São Paulo – Executivos do frigorífico Minerva e da Saudi Agricultural and Livestock Investment Co. (Salic, na sigla em inglês) informaram nesta sexta-feira (29) que o acordo assinado entre as duas empresas no fim de 2015 tem como foco principal ampliar a distribuição de alimentos na Arábia Saudita e no Golfo e garantir a segurança alimentar na região.
A Salic investiu R$ 746,5 milhões na Minerva em dezembro do ano passado, o que lhe garantiu 19,95% do capital da empresa brasileira com sede em Barretos, no interior de São Paulo. Os executivos conversaram nesta sexta-feira com um pequeno grupo de jornalistas na capital paulista para dar mais detalhes do acordo. A ANBA participou do encontro.
O CEO da Salic, Abdullah Aldubaikhi, afirmou que a companhia tem o objetivo de atuar na garantia da segurança alimentar da Arábia Saudita e dos países do Golfo, mas ele acrescentou que o Brasil é um grande produtor internacional de commodities e, nesse sentido, um destino de investimentos em potencial.
A empresa já tem presença em negócios de produção de grãos na Ucrânia e no Canadá, e na produção de açúcar na Índia. “Esses investimentos são uma forma de diversificação [dos negócios], mas também uma oportunidade de minimizar riscos para o nosso país. Agora estamos também no Brasil”, declarou Aldubaikhi.
Os executivos da Minerva e da Salic afirmaram também que têm planos de desenvolver mais o mercado de distribuição saudita. No entanto, eles não deram detalhes de quais serão os passos futuros desta parceria devido a confidencialidades. Mesmo assim, Mohamed Abdulaziz AlSarhan, que integra o corpo de diretores da Salic, afirmou que a distribuição saudita precisa evoluir. “Ainda é um pouco subdesenvolvida e a Minerva pode ser um modelo para aperfeiçoá-la”, afirmou.
A Salic é a parte do Fundo Público de Investimentos do Reino da Arábia Saudita (PIF) dedicada a investimentos em agricultura. O fundo tem aproximadamente US$ 2 trilhões para investimentos em diversos setores.
O presidente da Minerva, Fernando Galletti de Queiroz, afirmou que as atividades e os interesses da Salic e da Minerva são complementares. “Vemos habilidades e conhecimento que são complementares. Esperamos ir além da cadeia de produção em uma parte do mundo. E o que esperamos é que as duas partes fiquem mais fortes. Um dos caminhos é por meio da distribuição na Arábia Saudita”, disse.
Aposta no Brasil
Aldubaikhi afirmou que a Salic avaliou a possibilidade de investir em outras empresas processadoras de carne do Brasil, mas optou por negociar e concretizar o acordo com a Minerva devido a sua governança, desempenho, pela sua presença no Oriente Médio – seu maior mercado externo – e porque a empresa tem um grande conhecimento do mercado halal, de produtos preparados de acordo com diretrizes islâmicas.
O CEO da Salic afirmou também que as atuais crises política e econômica que o Brasil enfrenta não mudam seus planos para a parceria com a Minerva. “Não olhamos para o curto prazo. Olhamos para o longo prazo”, disse.
AlSarhan afirmou que a empresa “acompanha” a crise, mas disse que o Brasil é mais forte do que ela. “Não olhamos só para o imediato. Se, por exemplo, as ações da Minerva de repente subirem muito, nós não iremos vendê-las e então sair do negócio. Não é isso. O Brasil é grande, é um ator internacional, e problemas políticos acontecem. Se olharmos no longo prazo, os prognósticos são positivos”, afirmou.
Queiroz e o diretor Financeiro da Minerva, Edison Ticle, afirmaram que quando o negócio começou a ser discutido, em junho de 2014, a situação brasileira não era crítica como hoje, mas de lá para cá a negociação não deixou de ser realizada por causa do agravamento da crise.
Os executivos afirmaram também que a retomada da importação de carne brasileira pela Arábia Saudita é uma oportunidade de explorar mais aquele mercado. No ano passado, os sauditas suspenderam um embargo ao produto que já durava três anos. Ticle e Queiroz afirmaram que o mercado saudita está em crescimento e há o potencial de ampliar a quantidade de carne consumida por pessoa.
O CEO da Salic observou ainda que, com a ausência do produto brasileiro no mercado saudita, eles o substituíram por fornecedores da Austrália e Nova Zelândia, que oferecem um produto de excelente qualidade, porém, caro.