São Paulo – Jorge Amado nasceu em 10 de agosto de 1912, em Itabuna, município do sul da Bahia, filho de um fazendeiro de cacau. Passou a infância em Ilhéus e ainda na adolescência se mudou para Salvador, a capital do estado, onde morreu, em 06 de agosto de 2001. Abaixo, trechos extraídos dos livros Gabriela Cravo e Canela e Tocaia Grande.
“Era comum tratarem-no de árabe, e mesmo de turco, fazendo-se assim necessário de logo deixar completamente livre de qualquer dúvida a condição de brasileiro, nato e não naturalizado, de Nacib. Nascera na Síria, desembarcara em Ilhéus com quatro anos, vindo num navio francês até a Bahia. Naquele tempo, no rastro do cacau dando dinheiro, chegavam à cidade de alastrada fama, diariamente, pelos caminhos do mar, do rio e da terra, nos navios, nas barcaças e lanchas, nas canoas, no lombo dos burros, a pé abrindo picadas, centenas e centenas de nacionais e estrangeiros (…). Chegavam e em pouco eram ilhenses dos melhores, verdadeiros grapiúnas plantando roças, instalando lojas e armazéns.
– Tudo que quiser, menos turco. Brasileiro, – batia com a mão enorme no peito cabeludo – filho de sírios, graças a Deus. (…)
– Na terra de meu pai (…) assim começavam suas histórias nas noites de conversas longas, quando nas mesas do bar ficavam apenas uns poucos amigos. Porque sua terra era Ilhéus, a cidade alegre ante o mar, as roças de cacau, aquela zona ubérrima onde se fizera homem. Seu pai e seus tios, seguindo o exemplo dos Ashcar, vieram primeiro, deixando as famílias. Ele embarcara depois, com a mãe e a irmã mais velha, de seis anos, Nacib ainda não completara os quatro. Lembrava-se vagamente da viagem na terceira classe, o desembarque na Bahia onde o pai fora esperá-los. Depois a chegada a Ilhéus, a vinda para a terra numa canoa, pois naquele tempo nem ponte de desembarque existia. Do que não se recordava mesmo era da Síria, não lhe ficara lembrança da terra natal tanto se misturara ele à nova pátria e tanto se fizera brasileiro e ilheense. Para Nacib era como se houvesse nascido no momento mesmo da chegada do navio à Bahia, ao receber o beijo do pai em lágrimas. Aliás, a primeira providência do mascate Aziz, após chegar a Ilhéus, foi conduzir os filhos a Itabuna, então Tabocas, ao cartório do velho Segismundo, para registrá-los brasileiros.”
(Gabriela Cravo e Canela)
“A pátria de um cidadão é o lugar onde ele sua, chora e ri, onde moureja para ganhar a vida e construir casa de negócio e residência. (…) Fadul Abdala reconhece e adota a nova pátria. Nela não viu a luz nem se batizou. Ninharias, desprezíveis pormenores: mais importante que o berço é a cova e a dele será aberta no território do cacau. (…) Ao fazer-se homem fez-se brasileiro.” (Tocaia Grande )