Roma – O ex-ministro extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome no governo Lula, nos anos de 2003 e 2004, José Graziano da Silva, é o novo diretor geral da Agência da ONU para Alimentação e Agricultura (FAO). A eleição para o cargo aconteceu neste domingo (26) na capital italiana, na sede da FAO, no segundo dia da conferência da entidade. A série de encontros termina no próximo dia 02 de julho.
O candidato brasileiro conquistou 92 votos dos 180 países presentes – de um total de 191 nações integrantes a FAO. Graziano concorreu com outros cinco candidatos. O ex-ministro ocupará o cargo entre janeiro de 2012 e julho de 2015. É a primeira vez que um brasileiro é eleito diretor geral da entidade.
De acordo com Milton Rondó Filho, coordenador-geral de Ações Internacionais de Combate à Fome, a nomeação de Graziano será uma oportunidade para expandir ainda mais a cooperação brasileira no exterior.
Graziano substitui o senegalês Jacques Diouf, no cargo desde 1994. Diouf foi eleito por três mandatos consecutivos, com duração de seis anos cada um. O primeiro diretor geral da entidade foi o inglês John Boyd Orr, eleito em 1945.
Entre os desafios de Graziano no comando da FAO está o de incentivar o aumento da produção de alimentos sem degradar o meio ambiente, questão fundamental para os países desenvolvidos, principalmente europeus. O novo diretor deve considerar ainda o crescimento acelerado da população mundial. Em 2050, serão cerca de nove bilhões de pessoas em todo o planeta para serem alimentadas.
Campanha
Nos últimos meses, a campanha brasileira para a eleição de Graziano tinha sido reforçada. O ministro das Relações Exteriores, Antonio de Aguiar Patriota, veio duas vezes à capital italiana para encontros na sede da FAO, por exemplo, para tratar do assunto.
Na última sexta-feira (24), num seminário com outros dois ministros de estados do país -Wagner Rossi, da Agricultura, e Afonso Florence, do Desenvolvimento Agrário -, realizado em Roma, o Brasil deu mais um sinal de que Graziano tinha chances reais de chegar ao cargo deixando para trás concorrentes antes certeiros como o espanhol Miguel Moratinos. Os países africanos parceiros do Brasil em projetos agrícolas como Moçambique, Guiné-Bissau e Ruanda, por exemplo, estavam presentes.
Nomeação
O nome de José Graziano à FAO foi lançado no início deste ano pela presidenta Dilma Rousseff. Na época o ex-ministro atuava como representante regional da FAO para a América Latina e o Caribe. A base que levou à indicação de Graziano foi o programa Fome Zero criado em 2001 e implantado a partir de 2003, quando Graziano ocupava o cargo de ministro da Segurança Alimentar e Combate à Fome no primeiro mandato do governo Lula.
De acordo com o ex-ministro, o Fome Zero tirou da pobreza, até agora, cerca de 30 milhões de pessoas. Segundo Graziano, o programa é muito simples e não tem nenhuma mágica. “Se trata de uma operação que tem de ser pensada localmente, que gera um circulo virtuoso no local, incentivando a produção, com programas de geração e transferência de renda, mas também criando mercado consumidor local para o que será produzido”, disse na sexta-feira (24).
Graziano sustenta que um dos segredos do Fome Zero, por exemplo, foi levar às escolas públicas brasileiras os alimentos produzidos pelos agricultores que faziam parte do programa. “Fortalecemos esses vínculos locais”, afirmou o ex-ministro. Outro ponto fundamental, segundo Graziano, é realizar o programa simultaneamente em todas as regiões de um país, com o objetivo de evitar as transferências de pessoas criando os conhecidos e dramáticos êxodos rurais, um dos motivos que levaram à criação de bolsões de pobreza nas grandes cidades brasileiras.