São Paulo – No momento em que a indústria brasileira de calçados enfrenta forte concorrência chinesa, produzir e vender sapatos e chinelos para o mundo árabe se torna uma grande oportunidade. Os fabricantes estão preocupados com o aumento das importações dos produtos asiáticos, mas afirmam, na 43ª edição da Francal, feira do setor que ocorre esta semana, em São Paulo, que investem no mercado interno e se preparam para entrar em outros mercados, ou para aumentar a participação onde já atuam.
A Via Marte, por exemplo, deverá entrar no mercado do Oriente Médio. A empresa produz 7,5 milhões de calçados por ano e exporta 8% da produção. Os maiores compradores são os países da América Latina. Mesmo com o mercado interno aquecido, o gerente de exportações da empresa, Camilo Gehrke, afirma que vai colocar os calçados brasileiros no mundo árabe em breve. “Vender para os países árabes é importante porque eles têm dinheiro para comprar e são pouco afetados pelas crises econômicas. Lá também já existe a cultura de procurar o calçado brasileiro”, diz.
Gehrke avalia que Egito, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Líbano são os países com maior potencial para os produtos nacionais, mas diz que a precária infraestrutura brasileira, os altos impostos e o tempo que o calçado demora para chegar no país importador são desafios que precisam ser vencidos. Isso, contudo, não impede a empresa de exportar para o mundo árabe. “Vamos consolidar nossa posição na América Latina, onde já atuamos, e depois vamos entrar no Oriente Médio”, afirma.
Se a Via Marte se prepara para entrar neste mercado, a Piccadilly colhe os lucros de investir na região há 15 anos. Em 24 de junho, a empresa inaugurou sua 8ª loja no Kuwait. Além desta unidade, a Piccadilly vende calçados para o Bahrein, Catar, Omã, Arábia Saudita e Líbano. “Vendemos os produtos com a nossa marca, que agora está consolidada na região”, diz a diretora de exportação da companhia, Micheline Twigger. Ela observa, por exemplo, que, dos 17 mil calçados brasileiros vendidos para o Bahrein em 2010, 85% foram da Piccadilly. “Em outros países, tivemos representatividade de 30% a 40% sobre o total”, diz.
Micheline não revela o total vendido para a região. Mas dos oito milhões de pares produzidos por ano, 30% são exportados para 90 países. Destes, 10% vai para o Oriente Médio. “Nossas exportações para a região crescem ano a ano”, diz.
De acordo com dados da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), os maiores compradores de calçados brasileiros são os Estados Unidos. Em 2010, os norte-americanos compraram US$ 340,9 milhões em sapatos, sandálias e chinelos, entre outros itens. A Arábia Saudita é o país árabe que mais compra calçados do Brasil. Foram US$ 13,4 milhões em produtos do setor em 2010, um crescimento de 75% em relação a 2009. Os Emirados adquiriram, no ano passado, US$ 12,6 milhões, 6,5% a menos do que no ano anterior.
Mercado local
Além das oportunidades de exportar para o mundo árabe, a demanda interna também está aquecida. De acordo com o diretor executivo da Abicalçados, Heitor Klein, o mercado nacional cresce 10% ao ano, em média. Mas poderia crescer mais se a concorrência com a China fosse menor. O setor também poderia exportar mais se o câmbio fosse mais favorável.
Uma das principais reclamações dos fabricantes é que a China exporta para o Brasil mais calçados do que aqueles sujeitos às tarifas antidumping. Estes produtos têm preços menores do que os nacionais, o que afeta a produtividade do setor. De acordo com a Abicalçados, a produção nos primeiros quatro meses deste ano já foi afetada por causa desta concorrência.
Segundo a Abicalçados, o governo brasileiro investiga essa prática. O País poderá bloquear a entrada de calçados da Indonésia, Malásia e Hong Kong que são, na verdade, chineses. Como a China tem um limite para exportar, coloca seus produtos no Brasil repatriados por outros países. “Se isso não for aplicado e o dólar ficar deste jeito [desfavorável às exportações], teremos um declínio da produção e dispensa de funcionários. Para algumas empresas, só restará produzir no exterior. Alguns já fazem isso”, afirma Klein.