São Paulo – O fluxo mundial de investimentos estrangeiros diretos (IED) deverá ultrapassar o valor de US$ 1,2 trilhão este ano, de acordo com estimativa do Relatório Mundial de Investimentos, publicação anual divulgada nesta quinta-feira (22) pela Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad). A previsão mostra retomada do crescimento após quedas consecutivas em 2008 e 2009.
O pico na movimentação internacional de IED ocorreu em 2007, quando ela chegou a US$ 2,1 trilhões. Nos dois anos seguintes, porém, a crise financeira freou o fluxo, com uma retomada modesta ocorrendo somente no primeiro semestre de 2010, segundo a Unctad. Na avaliação da agência da ONU, o processo de retomada “parece” estar se consolidando.
Para 2011, a previsão da entidade é de uma movimentação entre US$ 1,3 trilhão e US$ 1,5 trilhão. Já a estimativa para 2012 varia de US$ 1,6 trilhão a US$ 2 trilhões, ainda assim abaixo do recorde de 2007. O relatório ressalta, no entanto, que essas previsões “estão cheias de riscos e incertezas, incluindo a fragilidade da recuperação da economia global”.
No relatório, a Unctad indica algumas mudanças no comportamento dos fluxos mundiais de investimentos que devem se tornar cada vez mais perceptíveis. Entre elas está a continuidade do aumento da importância dos países em desenvolvimento como origem e destino de IED; a retração dos investimentos na indústria de transformação em comparação aos aportes no ramo de serviços e no setor primário; e continuação da internacionalização da produção.
Nesse sentido, o estudo destaca que, apesar dos Estados Unidos terem permanecido como maior destino de IED em 2009, a China ficou em segundo e, entre os seis maiores receptores, três são países emergentes ou economias em transição (ex-integrantes do Bloco Soviético).
A Unctad diz ainda que as empresas multinacionais de nações em desenvolvimento estão mais otimistas do que as de países desenvolvidos e esperam uma retomada mais rápida de seus investimentos. O relatório descreve os BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China) como “estrelas” na atração de IED. O relatório informa que o retorno do crescimento do fluxo deve ocorrer especialmente por meio de fusões e aquisições de empresas.
Oriente Médio e África
Na seara regional, o relatório mostra que os investimentos na Ásia Ocidental, que inclui o Oriente Médio, caíram 24% em 2009 e ficaram em US$ 68 bilhões. A redução, ocorrida após seis anos consecutivos de crescimento, foi causada pela falta de crédito no mercado internacional, que afetou as fusões e aquisições e os projetos de desenvolvimento em andamento na região.
Os únicos países que receberam mais dinheiro estrangeiro no ano passado, em comparação ao anterior, foram o Catar e o Líbano. O primeiro recebeu US$ 9 bilhões em IED, um aumento de 112% em relação a 2009. O maior atrativo foi o setor de gás natural liquefeito (GNL), muito forte no país e que sofreu menos na crise do que a indústria petrolífera.
No Líbano, de acordo com a Unctad, houve um avanço de 11% e o país encerrou o ano passado com US$ 5 bilhões em IED. Os negócios, segundo o relatório, foram impulsionados pelo ramo imobiliário.
Na outra ponta, os países mais afetados da região foram os Emirados Árabes Unidos, que sofreu uma crise interna com a moratória do conglomerado Dubai World, e a Turquia. A Arábia Saudita, embora tenha recebido menos dinheiro, permaneceu como maior receptora de IED do Oriente Médio.
Os principais emissores de IED em 2009 foram o Kuwait e Arábia Saudita. Os Emirados, que ocupavam o primeiro lugar, caíram para terceiro. A Unctad espera a recuperação dos fluxos este ano.
Na África, a entrada de IED caiu 19% no ano passado e ficou em US$ 59 bilhões. De acordo com o relatório, a redução foi pequena em comparação com o que ocorreu em outras regiões. A queda foi causada pela diminuição da demanda e dos preços das commodities produzidas no continente.
O setor de serviços, liderado pelas telecomunicações, foi o que mais atraiu investimentos na África e o que mais teve operações de fusão e aquisição. O país que mais recebeu recursos foi Angola (US$ 13 bilhões), seguido do Egito (US$ 7 bilhões), Nigéria e África do Sul (US$ 6 bilhões cada), Sudão, Argélia e Líbia (US$ 3 bilhões cada) e Congo, Tunísia e Gana (US$ 2 bilhões cada).
Para a Unctad, o fluxo de dinheiro estrangeiro ao continente vai se recuperar gradualmente com a melhora das condições da economia mundial e a retomada dos preços das commodities, o que é esperado.
América Latina
Já na América Latina e no Caribe, os investimentos estrangeiros diretos somaram US$ 117 bilhões no ano passado, uma redução de 36% em comparação ao ano anterior. O Brasil, apesar de ter recebido 42% menos recursos, permaneceu como principal destino de IED na região.
A Unctad informa, no entanto, que o fluxo dinheiro está melhorando este ano, uma vez que a região mostra um ritmo de recuperação econômica “relativamente rápido”. No primeiro trimestre de 2010, por exemplo, houve um crescimento de 20% na entrada de IED em comparação com o mesmo período de 2009.
O Brasil e o México deverão permanecer como “destinos populares de investimentos”, de acordo com pesquisa feita pela Unctad junto aos investidores, e o Brasil deverá voltar também a ser emissor de investimentos diretos, já que houve uma retração forte nesse quesito em 2009.

