São Paulo – O Iraque, que já foi considerado o “celeiro do Oriente Médio”, deverá importar este ano o equivalente a 80% do trigo que consome. O custo será superior a US$ 1,4 bilhão, de acordo com reportagem publicada esta semana no jornal The National, de Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos.
Com mais de 28 milhões de habitantes, o país produz apenas uma pequena parcela de suas necessidades alimentares e gasta bilhões de dólares ao ano em importações de produtos agropecuários de seus vizinhos Irã, Turquia e Síria. Nesse cenário, segundo a reportagem, o governo e investidores privados estão dando início a um processo de reconstrução, com o objetivo de transformar o Iraque em um grande produtor agrícola.
A região mais importante nesse processo é o Curdistão Iraquiano, situada no norte do país. Em janeiro deste ano, o governo local anunciou um plano de expansão agrícola que prevê investimentos de US$ 10,5 bilhões nos próximos cinco anos.
“A agricultura é a espinha dorsal de nossa economia”, disse o primeiro-ministro do governo regional do Curdistão, Nechirvan Barzani. Para ele, “este é um ano de reabilitação para o setor agrícola”.
Uma das metas é produzir 400 milhões de litros de leite ao ano, o dobro do volume atual. Para tanto, 30 laticínios deverão ser construídos e os produtores receberão US$ 100 milhões ao ano em micro empréstimos.
A agricultura na região do Curdistão “poderá ser uma grande fonte de capital na próxima década”, de acordo com o diretor da faculdade de administração da Universidade Franco-Libanesa em Erbil, capital da região, Riad al Khouri. “A quantidade de recursos sub-utilizados é enorme”, afirmou. “Caso haja um empurrão do governo e de outros setores, as perspectivas são fantásticas”, acrescentou.
Funcionários do governo iraquiano vêm recebendo delegações de investidores dos Estados Unidos, Itália, Espanha e outros países, desde que a estratégia de expansão agrícola foi anunciada. Até o momento, os negócios estão sendo fechados lentamente, mas a previsão de consultores econômicos é de que o investimento em agricultura cresça muito nos próximos anos, segundo o The National.
O grupo investidor Marshall Fund, dos Estados Unidos, foi o primeiro a chegar, com investimento de US$ 6 milhões na usina Harir, no Curdistão, que produz molho de tomate e processa frutas. Atualmente, o Iraque importa US$ 100 milhões em pasta de tomate ao ano.
O investimento já está surtindo efeito na economia de outras regiões além do Curdistão. De acordo com Dan Rice, sócio do Marshall Fund, fazendeiros em Karbala, mais ao sul, estão procurando a fábrica Harir para vender tomates. Durante anos, esses fazendeiros não tinham opção senão deixar o excedente apodrecer nos pomares. “Eles querem plantar”, disse Rice. “O alcance de nossa rede de fornecedores está crescendo rapidamente”.
Em seguida, o Marshall Fund pretende investir no setor de laticínios, cuja produção hoje atende a apenas 10% da demanda do país, de acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).
Até o momento, o Marshall Fund é em sua maioria formado por investidores norte-americanos, mas Rice acredita que no futuro, “a maior parte do capital injetado no Iraque deverá vir do Oriente Médio”.
*Tradução de Gabriel Pomerancblum

