Geovana Pagel
São Paulo – O governo da Líbia, em parceria com a Cooperativa Agropecuária de Pedro Afonso (Coapa), sediada no município de Pedro Afonso (TO), quer investir R$ 50 milhões na construção de um complexo agroindustrial para o processamento de farelo de soja, óleo de soja e fertilizantes.
A parceria, que está sendo negociada pelo governo do estado do Tocantins e pela embaixada da Líbia em Brasília, deve ser concretizada em 2005. O prazo de implantação da indústria, numa área de 300 mil metros quadrados, será de 24 meses e ela deve gerar 2,5 mil empregos diretos.
O presidente da Coapa, Ricardo Benedito Khouri, disse que "a viabilidade deste projeto representa a salvação do setor primário" no estado. "Vamos utilizar a nossa matéria-prima (soja), agregar maior valor à produção e entrar no mercado externo mais preparados e competitivos", afirmou. "Estamos aguardando a visita de uma delegação da Líbia para conhecer a área que foi destinada para a construção do complexo", acrescentou.
O secretário estadual da Indústria, Comércio e Turismo, Emilson Vieira Santos, disse que as negociações começaram em abril, durante uma visita que embaixador da Líbia em Brasília, Mohamed Saad Matri, fez a Tocantins. "Ele ficou muito interessado em investir no estado. Quando apresentamos o projeto de viabilidade técnica e econômica para a indústria, desenvolvido pela Coapa, ele demonstrou ainda mais interesse na parceria", afirmou Santos.
Além da indústria esmagadora de soja, há outras possibilidades de investimentos líbios no estado. O país do norte da África mostrou intenção de investir US$ 450 milhões em projetos de irrigação quando, em fevereiro deste ano, representantes da Líbia, entre eles o presidente da Companhia Árabe-Líbia de Investimentos Estrangeiros (Lafico, na sigla em inglês), Kahaled El-Zantuti, estiveram no Brasil, para avaliar as possibilidades da economia brasileira para investimentos.
O Tocantins foi um dos estados visitados. De acordo com o secretário estadual da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Roberto Jorge Sahium, o projeto de irrigação para a bacia do Rio Javaés já está em fase de tradução para o inglês e deverá ser encaminhado ao governo líbio nas próximas semanas. "Continuamos em negociação e esperamos um retorno, se possível, até o final de 2004", declarou.
A comitiva da Líbia também visitou o Vale do Rio São Francisco na Bahia, que a exemplo de Tocantins, desenvolve projetos de irrigação. Na oportunidade, a Lafico mostrou a intenção de formar joint-ventures com companhias brasileiras e se dispôs, inclusive, a financiar estudos de viabilidade econômica, financeira e social dos empreendimentos no país.
Ampliação do comércio
Além de procurar setores para investir no Brasil, a Líbia também está ampliando a importação de produtos brasileiros como carne bovina, café e açúcar. O governo líbio tem demonstrado maior interesse no Brasil após a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao país em dezembro de 2003. "Muitos estados querem fechar negócios com a Líbia, mas o Tocantins saiu na frente", disse Santos.
Segundo ele, devido à sua localização privilegiada – faz divisa com Pará, Maranhão, Piauí, Bahia, Mato Grosso e Goiás -, o estado é hoje um excelente lugar para investir. Além disso, Tocantins tem superávit na produção de energia elétrica.
"O estado consome apenas 15% da energia que produz. O restante é vendido para o Distrito Federal e estados das regiões sul e sudeste", disse. "Sem contar que a necessidade brasileira de aumentar a produção de alimentos, para os mercados interno e externo, coloca o Tocantins como a fronteira agrícola em excelentes condições, em relação ao circuito produtivo da economia nacional", acrescentou.
Santos lembrou ainda que os negócios entre o Tocantins e os países árabes vêm sendo estimulados desde setembro do ano passado, quando sua secretaria realizou um seminário "Negociando com os Países Árabes", em parceira com a Câmara de Comércio Árabe Brasileira (CCAB).
De acordo com o secretário, o encontro teve como objetivo informar as estratégias para o desenvolvimento de negócios com países daquela região. "No primeiro semestre de 2003, apenas a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos importavam nosso produto. Após o evento, passamos a vender para Argélia, Egito, Líbia, Líbano e Jordânia", garantiu.
Economia
No primeiro semestre de 2004, as exportações do estado de Tocantins cresceram 344% em relação ao mesmo período do ano passado, atingindo US$ 92,2 milhões. A taxa é dez vezes maior do que a média de crescimento nacional, que ficou em 33,73% no período. O Tocantins também lidera o ranking de crescimento das exportações entre os estados brasileiros, seguido pelo Amapá, que exportou 222% a mais nos primeiros seis meses do ano.
A economia do estado do Tocantins tem a pecuária extensiva como atividade predominante. Com um rebanho de aproximadamente 7 milhões de cabeças de gado, é o segundo maior produtor da região norte do país. O status de zona livre de aftosa favorece a exportação para países europeus feita por cinco frigoríficos, que também vendem carne para o nordeste e São Paulo.
O Tocantins também possui grande potencial agrícola. A soja é o principal produto. Só nos últimos quatro anos a produção saltou de 20 mil toneladas para 263 mil toneladas anuais. Cerca de 60% da superfície do estado é formada por solos agricultáveis e mais de 25% apresenta condições de produção, se utilizada a tecnologia já disponível. O comércio do estado é baseado nos gêneros de primeira necessidade: produtos alimentícios, vestuário, calçados e produtos químico-farmacêuticos.
A indústria ainda é pequena e com predomínio do setor de alimentos. A autonomia energética e a pavimentação da maioria das estradas estaduais facilitam a entrada de novos investidores na área industrial. O estado tem cinco distritos industriais.
O Tocantins possui a maior área contínua apta para a cultura irrigada, com aproximadamente 1,2 milhão de hectares no vale do Rio Javaés. As condições climáticas são favoráveis à fruticultura, ao cultivo de especiarias, essências amazônicas e corantes vegetais, como o urucum.

