Alexandre Rocha
São Paulo – O Brasil importou o equivalente a US$ 49,457 bilhões desde janeiro até a quarta semana de outubro. O valor já é maior do que o total importado no ano passado, que foi de US$ 48,285 bilhões, e representa um aumento de 26,9% em relação ao mesmo período de 2003, quando as compras externas somaram US$ 38,965 bilhões. Já na comparação dos primeiros dez meses de 2002 com o apurado entre janeiro e outubro de 2003, as importações se mantiveram praticamente estáveis.
Longe de ser uma má notícia, de acordo com especialistas consultados pela ANBA, esse crescimento demonstra o aquecimento da atividade econômica no país, uma vez que as empresas estão importando mais para produzir mais. De acordo com informações do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), do total importado pelo Brasil entre janeiro e setembro, as matérias-primas e produtos intermediários responderam por 53,8% e os bens de capital por 19,3%.
"Quando se fala em importações, muitas vezes as reações são negativas, logo se pensa em mercadorias supérfluas. Mas não é nada disso, os produtos importados em grandes quantidades pelo Brasil são necessários para a produção industrial e agrícola", disse Joseph Tutundjian, especialista em comércio exterior e ex-presidente da Cotia Trading, uma das maiores do país. "O aumento dessas compras indica o reaquecimento da economia", acrescentou.
Embora o Brasil tenha necessidade de gerar saldos em sua balança comercial, o aumento das importações não chega a preocupar, já que as exportações crescem num ritmo mais acelerado. Até a quarta semana de outubro, o país exportou o equivalente a US$ 76,933 bilhões, ou 30,5% a mais do que no mesmo período de 2003. O valor também já é superior ao registrado em todo o ano passado.
Tanto isso é verdade que o saldo da balança comercial aumentou de US$ 19,956 bilhões entre janeiro e a quarta semana de outubro de 2003 para US$ 27,476 bilhões no mesmo período deste ano.
"Isso é positivo, porque as importações crescem junto com a produção nacional e com as exportações. Não é bom quando as importações aumentam sem que o resto cresça, mas quando elas acompanhan os outros indicadores é sinal de que a economia está caminhando", disse Julio Sérgio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi.
Contas externas
O Brasil tem a necessidade de gerar superávits comerciais porque o dinheiro que entra no país precisa compensar o que sai. Após descontar o pagamento de juros da dívida externa, as remessas de lucros e dividendos das empresas multinacionais e as remessas feitas por brasileiros ao exterior, é preciso computar o que os brasileiros e empresas nacionais no exterior mandam para o país, o faturamento com as exportações e os investimentos estrangeiros diretos.
Como os investimentos diretos têm diminuído nos últimos anos, Tutundjian calcula que o país tem a necessidade de gerar superávits comerciais entre US$ 20 bilhões e US$ 25 bilhões para equilibrar suas contas. Mas isso nem de longe implica em tentar inibir as importações – uma vez que o governo prevê que o saldo da balança comercial vai chegar a US$ 30 bilhões até o final do ano -, mas exportar mais e manter um certo equilíbrio. "Na medida em que o país exporta mais, ele também importa mais", disse Tutundjian.
Almeida lembrou que o comércio exterior é uma via de duas mãos e o aumento das importações verificado este ano é bom também porque em 2003 elas cresceram pouco. "E isso começou a criar problemas com os parceiros comerciais do Brasil, já que o país exportou muito, mas não importou tanto", disse. "Agora as relações com os principais parceiros está mais equilibrada", acrescentou.
Mas além dos insumos e bens de capital, contribui também para o crescimento do valor das compras brasileiras o aumento do preço do petróleo no mercado internacional. Tutundjian diz que 20% da demanda do país é suprida pela commodity importada. Almeida disse que o petróleo respondeu por US$ 2 bilhões do total que o Brasil importou a mais este ano. No entanto, ele lembra que as compras externas aumentaram em mais de US$ 10 bilhões.
Consumo
A importação de bens de consumo ainda representa pouco nos indicadores, ou 11%. Almeida acredita, porém, que isso deve começar a mudar a partir do próximo ano com o aumento da renda da população, resultado da retomada da atividade econômica. "Isso também é importante porque é preciso dar alternativas ao consumidor", afirmou.
Tutundjian, no entanto, não acredita num aumento expressivo nas importações de bens de consumo no futuro próximo. Isso porque, apesar de ter se valorizado este ano, o real ainda está bastante desvalorizado frente ao dólar, na base de três para um, situação que, acredita-se, deve perdurar.

