São Paulo – Filha do meio de uma prole com nove irmãos e criada na pequena aldeia de Kamed El Louz, no Líbano, os pais de Jihan Zoghbi (foto acima) queriam que ela cursasse Medicina. Contrariando o desejo da família, ela se formou em Matemática pela Universidade Americana de Beirute, em 1997. Mas outras decisões levariam a libanesa cada vez mais perto do setor da saúde. Ela é hoje a presidente da Associação Brasileira CIO Saúde (Abcis). O ‘CIO’ no nome da associação se refere à ‘Chief Information Officer’, termo em inglês para os executivos de tecnologia da informação, neste caso do setor de saúde.
Na capital libanesa, Zoghbi conheceu o atual marido, um brasileiro que passava férias no Líbano, e começou a planejar sua mudança ao País. Para isso, a libanesa teve que reiniciar parte de seus estudos. “Como era muito burocrático o processo para validar meu diploma, decidi entrar na faculdade e cursar Ciência da Computação pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Depois, fiz mestrado e doutorado também em Ciência da Computação pela Universidade de São Paulo”, explicou ela em entrevista à ANBA.
Ainda durante os cursos de graduação e mestrado, ela adquiriu experiência com ênfase em Computação Gráfica e Processamento de Imagens Médicas. E, por uma questão familiar, acabou se reaproximando do antigo sonho dos pais, a Medicina. “Eu escolhi fazer mestrado e doutorado aplicado em imagens médicas porque perdi um irmão meu com câncer, supernovo. Então, escolhi o foco em imagens médicas para estudar tumores cerebrais”, revelou a cientista.
Enquanto estudava, Zoghbi passou a prestar consultorias independentes para empresas da área e, no último ano de seu doutorado, decidiu abrir sua própria empresa. “Resolvi abrir a Dr. TIS, uma startup que é plataforma de imagens médicas e telemedicina. Crescemos bastante nos últimos dois anos”, contou.
Com a startup, a libanesa quer trabalhar cada vez mais com inteligência artificial para gerar informações sobre cuidados de paciente e diagnóstico. Hoje, a startup conta com uma equipe de 15 pessoas e o objetivo de Zoghbi é que o trabalho se expanda para o Brasil como um todo.
Em 2011, a doutora foi convidada para ser diretora de eventos da Abcis e em 2019 foi eleita presidente da associação sem fins lucrativos. A instituição foi criada justamente para promover o intercâmbio de conhecimento e práticas em tecnologias da informação no segmento de saúde, ativo que se tornou ainda mais imprescindível para enfrentar a pandemia que o mundo vive há mais de um ano.
Enfrentamento à covid-19
Em plena pandemia da covid-19, a Abcis redobrou os esforços para unir informações e dados de instituições de saúde. “Em 2020, trabalhamos três vezes mais do que antes. Começamos a promover toda semana um webinar, com diretores, gestores, pessoas experientes na área para compartilhar experiências. Pedíamos para eles compartilharem o que acontecia lá dentro, como estavam lidando com covid. Eles trocaram sobre tudo isso de graça”, explicou ela sobre reuniões que contaram com trabalhadores de hospitais modelos como o Sírio Libanês, HCor e Santa Catarina.
Em 2021, a doutora prevê que o trabalho triplicado continue. “Para isso, nos últimos três meses, reestruturamos a Abcis na parte de conselho, e temos uma diretoria também nova. No conselho eu fiz questão de sempre incluir mulheres. Buscamos sempre essa diversidade”, destacou a doutora.
Ela acredita que seja possível um intercâmbio de conhecimento na área com outros países, inclusive o Líbano. “Seria ótimo, mas acho que trabalhamos tanto que ainda não tivemos tempo para parar e pensar como estender e fazer essa conexão. Mas com certeza tem o que trocar entre o Brasil e o Líbano, e fazer isso com o país de onde vim seria ótimo”, concluiu.