São Paulo – Os países da América Latina receberam, em 2013, US$ 184,9 bilhões em Investimento Estrangeiro Direto (IED), de acordo com o relatório “Investimento estrangeiro direto na América Latina e o Caribe em 2013”, divulgado nesta quinta-feira (29) em Santiago, no Chile, pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal). De acordo com o documento, o volume de investimentos na região cresceu 5% na comparação com 2012.
O levantamento da Cepal indica que o Brasil foi o país que recebeu a maior quantidade de investimentos entre os latino-americanos. Sozinho, o País recebeu 35% do IED na região em 2013, o equivalente a US$ 64 bilhões, 2% a menos do que em 2012.
O México foi o segundo maior destino dos recursos, com US$ 38,2 bilhões. O volume de IED neste caso dobrou em 2013 devido à compra da cervejaria mexicana Modelo pela norte-americana Anheuser-Busch, que é controlada pela belgo-brasileira Ab-Inbev.
O IED no Chile somou US$ 20,2 bilhões, com queda de 29%. A Argentina teve redução de 25% no IED e recebeu US$ 9 bilhões. O Peru recebeu US$ 10,1 bilhões, queda de 17%.
Cresceram, no entanto, os fluxos de investimento para o Suriname, 86%, para US$ 112 milhões; Panamá, 61%, para US$ 4,6 bilhões; e Bolívia, 35%, para US$ 2 bilhões. Na Colômbia, os investimentos chegaram a US$ 16,7 bilhões, com alta de 8% sobre 2012. Por setores, indica o documento, as maiores altas foram observadas no setor de serviços, com expansão de 38%, manufatura (36%) e recursos naturais (26%).
A secretária-executiva da Cepal, Alicia Bárcena, afirmou que o investimento estrangeiro ainda está mais concentrado nas mãos de poucos países, donos das maiores economias da região, mas observou que o fluxo de dinheiro estrangeiro é mais importante para as menores economias.
Ela disse também que a previsão da Cepal é de queda no fluxo de IED à região neste ano. Segundo Bárcena, o IED pode variar entre uma expansão de 1% até uma retração de 9% em 2014. “É um ano em que haverá decisões dos investidores e que poderá mudar os setores em que se pode investir mais. Será um ano de muitas decisões”, disse.
O Chile, por exemplo, está atraindo o interesse de empresas de energia solar, que segundo a líder da Cepal encontram no país um bom ambiente de negócios. Além disso, o documento indica que o deserto do Atacama recebe os mais elevados índices de radiação solar.
O documento da Cepal mostra que a União Europeia foi a região que mais investiu na América Latina e, entre os países da UE, Holanda e Bélgica. Por países, os Estados Unidos foram os maiores investidores na região. Bárcena afirmou que a China faz investimentos constantes na região, de aproximadamente US$ 10 bilhões por ano.
A secretária executiva da Cepal observou que nos últimos anos cresceram na América Latina os investimentos das indústrias de automóveis, especialmente no Brasil. Empresas multinacionais anunciaram novas fábricas no País para os próximos anos. “O Brasil está vivendo uma nova onda de investimentos automotores, com a chegada de novas empresas, algumas delas são chinesas”, disse.
Segundo ela, a Cepal acredita que os investimentos nos próximos anos deverão se concentrar nas indústrias extrativista e de transformação, devido à grande quantidade de recursos naturais da região. Bárcena observou, contudo, que os estrangeiros querem também fazer investimentos relacionados à economia sustentável.
Crescimento das translatinas
O levantamento da Cepal observa também que a participação das empresas “translatinas”, as transnacionais da região, assim como de outros países emergentes, está crescendo. “Há apenas dez anos, a maioria das transnacionais do mundo tinha origens nos países desenvolvidos, mas a partir de 2003 vemos diferenças. China, Rússia, Brasil, Chile e Malásia têm tido papel muito mais importante a partir de 2003. Nesta década os investimentos estrangeiros delas aumentaram muito. Foram de quase US$ 400 bilhões chegaram a cerca de 35% do total mundial”, afirmou Bárcena.
Na avaliação da instituição, a presença de transnacionais brasileiras em outros países é mais forte do que a das de outras nações latino-americanas, pois há no Brasil incentivos para que as empresas invistam no exterior. O secretário-executivo adjunto da Cepal, Antonio Prado, citou a ação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que concede crédito para investimentos externos.
“O Brasil tem interesse de entrar entre os ‘global players’ e o incentivo é o BNDES. O banco tem várias formas de fazer isso, como financiar exportações e serviços, o que é típico com as construtoras que participam de licitações internacionais, assim como há os empréstimos diretos e a participação no capital das empresas, como acontece em setores como os de carnes e celulose”, afirmou.
Bárcena observou ainda que o setor público e as companhias locais ainda são as principais geradoras de empregos na América Latina. No entanto, ela acrescentou que as transnacionais têm maior produtividade e garantem remuneração melhor.


