São Paulo – Após um período de forte desvalorização nos dois últimos meses de 2016, a libra egípcia pode ser uma das moedas que mais vai se valorizar frente ao dólar norte-americano em 2017. A avaliação é do economista chefe da Economist Intelligence Unit (EIU), Simon Baptist. A EIU é a divisão de pesquisa e análise do The Economist Group, empresa britânica que edita a revista semanal de mesmo nome.
Em newsletter publicada nesta quinta-feira (05), Baptist avalia que apenas 12 das 60 principais moedas do mundo deverão se valorizar frente ao dólar este ano, e a principal aposta é na libra egípcia. “Nossa aposta mais otimista é na libra egípcia. Nós pensamos que o mercado exagerou após a bem-vinda flexibilização no final de 2016 e esperamos uma valorização de 14% este ano”, afirmou o economista no comunicado.
Em 03 de novembro de 2016, o Banco Central do Egito flexibilizou o regime de câmbio e passou a deixar a libra flutuar livremente, uma das medidas tomadas para reduzir a escassez de dólares no país. O dólar valia 8,88 libras egípcias em 02 de novembro pelo câmbio oficial, e a cotação começou a subir significativamente no dia seguinte, atingindo o pico de 19,67 libras em 20 de dezembro. Nesta quinta-feira, a moeda norte-americana estava cotada em 18,21 libras, ou seja, ainda mais do que o dobro do valor registrado antes do início da desvalorização.
A variação na taxa de câmbio, porém, produziu efeitos positivos rápidos nas contas externas do país. De acordo com artigo publicado esta semana pela EIU, as remessas de divisas ao Egito por egípcios que vivem no exterior somaram US$ 1,7 bilhão em novembro, contra US$ 1,3 bilhão em outubro, um aumento de quase um terço de um mês ao outro. Antes, informa o texto, os envios vinham caindo desde o início de 2015.
Segundo a EIU, no terceiro trimestre do ano passado, antes da desvalorização, as remessas haviam somado US$ 3,4 bilhões, o menor valor trimestral em muito anos.
Além disso, os gastos de egípcios no exterior começaram a superar as despesas de estrangeiros no Egito no início de 2016. Nos nove primeiros meses do ano passado, os egípcios movimentaram US$ 3,5 bilhões no exterior, ante US$ 2,5 bilhões no mesmo período de 2015, de acordo com a EIU. Os estrangeiros, por sua vez, gastaram US$ 1,8 bilhão no país de janeiro a setembro de 2016, contra US$ 5,1 bilhões nos nove primeiros meses do ano anterior.
O turismo é uma das principais fontes de divisas do país, mas o setor vem sofrendo desde a Primavera Árabe, em 2011, e de maneira mais sensível desde 2015, quando um avião de passageiros russo caiu no Sinai, sob suspeita de atentado terrorista. A queda nas receitas do setor afetou significativamente as contas externas egípcias. Segundo a EIU, o déficit em conta corrente chegou a US$ 14,7 bilhões nos três primeiros trimestres de 2016, ante US$ 11,8 bilhões no mesmo período de 2015.
Estimativas
O artigo avalia, porém, que os dados do último trimestre de 2016 deverão ser mais positivos em função do aumento das remessas de expatriados, do avanço do fluxo de investimentos depois da liberação do câmbio e de empréstimos acertados pelo país com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e com o Banco Mundial. O acordo com o Fundo prevê desembolsos de até US$ 12 bilhões. Já o Bird aprovou em dezembro repasses de US$ 1 bilhão à nação árabe.
A EIU estima que o déficit em conta corrente do país deverá cair para US$ 13,8 bilhões em 2017, contra um resultado previsto em US$ 16,4 bilhões para o fechamento de 2016. Além do aumento das remessas de expatriados, a instituição acredita que a taxa de câmbio irá desestimular importações e incentivar as exportações.


