São Paulo – O clima instável de 2010 e a idade avançada dos canaviais não ajudaram a safra 2011-2012 da cana-de-açúcar. O estado de São Paulo, que responde por 70% da produção brasileira, deverá colher 4 milhões de toneladas a menos do que na temporada anterior. Outros estados produtores deverão, no entanto, compensar a perda e até ajudar a elevar a moagem da cana em 2% (em um total de 560 milhões de toneladas no país). Para não perder produtividade no próximo ano, os produtores precisam renovar as plantações e torcer por um clima mais estável neste ano.
O presidente da Associação dos Plantadores de Cana da Região de Monte Aprazível (Aplacana), Donaldo Luis Paiola, é pessimista com as safras deste e do próximo ano. Segundo ele, os produtores sofreram no último ano com a falta de chuvas, o que prejudicou a colheita e a moagem.
A região de São José do Rio Preto, no noroeste do estado, onde está Monte Aprazível, tem cerca de 15 mil hectares de plantações de cana, que somam 8,2 milhões de hectares em todo o País. Lá, diz Paiola, o açúcar total recuperado (ATR) varia entre 90 e 100 quilogramas por tonelada. Esta medida indica qual é a quantidade açúcar disponível na matéria-prima depois das perdas sofridas no processo industrial. O ideal, segundo o produtor, seria obter um ATR de 140 kg/tonelada de cana.
Para que a produtividade da lavoura seja maior, é preciso que o canavial, ou parte dele, seja jovem, o que também não está acontecendo nos canaviais do Centro-Sul, especialmente no estado de São Paulo. Os canaviais têm média de 4,2 anos, quando o ideal seria de 2 anos.
"Por causa dos baixos preços praticados em 2008 e 2009, os produtores não deram o tratamento esperado para os canaviais. Em razão dos preços, não foi feita a renovação. Neste ano, há um princípio de reforma, só que ela ainda é acanhada para a safra 2012-2013. Os produtores estão descapitalizados", diz Paiola.
O representante da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica) em Ribeirão Preto, Sergio Prado, afirma que os canaviais estão sendo renovados, mas recorda que, nos últimos anos, a substituição ficou abaixo de 10%. O ideal é renovar 20% do canavial a cada ano. "Se renovarmos tudo de uma só vez, não teremos o que colher no ano seguinte", afirma Sergio. A cana demora 18 meses para produzir açúcar e álcool.
O diretor da Datagro Consultoria, Guilherme Nastari, afirma que houve queda de 4% na produtividade da lavoura. Ou seja, o canavial não rendeu o que deveria, mas a moagem deverá suprir a demanda. Ele lembra, também, que o setor sofreu muito em 2010 com as mudanças climáticas. "Em julho, agosto e setembro houve uma seca muito forte. Em outubro e novembro choveu acima da média", recorda. Nastari alerta, porém, que o mercado mundial quer açúcar. "Se pudesse, o usineiro faria mais açúcar.”
No caso do etanol, mesmo com uma maior quantidade de cana moída, a exportação deverá cair. Por dois motivos: a produção será destinada para abastecer o mercado nacional, que está em crescimento; e porque o mercado internacional tem falta de açúcar. É o oposto do que aconteceu entre 2006 e 2008, quando havia excesso de oferta de açúcar e os preços da commodity não cobriam nem os custos de produção. "Depois, em 2008, veio a crise [financeira internacional] e afetou os produtores. Em 2009 e em 2010 tivemos problemas com o clima", afirma Prado, da Unica.
“O mais importante, no entanto, é que aqui o consumidor pode escolher qual combustível ele quer comprar. É o consumidor quem regula o preço do etanol", ressaltou Nastari, referindo-se ao fato de que no Brasil a maioria dos carros produzidos é bicombustível, ou seja, podem andar tanto com álcool como com gasolina.
Em fevereiro de 2010, foram exportados 1,47 milhão de toneladas de derivados de cana. No mesmo período deste ano, foram 1,3 milhão de toneladas.