Cairo – Uma cerimônia comemorativa do 60º aniversário da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinos (UNRWA, na sigla em inglês) foi realizada esta semana na sede da Liga dos Estados Árabes, no Cairo. O evento reuniu o secretário-geral da Liga, Amr Mussa, a comissária-geral e chefe do órgão humanitário, Karen Abuzayd, além de outras personalidades árabes e internacionais ligadas às artes, política e mídia.
A agência da ONU foi criada em 1949 para dar assistência aos 700 mil refugiados palestinos que foram obrigados a deixar para trás seu país em 1948. “Quando foi criada, em dezembro de 1949, esperava-se que o problema dos refugiados palestinos seria resolvido rapidamente e que eles poderiam voltar dentro de pouco tempo para suas casas. Mas infelizmente, seis décadas mais tarde, o problema ainda existe e se agrava mais a cada momento”, disse o secretário-geral adjunto da Liga para Assuntos da Palestina, Mohamed Sobeih, ele próprio palestino. “Isso faz com que a UNRWA seja cada vez mais importante para a vida dos Palestinos”, acrescentou.
A agência da ONU, que opera em Gaza, na Cisjordânia e em campos de refugiados na Jordânia, Síria e Líbano, fornece hoje assistência a 4,7 milhões de palestinos. “Mas nosso trabalho não consiste unicamente em fornecer ajuda de urgência às populações vulneráveis destes locais. Nosso intuito é o desenvolvimento do capital humano. Fazemos isto através de uma estrutura que provê também educação, assistência de saúde, serviços sociais, abrigo, assim como microcréditos”, afirmou Karen Abuzayd.
Segundo ela, a UNRWA conta com 663 escolas, oito centros de treinamento vocacional, 125 centros de saúde, 65 programas de assistência às mulheres e 39 centros de reabilitação comunitária. “Todas essas instituições empregam quase 30 mil refugiados, sendo que quase 20 mil são professores nas escolas da UNRWA e 4 mil trabalham nos setores de assistência social e de saúde. Desde 1991 nossa agência forneceu mais de 100.000 microcréditos às populações dos campos de refugiados que assistimos”, declarou Karen.
Apelo
Em seu 60º aniversário, a UNRWA enfrenta grandes dificuldades financeiras para dar continuidade ao seu trabalho, especialmente nos territórios palestinos ocupados, em Gaza e na Cisjordânia. “Infelizmente estamos chegando ao final de 2009 com nossos cofres praticamente vazios”, disse a comissária.
Durante entrevista coletiva, ela lançou um apelo para que as ações da agência não sejam ameaçadas. “Nos últimos doze meses ocorreu uma deterioração ainda maior das condições de vida tanto em Gaza como em várias comunidades da Cisjordânia, afetadas diretamente pela expansão de assentamentos israelenses ilegais”, afirmou Karen.
Ela ressaltou que, em Gaza, além das conseqüências da ofensiva militar israelense de janeiro passado, que resultou num grande número de mortes e destruição em larga escala, o bloqueio continua. “Ainda hoje os residentes de Gaza continuam sofrendo com a falta de bens básicos e materiais de construção”, declarou.
Segundo o diretor de operações da para Gaza da agência, John King, a população do território não tem suas necessidades nutricionais básicas supridas. “Sessenta por cento da população depende diretamente da ajuda alimentar para continuar sobrevivendo”, disse. Ele acrescentou que a situação sanitária é também extremamente séria. “Noventa por cento da água não é potável”, afirmou. De acordo com King, hoje uma família inteira em Gaza é obrigada a sobreviver em média com 700 dólares por ano.
Segundo os representantes da UNRWA na Cisjordânia, a situação é também preocupante, pois a maioria dos habitantes da região está com o acesso aos recursos básicos severamente restrito e as oportunidades de desenvolvimento são fortemente limitadas.