglaterra, terras de exímios tomadores de chás. As companhias de café – solúvel e moído – entraram pesado nesses mercados e mudaram os hábitos dos consumidores. “O Japão, por exemplo, agora é um dos principais compradores de solúvel do mundo”, afirma Giestas.
A entrada no mercado árabe, no entanto, não é tão simples como na Europa e nos Estados Unidos e no sudeste asiático – os principais compradores da Realcafé. Um dos motivos é a concorrência com os africanos, que têm preços competitivos. “O café de lá é bem inferior ao brasileiro, mas eles conseguem entrar em mercados que não têm tradição no consumo”, afirma.
Outro problema diz respeito à documentação necessária para a venda do produto aos árabes. A papelada é diferente da exigida por Estados Unidos e Europa. “É uma nova rotina, mais trabalhosa, a qual temos de nos adequar”, afirma.
Tradição
O setor de solúvel tem crescido no mundo. As exportações do Brasil no ano passado foram de cerca de 3,1 milhões de sacas contra 2,8 milhões de 2003. Segundo Giestas, o crescimento do setor está alavancado na indústria que usa o produto como ingrediente de preparados como café com leite e capuccino.
A Realcafé está no mercado há 34 anos e é a quarta maior empresa do país na comercialização de café solúvel – atrás apenas de Nestlé, Cacique e Iguaçu. A produção mensal da companhia é de cerca de 900 toneladas. A empresa faz parte do grupo Tristão, que tem 70 anos, e é o maior exportador de café verde do Brasil.
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