Randa Achmawi
Cairo – O Al Khiyamiya é um famoso centro comercial que se encontra no centro do Cairo Islâmico. É ali que são feitas as tendas coloridas com as quais se decoram as ruas em tempos de festas no Egito. Este souk (bazar em árabe) que existe desde o século XVII é, na verdade, uma ruela estreita e longa coberta por um teto feito de pedra. Ali há uma infinidade de pequenas lojas nas quais diversos homens, cada um sentado em frente de sua máquina de costura, exercem uma prática milenar e artesanal. Para percorrer a velha ruela não são necessários mais do que dez minutos a pé.
Este souk é uma das célebres regiões do Cairo que foram batizadas pelo nome da profissão mais exercida no local. Assim como em Nahassim, onde se produz e vende artefatos de cobre, e Fahhamin, a dos vendedores de carvão, a Al Khyamiya é onde artesãos especializados confeccionam, há séculos, o material utilizado nas tendas tradicionais do mês de Ramadã – locais freqüentados por visitantes nas noites deste mês para tomar chá, café ou fumar um narguilé.
Estes tecidos que têm quase a espessura da lona e motivos de arabescos em cores vivas são fabricados praticamente da mesma maneira desde a época dos Fatimidas, dinastia que reinou no Egito no século X. O material também é usado na decoração de casamentos populares e em outras celebrações egípcias. "Antigamente o Khyiam era utilizado pelos príncipes nas tendas que armavam quando partiam em caravanas ou em suas caças", explica Mohie Ezz El Din, proprietário de um ateliê de fabricação do Khyiam e que faz parte de uma família que trabalha no ramo há várias gerações. Para ele, o Khyiam é a fusão ideal entre arte e artesanato. Mas este trabalho, que à primeira vista parece simples e fácil, é na verdade o resultado de um longo e complicado processo onde participam, muitas vezes, vários membros de uma mesma família.
Sentados em suas lojas, que às vezes se parecem com cavernas, sem janelas, eles trabalham todos juntos. Alguns são aprendizes, mas a maioria é profissional que exerce sua atividade com grande habilidade e refinamento. Em geral, o processo de fabricação do Khyiam é dirigido pelo pai da família dos artesãos. É ele quem desenha os motivos e que os copia sobre o pano de fundo com a ajuda de um papel. Quando o mestre termina seu trabalho, seus colaboradores, que em geral são seus próprios filhos ou irmãos mais novos, recortam vários outros pedaços de tecido de várias cores como preto, amarelo, vermelho, verde, azul ou laranja. E em seguida eles vão ajustando as peças sobre o pano original até chegar à forma prevista no desenho feito pelo pai.
Mas além do arabesco tradicional, os motivos dos desenhos encontrados no Khyiam também são inspirados no folclore e na arte popular. "Às vezes também inovamos nas formas, criamos obras onde se comparam motivos mais antigos a outros mais modernos", explica Mohie. "E nossos desenhos não se limitam à abstração tradicional dos geométricos arabescos, freqüentemente incluímos também figuras humanas, animais selvagens, pássaros, flores, plantas, arbustos todos retirados de nossas tradições e da vida cotidiana."
Uma prática ameaçada
Mas como tantas outras, a arte de produção do Khyiam tradicional está ameaçada pela industrialização e pela modernidade. "Hoje em dia, o número de fábricas que imprimem tecidos decorados com motivos tradicionais não pára de aumentar. E é claro que este tipo de produto acaba custando muito menos do que este que fazemos", queixa-se Mohie. Segundo ele, a tendência é que o trabalho das fábricas acabe prevalecendo por razões econômicas e o que é feito em Khyiamyia esteja condenado ao lento desaparecimento.
Taha Yunes, que é um jovem artesão que preferiu aprender a técnica com seu pai em vez de estudar em uma universidade, manifesta claramente seu pessimismo no que diz respeito ao futuro de sua profissão: "Dentro de pouco tempo somente os egípcios das classes mais altas poderão comprar nossas obras e por isso muitos de nós serão obrigados a mudar de profissão, ou trabalhar somente para os turistas".
De acordo com Yunes, o problema de se fazer obras dedicadas aos turistas é que estes preferem as peças com motivos faraônicos ou folclóricos. "Mas estes elementos não estão ligados à essência de nossa arte. Por isso, e por falta de compradores e interessados, nossa prática pode desaparecer e virar lenda como muitas outras que já sumiram", lamenta Yunes.

