São Paulo – O investimento estrangeiro direto (IED) interrompeu a recuperação iniciada em 2010 e caiu 18% no mundo em 2012 na comparação com o ano anterior. É o que revela o “Relatório de Investimento Mundial 2013 – Cadeias de valor globais: Investimento e comércio para o desenvolvimento” divulgado pela Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad) nesta quarta-feira (26). O levantamento confirmou as previsões feitas anteriormente pela Unctad e revelou que 2012 foi a primeira vez na história em que os países em desenvolvimento receberam mais IED do que os desenvolvidos.
No ano passado, o IED global somou US$ 1,35 trilhão. Desse total, 52% foram para os países emergentes, 42% para os desenvolvidos e 6% para as “economias em transição”, caso da Rússia. A previsão para 2013 é que o IED global chegue a US$ 1,45 trilhão. Ele ainda deve crescer para US$ 1,6 trilhão em 2014 e US$ 1,8 trilhão em 2015, mas a Unctad alerta: “Riscos significantes para este cenário de crescimento permanecem”. O estudo atribui este desempenho à fraqueza da economia e prevê que a recuperação dos investimentos será “mais longa do que o esperado”.
Presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e Globalização Econômica (Sobeet), Luís Afonso Lima atribuiu a queda do IED de 2012 à crise, mas também observou que os emergentes passaram a ser receptores de recursos e a fazer investimentos.
“A Europa cada vez menos é destino de investimentos. Os países emergentes, por sua vez, não apenas passaram a receber mais recursos do que os desenvolvidos como também mais que dobraram sua participação como investidores desde que este levantamento começou a ser feito (em 2000)”, afirmou. No ano passado, os emergentes fizeram 35% dos investimentos.
A China subiu de 6º lugar no ranking dos maiores investidores em 2011 para o 3º lugar em 2012, atrás apenas de Estados Unidos e Japão. No ano passado, o IED feito pela China somou US$ 84 bilhões. Hong Kong investiu outros US$ 84 bilhões e a Rússia investiu US$ 51 bilhões. Ilhas Virgens, México, Cingapura e Chile são outros dos emergentes que figuram entre os 20 maiores investidores globais.
O Brasil, porém, ficou de fora do ranking dos maiores investidores globais. De acordo com a avaliação da Sobeet, os investimentos brasileiros não crescem há quatro anos e, no ano passado, caíram US$ 3 bilhões em relação a 2011. Isso se deve, segundo Lima, ao fato de que há grande demanda interna que faz as empresas brasileiras investirem no País e não no exterior.
“Há também barreiras internas e externas. Entre as internas, falta uma política de ausência de bitributação (uma empresa brasileira que lucra no exterior precisa pagar impostos sobre o lucro lá e aqui, o que onera seus ganhos) e de acordos que incentivem o investimento externo. Entre as barreiras externas, está a alta competitividade dos mercados internacionais. Mas é preciso ir para o exterior para enfrentar esta competitividade”, afirmou Lima.
O Brasil também foi o único país da América do Sul que recebeu menos investimentos em 2012 do que em 2011. A queda foi de 2%. O país recebeu em 2012 US$ 65,3 bilhões e, em 2011, US$ 66,7 bilhões. Mesmo tendo recebido menos IED, o País ultrapassou a Bélgica como destino de investimentos e passou a ocupar o 4º lugar no ranking geral de investimentos, atrás dos Estados Unidos, China e Hong Kong. O ranking dos maiores destinos de IED em 2012 é completado por Ilhas Virgens, Reino Unido, Austrália, Cingapura, Rússia e Canadá.
Em 2012, a América do Sul recebeu US$ 144 bilhões em IED. No Chile, o crescimento foi de 30%; na Argentina, de 27%; na Colômbia, de 18%; e, no Peru, alta de 49% em comparação com os investimentos recebidos em 2011. Segundo o estudo, o fluxo de IED aos países da América do Sul cresceu porque há um grande e rápido crescimento da classe média e porque a região é rica em recursos naturais, como minério, petróleo e gás.
Diferenças árabes
Entre as nações do Oriente Médio, houve queda de entrada de IED pelo quarto ano seguido. A região recebeu US$ 47 bilhões, 4% a menos do que em 2011. As maiores quedas de entrada de IED ocorreram na Arábia Saudita, que recebeu US$ 12,2 bilhões, ou 25% a menos do que em 2011, e na Turquia, onde houve queda de 23% de IED, que somou US$ 12,2 bilhões. Estes dois países receberam 52% de todo o IED que foi para a região.
A soma destinada às outras nações do Oriente Médio cresceu. A alta no IED aos Emirados Árabes Unidos foi de 25% e o total recebido pelo país somou US$ 9,6 bilhões. O Kuwait recebeu US$ 1,9 bilhão, mais do que o dobro de 2011. A entrada de IED cresceu também no Bahrein, Omã e Catar.
O total de IED para a África cresceu 5% em 2012 na comparação com 2011 e chegou a US$ 50 bilhões. Para o Norte da África o fluxo de IED aumentou 35% e chegou a US$ 11,2 bilhões no ano passado. “Grande parte deste crescimento foi explicada por uma reviravolta no Egito, onde o fluxo (IED) saltou de um desinvestimento de US$ 500 milhões em 2011 para um investimento total de US$ 2,8 bilhões em 2012”, diz o estudo.


