São Paulo – O empresário e cientista político de origem libanesa José Farhat deixou no Brasil um legado de disseminação de conhecimento sobre a história dos povos árabes, defesa das suas causas e trabalho pelo comércio do Brasil com a região.
Farhat, membro do Conselho Superior de Administração da Câmara de Comércio Árabe Brasileira e ex- presidente do Instituto da Cultura Árabe (ICArabe), morreu no último sábado (26), aos 91 anos.
“Ele defendia com muita paixão as causas árabes e também tinha um envolvimento forte com a Câmara Árabe, tinha familiaridade e reconhecia o verdadeiro papel da Câmara”, disse para a ANBA o presidente da Câmara Árabe, Rubens Hannun.
Farhat dava palestras e publicava artigos em que discutia e refletia sobre a história dos povos árabes, a geopolítica da região e a defesa dos direitos humanos.
Ele também foi empresário de comércio exterior e foi um desbravador do mercado iraquiano para produtos brasileiros, de acordo com o diretor-geral da Câmara Árabe, Michel Alaby. “Ele era um mercador, um grande trader”, afirmou Alaby.
José Farhat mantinha um blog com o seu nome, no qual a última publicação é de dezembro de 2017. Ele estava com a saúde debilitada e morreu em função de uma pneumonia. O empresário foi velado no domingo (27), no Cemitério do Araçá, na capital paulista.
“Ele era um cidadão brasileiro, árabe, um exemplo. Conseguiu juntar tudo o que é bonito e positivo de duas culturas, uma ocidental, que é a brasileira, e outra oriental, que é a árabe”, afirmou para a ANBA o presidente do ICArabe, Mohamed Habib, que o descreveu também como homem de diálogo, de paz, paciente e culto.
No ICArabe, a sua última função foi como diretor de Relações Internacionais. Habib destaca as qualidades do colega também como negociador e mediador. Na Câmara Árabe, Alaby afirma que ele era um conselheiro assíduo e ativo.
Outro conselheiro da Câmara Árabe, Antônio Greggio, enviou à entidade uma mensagem após saber do falecimento do amigo. “Tive o prazer de conhecê-lo naquela fase em que participava da luta pela conquista dos mercados árabes, nas agora longínquas décadas de 1970-1980. Volta e meia nos encontrávamos em viagens pelo Oriente, ou no expediente da Câmara”, escreveu ele.
Segundo Greggio, Farhat gostava de conversar e de narrar anedotas, casos e histórias de vida. “Era culto, viajado, inteligente, observador, crítico. Como todo o árabe, tinha o espírito dividido entre duas personalidades inconciliáveis: dum lado, o comerciante pragmático, pés no chão; do outro, o apaixonado idealista, vidrado em política, obcecado pelo impossível”, disse o conselheiro.
Nascido no Acre, Farhat estudou no Líbano e no Brasil. Ele se formou em Ciências Políticas da Universidade São José de Beirute, na capital do Líbano, e em Propaganda e Marketing na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), em São Paulo. Farhat falava português, árabe, francês e inglês.
O cientista político e empresário também estudou, em cursos de extensão e pós-graduação, Comércio Exterior na Fundação Getúlio Vargas (FGV- SP), Introdução à Teoria Política e Direito Internacional na Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) e Filosofia no Collège Patriarcal Grec-Catholique (CPGC), em Beirute.
O cientista político era uma referência por seu conhecimento em dois campos: história dos povos árabes e defesa dos direitos humanos. As causas do Iraque, Síria, Palestina, as relações do Oriente Médio com outras regiões e países do mundo eram temas dos seus trabalhos e artigos. “Ele publicou vários artigos sobre história e geopolítica do mundo árabe e direitos dos povos árabes”, relata Mohamed Habib.