São Paulo – Uma instituição criada por imigrantes sírios em 1923 no Brasil vem se tornando referência em mensuração do impacto social de ações do terceiro setor. Completando 100 anos neste ano, o centro de convivência Lar Sírio Pró-Infância, da capital paulista, adota estratégias quinquenais que deixam o trabalho que desenvolve inserido nos novos tempos, apesar da longevidade da sua atividade. A criação de metodologia e tecnologia para medir os resultados de trabalhos sociais faz parte dessa tática. Na foto acima, atividade de artes no Lar Sírio.

Em entrevista à ANBA por ocasião do centenário, o presidente da instituição, Sergio Stephano Chohfi Filho, e a superintendente, Elaine Bueno Silva, contaram dos avanços que o Lar Sírio Pró-Infância vem obtendo, tanto a partir das estratégias como da mensuração de resultados do terceiro setor, que foi foco no quinquênio 2018-2023, como na missão de propiciar convivência e proteção a crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade, oferecendo oportunidades de desenvolvimento integral e gerando melhores perspectivas de vida digna para eles.
A meta de ser referência em mensuração de resultados sociais foi ganhando corpo nos últimos cinco anos e hoje o Lar Sírio oferece cursos de cultura avaliativa para organizações. “A gente compartilha a nossa metodologia, a nossa tecnologia com eles para que repliquem em suas próprias instituições”, explica Elaine. A metodologia e a tecnologia foram desenvolvidas internamente pelo corpo disciplinar e encontraram um terceiro setor carente por essa solução.
O Lar Sírio também se depara com um momento propício para seu trabalho na guinada que o mercado corporativo dá em direção à governança ambiental, social e corporativa (ESG). “As empresas vêm participar com a gente muito mais do que vinham antes porque precisam estar engajadas nos programas ESG. É um solo fértil”, diz Chohfi.

A instituição promove muitas ações em parceria com o setor privado e formula atividades de governança social dentro do que empresas demandam. A Cargill tem uma área de meio ambiente dentro do Lar Sírio, a Roça Cargill, na qual as crianças fazem experimentos de plantações. A empresa também é parceira em manter na instituição uma padaria, onde são feitos lanches para as crianças e oferecidos cursos em panificação e padaria a alunos e pais.
A estratégia que a instituição adotou para o próximo quinquênio, de 2023 a 2028, trafega por essa participação das empresas no Lar Sírio. Isso porque o foco agora é engajar o território do entorno da sede, especialmente o bairro do Tatuapé, onde ela fica, no trabalho socioeducativo do centro de convivência. “A gente quer que essas pessoas venham e contribuam socialmente com suas empresas ou como pessoas físicas”, diz Elaine. A ideia é atrair tanto pequenos negócios como grandes companhias e transformar o Tatuapé em um bairro socioeducativo.

Nessa pegada de olhar para os tempos atuais e o futuro, as atividades do Lar Sírio se desenrolam cotidianamente. A instituição já passou por muitas transformações desde que foi criada, em 1923, por jovens imigrantes de Homs. A princípio funcionava como um orfanato, o Orphanato Syrio. Hoje o Lar Sírio é um centro de convivência e recebe crianças e adolescentes no contraturno da escola em área de 25 mil metros quadrados no Tatuapé.
São atendidas mais de 1.000 crianças em situação de vulnerabilidade e risco social, além de 1.200 adolescentes em profissionalização. A instituição tem uma estrutura com 18 prédios em ambientes para aprendizagem em áreas como arte, cultura, esportes, lazer e civilidade. Mas a ideia não é ser um ambiente escolar e sim um local onde os pequenos possam conviver, fazer as atividades que escolhem – poucas são obrigatórias – e encontrar um vínculo afetivo.
Faz parte do trabalho dar alimentação e acompanhamento nutricional, atendimento psicológico e assistência social para as famílias – esta, nos casos mais graves, juntamente com a Vara da Infância e da Juventude. Para ingressar no Lar Sírio são levados em conta critérios como a condição socioeconômica e a vulnerabilidade, que vai pode estar vinculada a vários fatores, tais como a convivência com o alcoolismo na família e outros.

O trabalho dos profissionais do Lar Sírio caminha no sentido de fazer com que as crianças e adolescentes saiam da vulnerabilidade e tenham sua autonomia junto com suas famílias. “É um grupo interdisciplinar trabalhando para que essa família alcance autonomia”, diz Elaine. Na profissionalização dos adolescentes, o centro atua por meio de muitas parcerias, inclusive com o Serviço Social da Indústria (Sesi), que tem escola no local e alunos do Lar Sírio.
As despesas do Lar Sírio Pró-Infância são cobertas por meio de várias fontes. A mais importante delas é a renda de capital próprio, que responde por cerca de 75%, seguida de parcerias com instituições privadas e doações, abarcando cerca de 20% das entradas, e depois pelos recursos públicos, de 5%, através do Centro para Crianças e Adolescentes (CCA). Eventualmente há outras verbas excepcionais. O centro de convivência está aberto sempre a novas colaborações e doações, pois assim pode expandir seus serviços.
Para comemorar os 100 anos, o Lar Sírio está promovendo uma série de atividades neste ano. Uma delas foi levar as crianças a locais de presença de imigrantes árabes em São Paulo, o que incluiu visitas à Câmara de Comércio Árabe Brasileira. Também houve uma festa em que a Câmara Árabe foi uma das patrocinadoras. Na agenda das comemorações também constam exposições, oficinas, contação de histórias, entre outras ações. A data da fundação da instituição é 10 de julho, mas as atividades estão sendo realizadas ao longo do ano.


