São Paulo – Barcos de 5,5m de comprimento em fibra de carbono, pesando 300kg. Com motores de 400 cv e que atingem até 200km/h. Foi pilotando um destes que Lebos Ribeiro Chaguri, brasileiro de origem libanesa, conquistou o Campeonato Mundial da Fórmula 3000 Powerboat de 2018. A competição de motonáutica, corrida de alta velocidade em barcos, aconteceu na cidade de Muar, na Malásia, entre os dias 01 e 02 de dezembro. “Você fica em êxtase. E eu consegui ficar em primeiro no ‘Drag Race’ (corrida de pequena distância) e na final!”, explicou o piloto à ANBA.
Ficar longe das corridas e dos barcos parece estar fora dos planos do libanês-brasileiro. “Eu não cogito não correr. Todo mundo fala: agora você já pode parar, já ganhou. Eu falo que não”. E provou isso em 2012. Ele já competia internacionalmente quando teve que ficar afastado temporariamente do esporte. “Eu estava buscando patrocínio. Sofri um acidente sério, fui pra UTI de Sharja, depois de Dubai e para o Brasil, ainda na UTI. Tive trombose, embolia pulmonar e um coágulo no cérebro”, contou o piloto.
Tão rápido quanto corre, Lebos narrou sua história de disputas e vitórias dali em diante. “Fiquei 9 meses em recuperação e, em 2013, quando tive alta, eu já viajei para corrida e consegui a medalha de bronze. Pensava se ia conseguir, mas acelerei e consegui”, conta ele. “Em 2014 competi, mas tive um outro acidente. Depois, fui em competição na Colômbia. Em 2015 corri na Fórmula 3000. Em 2016, não corri. Em 2017, corri na F 3000 e na Copa de Endurance, da Colômbia. Lá, fui medalha de bronze e prata, e foi a primeira vez em que um brasileiro conquistou isso nas etapas. Essas provas foram patrocinadas pelo governo da Colômbia e a Federação de Motonáutica de lá”, revelou.
Fórmula 3000
Agora, em 2018, a equipe do brasileiro no Campeonato Mundial da Fórmula 3000 Powerboat é a Fernandez Racing, que contou com três pilotos neste certame. Lebos foi o único da equipe a figurar do pódio da final. Dentro das competições de motonáutica, ele pontua algumas diferenças entre as categorias. “Na Fórmula 1 H2O, todos os barcos são iguais, com motores idem. E são sorteados os barcos de cada time”, explica sobre a categoria que divide as equipes por países. Já na F3000, onde agora é campeão, existem diferenças. Cada equipe tem seu barco e motor e pode haver preparação. As equipes são independentes de países.
Lebos conta que a F 3000 ficou forte na Ásia. O torneio mundial ocorre de uma a até duas vezes por ano, quando se somam os pontos das duas etapas. Em 2018, o campeonato se concentrou em apenas dois dias. “Barco contra barco. Você vai competindo com todos e quem tiver maior número de vitórias, ganha. Na sexta-feira tem treino. No sábado treino pela manhã e à tarde o Qualifiyng (corrida que define colocação antes da final). Já no domingo, acontece a corrida final. No Qualifiyng eu peguei o segundo lugar. E na final eu fiquei em primeiro”.
O circuito da final contou com retas de até 400 metros, distância considerada curta pelo piloto. “A velocidade vai de 0 a 100km/hora em três segundos. E de 0 a 200km faz em 4 segundos. A força G (medida de força baseada na gravidade) nesses casos chega a 7G nas curvas. Na Fórmula 1, por exemplo, chega a 3. Em aviões caça fica em 5, no máximo 6G”, complementa Lebos.
Residindo em São Paulo (SP), ele explica que centra mais esforços no condicionamento físico do que no treino em si. “A gente não treina. Só chega para a corrida. Faz o treino na sexta-feira e continua até a final, faz o procedimento de corrida normal. O que fazemos ao longo do ano é a parte condicionamento físico. Academia, natação, exercícios”, comenta. O piloto costuma participar de apresentações, onde leva seu barco para exibição. Em maio deste ano, por exemplo, ele foi homenageado durante a Conferência “O Potencial da Diáspora Libanesa”, em Beirute, quando falou sobre sua trajetória.
Já nas corridas, quer voltar a atuar na categoria Fórmula 1 H2O. “Tenho espaço na Fórmula 1. Agora estou atrás de patrocínio. Hoje, quem me dá apoio é a MTV do Líbano. Para voltar a Fórmula 1 eu já teria equipe, mas vou buscar mais um patrocínio primeiro. Eles querem que eu esteja lá, não deixam qualquer um entrar. Ali estão todos os campeões mundiais em alguma categoria de motonáutica”, concluiu.