Trípoli – Foram menos de dois dias inteiros em Trípoli, mas foi o suficiente para que os empresários brasileiros que estão em missão comercial ao Norte da África percebessem que a Líbia é um mercado que promete. “Para o nosso setor, acredito que seja um futuro mercado de exportação”, disse nesta segunda-feira (26) a presidente da Associação Brasileira dos Exportadores de Mel (Abemel), Joelma Lambertucci de Brito. “Existe demanda por mel e muita importação de outros países, especialmente europeus”, acrescentou.
Novato no país também, Ronan Moreira, da MGR, indústria carioca de granitos, disse que fez vários contatos durante a rodada de negócios organizada no hotel Corinthia Bab Africa. Ele vê possibilidade de vender produtos acabados à Líbia, como ladrilhos e revestimentos de fachadas. “O evento foi bem divulgado”, disse.
Na mesma linha, o trader da Tangará, indústria de lácteos, Leonardo Bonaparte, disse que o mercado é semelhante ao da Argélia em características de consumo, embora menor. A Argélia é um dos principais destinos do leite em pó brasileiro no exterior. A companhia produz principalmente preparações lácteas para a indústria de alimentos e Bonaparte viu bom potencial nesse segmento. “Queremos consolidar o Norte da África como um todo”, disse.
Durante muitos anos a Líbia foi uma economia fechada, principalmente por causa de embargos impostos. A partir de 2003, o país começou a se integrar novamente à economia internacional e, turbinado pelas receitas do petróleo, passou a ser grande importador de todos os tipos de produtos.
Quem conhece bem a Líbia diz que fazer negócios com o país ficou muito mais fácil em anos recentes. O empresário Mohamed El Zwei, da MCI Trading, é líbio radicado no Brasil desde 2007. Desde 1994 ele trabalha com exportação de alimentos exclusivamente para o seu país de origem.
“Hoje está muito mais fácil, antes o Brasil não vendia nada para a Líbia, era muito difícil”, declarou. Ele destacou que de 2007 para 2008 as vendas brasileiras ao país árabe cresceram 50%. “Se não fosse a crise, cresceria 100%, ou 150%, agora é que as coisas estão começando. O trem começou a andar”, afirmou.
Para alguns já andou. O trader da Grendene, Artur Felipe Bonotto, disse que durante a visita consolidou um negócio iniciado na Feira Internacional de Trípoli do ano passado. “Está praticamente certo, vamos mandar um lote para o importador analisar e fazer a introdução para a próxima estação”, declarou.
A empresa pretende comercializar chinelos das linhas Rider, Ipanema e Grenda. A principal concorrência vem dos produtos chineses, vendidos a rodo nos mercados populares. “Buscamos um outro patamar de público, que quer qualidade”, disse Bonotto.
Teve gente ainda que reforçou contatos que já tinha. Foi o caso de Paulo Hegg, da Tirolez, fábrica de queijos. A empresa já tem importadores no país e Hegg ouviu comentários de que a marca tem sido apreciada e reconhecida. Agora ele quer juntar todos os negócios em apenas um distribuidor que atenda toda a Líbia. “Vamos definir uma estratégia comercial para aumentar as exportações”, disse. Atualmente, a Tirolez embarca cerca de 50 toneladas de queijos por mês ao mercado líbio.
É o caso também de Eduardo Moraes, da Latinex, trading da área de alimentos. Ele teve seu primeiro contato com a Líbia na Feira Internacional de Trípoli de 2007 e vinha vendendo biscoitos para o país regularmente. Após a valorização do real frente ao dólar, até agosto do ano passado, suas exportações passaram a ser esporádicas.
“Agora o câmbio está mais favorável e vou começar a explorar também matérias-primas para sucos, que na Líbia é um segmento que tem crescimento forte e contínuo”, declarou. “Espero participar de novo da feira de Trípoli este ano, pois eles gostam do contato pessoal e temos que manter uma regularidade”, concluiu.
Fomento
Nesta segunda, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, que lidera a missão empresarial ao Norte da África, teve encontros com o vice-primeiro-ministro líbio, Mubarak Al-Shamikh, com o ministro da Indústria e Mineração, Ali Yousef Zikri, com o presidente da estatal do petróleo National Oil Company (NOC), Shokri Ghanem, além de reuniões nos ministérios dos Transportes e Telecomunicações e Relações Exteriores.
O presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Salim Schahin, que acompanhou as visitas, disse que as autoridades líbias em geral demonstraram grande interesse em fomentar os negócios com o Brasil. “A Líbia quer atrair negócios e os ministros dizem que as empresas brasileiras terão preferência”, afirmou.
O interesse, segundo ele, vale para todos os setores, especialmente construção, infraestrutura e até energia, mesmo sendo o país um grande produtor de petróleo. A Líbia quer ampliar a utilização do gás em sua matriz energética.
Schahin acrescentou que, durante as conversas, foi mencionada inclusive a possibilidade de criação de uma zona franca na Líbia para companhias do Brasil, para que o país possa ser utilizado como plataforma de exportação.
Nos encontros foi discutida também a facilitação da concessão de vistos para empresários brasileiros e o vice-primeiro-ministro pretende organizar em breve uma missão comercial ao país.
A delegação liderada pelo ministro encerrou a visita à Líbia nesta segunda à tarde e seguiu para Argel, capital da Argélia, segunda etapa da viagem.

