São Paulo – Como a inovação e a tecnologia estão transformando o mercado halal foi o tema do primeiro painel do Global Halal Brazil Business Fórum 2025 (GHB). Ali Hussein El Zoghbi, vice-presidente da Fambras Halal Certificadora, que fez a mediação da mesa, abriu a discussão lembrando que há muito o halal deixou de ser um segmento apenas religioso para se tornar um dos motores mais dinâmicos da economia global de alimentos, gerando US$ 1,434 trilhões em 2023 e podendo chegar a US$ 1,939 trilhões em 2028, crescimento estimado de 35%.
O avanço, disse Zoghbi, não é apenas quantitativo, mas também qualitativo. Isso se deve a dois fatores principais: ao uso de tecnologia e a um consumidor cada vez mais exigente com o que compra. Para falar sobre o uso aplicado de tecnologia na cadeia de proteínas halal brasileira, o mediador convidou Flávio Redi, diretor executivo da EcoHalal do Brasil, que contou um pouco dos processos usados na certificação.

“O certificado halal, hoje, é 100% digital, tanto da carne bovina como de frangos. Ela sai com QR Code que pode ser lido pelo consumidor na ponta final e que dá toda a transparência da parte produtiva”, explicou Redi. Segundo ele, a tecnologia blockchain, originada nas criptomoedas, foi a escolhida para dar a transparência necessária.
Dentro das indústrias frigoríficas, há o que ele chama de “indústria 4.0”, com uso de câmeras em todas as operações e algoritmos que gerenciam a produção. “Agora, a evolução do projeto caminha para a garantia de origem: de onde veio aquela proteína e se ela atende aos protocolos ESG, que é toda essa parte do compliance socioambiental”, disse o especialista.
Celso Moretti, presidente do Integrated Partnership Board (board de governança do CGIAR) – Rede internacional de centros de pesquisa agrícola, falou sobre a contribuição da biotecnologia neste mercado, com as chamadas proteínas vegetais feitas a partir de células cultivadas ou pela atuação de enzimas, e o que precisaria ser feito nesse sentido para adaptar essas carnes cultivadas (de origem não animal) ao mercado halal.
Moretti falou ainda do uso dos preceitos de agricultura sustentável e de precisão dentro do contexto halal, aliados ao que há de mais moderno em termos de tecnologia, como a Internet das Coisas, o blockchain e a tockenização, que está começando a ser usada na cadeia agrícola. “Lembrando que a produção mais sustentável de alimentos não passa apenas pela tecnologia, mas também por uma maior coordenação dos certificadores halal, para que haja uma governança de dados”, finalizou.
Mais carne, menos emissões de gases
O pesquisador da unidade de Caprinos e Ovinos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Fernando Henrique Albuquerque, trouxe o que vem sendo feito dentro de sua área de atuação para colocar animais como cabras e ovelhas como possibilidades dentro do mercado halal. Ele destacou desde os ingredientes que estão presentes na alimentação desses animais, e que devem ser avaliados nas certificações, até outros trabalhos que vêm sendo feitos pela Embrapa para ajudar a mitigar os efeitos das mudanças climáticas.
“Ações lavoura-pecuária-floresta, que levam em conta as questões da sustentabilidade, junto das questões do bem-estar animal, associado a trabalhos com dietas mitigadores de gases para efeito estufa, especialmente nas áreas de confinamento de ovinos, e dietas para ter melhores produções por área são algumas iniciativas da Embrapa que ajudam no processo de rastreabilidade”, disse Albuquerque.
O último a falar, Fernando Sampaio, diretor de Sustentabilidade na Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC), destacou a relevância que o mercado islâmico tem para o setor de exportação de carnes brasileiro. Falou dos desafios que ainda existem, como o gap entre grandes e pequenos produtores, que sofrem com a falta de investimento e não usufruem dos avanços tecnológicos, e os problemas que ainda perduram na rastreabilidade de um mercado tão grande como o da agropecuária brasileira.
Sampaio reforçou a importância de pensar em como unir segurança alimentar e crise climática com uma agropecuária que seja cada vez mais de baixo carbono e destacou iniciativas do governo brasileiro nesse sentido, em virtude da Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (COP30), que será realizada em novembro, em Belém. Uma delas é o Tropical Forest Forever Facility (TFFF), fundo que será operacionalizado pelo Banco Mundial e que irá remunerar quem está ajudando a conservar florestas.
“O outro é o Caminho Verde Brasil, do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), programa que tem como objetivo recuperar 40 milhões de hectares de áreas de pastagem degradadas, propondo a agropecuária regenerativa, e que é aberto a investidores privados. São dois caminhos para uma agropecuária mais sustentável”, finalizou Sampaio.
Ali Hussein El Zoghbi fechou o painel afirmando que o halal do futuro já está sendo construído. “E que esse painel inspire a continuar integrando conhecimento, fé, tradição e modernidade, para que o selo halal seja não apenas conformidade, mas excelência e, principalmente, humanidade.”
O fórum é promovido pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira e a Fambras Halal Certificadora. O GHB tem como patrocinadores MBRF (Marfrig – BRF), MODON (Saudi Authority for Industrial Cities and Technology Zones), Seara, CaraPreta Carnes Nobres, EcoHalal, Emirates, Grupo MHE9, Laila Travel e Prime Company, SGS, com catering da Água Mineral Frescca e Pão & Arte Frozen Bread.
São parceiros estratégicos Islamic Chamber of Commerce and Development (ICCD) e Islamic Chamber Halal Services (ICHS). Também há apoio institucional da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC), Brazilian Beef, Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Brazilian Chicken, International Halal Academy e União das Câmaras Árabes (UAC).
*Reportagem de Débora Rubin, em colaboração com a ANBA


