Alexandre Rocha
São Paulo – A Cooperativa Central dos Produtores Rurais de Minas Gerais, mais conhecida como Itambé, venceu uma licitação do programa de combate à fome da Organização das Nações Unidas (World Food Programme) para vender 2,3 mil toneladas de leite em pó para o Iraque, em sacos aluminizados de 500 gramas, um negócio de quase US$ 5 milhões, segundo o vice-presidente comercial da empresa, Jacques Gontijo. A concorrência foi realizada em setembro e agora a Itambé está promovendo as últimas remessas do produto para o país árabe, ocupado por topas norte-americanas e britânicas.
Gontijo disse que a cooperativa já havia participado de duas outras licitações semelhantes, sem sucesso. "Mas então houve uma alta no mercado internacional do leite e nossos preços ficaram competitivos", afirmou. Segundo ele, tradicionalmente é a União Européia quem fornece o produto que é doado à população local, só que recentemente houve uma queda nos subsídios concedidos pelos governos europeus aos seus produtores.
"O interessante é que os recursos vêm da União Européia, trata-se de uma doação deles", ressaltou. As embalagens têm, inclusive, o logotipo da UE.
Após o Iraque, agora a Itambé está participando também de uma licitação para fornecer leite em pó para a Palestina, cujo resultado será conhecido logo.
Foi a primeira vez que a empresa vendeu produtos para o Iraque, mas não para os países árabes. De acordo com Gontijo, a cooperativa exporta leite condensado a granel para o Kuwait, que é comercializado por uma rede de supermercados local, a Ali Rachid e Sons, que tem uma marca própria.
O volume de vendas para o país do Golfo Pérsico (também conhecido como Golfo Arábico), porém, não é grande. Cerca de 40 toneladas por mês, segundo Gontijo, o que equivale a US$ 40 mil. O volume de exportações da empresa como um todo também não é grande, responde por 2% a 3% do faturamento, que este ano deverá ser de R$ 1 bilhão.
Leite no Brasil
Apesar de ser um grande produtor de leite, o Brasil não é um grande exportador do produto e seus derivados. Aliás, importa mais do que vende. Segundo dados do Informe Econômico do Leite, publicado em abril pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e pela Embrapa, o país é o quinto maior produtor mundial de leite, e deverá finalizar este ano com uma produção de 21,3 bilhões de litros.
No tocante ao comércio exterior, de acordo com a mesma publicação, o país importou em 2002 o equivalente a US$ 247 milhões em leite e derivados, ao passo que exportou US$ 40,2 milhões. "O consumo interno é muito grande e os produtos importados são baratos", afirmou Gontijo. "O Brasil ainda é iniciante no mercado internacional de produtos lácteos", acrescentou.
Ele disse, porém, que este desequilíbrio na balança comercial vem diminuindo nos últimos anos. Segundo o executivo, as importações brasileiras giravam em torno de US$ 400 milhões há quatro anos. Gontijo credita essa queda nas compras externas do país principalmente a procedimentos de defesa comercial adotados pelo governo, que instituiu uma taxa de 30% sobre os produtos europeus e estabeleceu valores mínimos às mercadorias provenientes da Argentina.
Com base nesse novo cenário, ele acredita que no prazo de dois ou três anos essa corrente deverá se equilibrar e até apresentar um saldo favorável ao Brasil.
Metas
No tocante à Itambé, Gontijo disse que empresa já está tomando providências para aumentar suas exportações para um patamar de 15% a 20% de seu faturamento em três anos. Uma dessas iniciativas foi a criação da Serlac, trading especializada em produtos lácteos, fundada há pouco mais de um ano pela Itambé e outras quatro empresas do setor.
Ele citou também a prospecção de mercados na África e nos países árabes, como os de Angola, Nigéria, Líbia e da Arábia Saudita. "Os árabes são grandes compradores desses produtos", afirmou. Além disso, a companhia está ampliando sua capacidade de produção de leite condensado. "No leite condensado nós somos mais competitivos", declarou. "No leite em pó nós já temos uma boa capacidade", acrescentou.
A Itambé tem hoje, segundo informações do site da empresa na internet (www.itambe.com.br), 29 cooperativas filiadas, 7 mil fornecedores de leite, estabelecidos em Minas e Goiás, 2,7 mil funcionários, conta com uma linha de 150 produtos e tem uma produção anual, de acordo com Gontijo, que gira em torno de 300 mil toneladas.