Omar Nasser, da Fiep*
Curitiba – Conhecido nacionalmente por sua produção agrícola – a safra 2006/2007 deve gerar 25,8 milhões de toneladas de grãos – o Paraná vem, aos poucos, avançando no segmento de alta tecnologia. Há doze anos formou-se no entorno da cidade de Londrina, norte do Estado, um pólo de indústrias de software. O agrupamento, formado por 149 empresas, consolidou-se como um importante Arranjo Produtivo Local (APL), especializado em Tecnologia da Informação. Hoje, exporta até 15% da sua produção.
No exterior, a maior parcela das vendas ocorre em países da América do Sul, diz Marcos von Borstel, presidente do APL. Como a estratégia é diversificar mercados, os países árabes surgem como futuros compradores. "Há interesse, sim, em vender para a região", afirma o empresário.
A linha de produção do APL de TI de Londrina é diversificada, formada por softwares ditos "pacote" ou "de prateleira", que podem ser encontrados em lojas especializadas; softwares "embarcados", integrados a máquinas e equipamentos como telefones celulares; e programas "customizados", feitos sob medida para o cliente. Além disso, há empresas na região que prestam assessoria e consultoria.
O APL de TI de Londrina envolve oito municípios do Norte Velho e Norte Novo do Paraná, gerando cerca de dois mil empregos diretos e indiretos. Na esteira dos investimentos capitaneados pelo empresariado local, várias instituições de ensino superior, como Universidade Estadual de Londrina (UEL), Universidade Norte do Paraná (Unopar), Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) e Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPr), entre outras, instalaram câmpus na região ou criaram novos cursos voltados para a área de informática.
A qualidade dos produtos gerados no APL ultrapassou fronteiras: apenas 15% deles são comercializados em Londrina e região. A outras cidades do Paraná é direcionada 30% da produção e para outros estados brasileiros 40%. De acordo com o presidente do APL, o segredo do sucesso está na cooperação entre o empresariado local, algo, aliás, que deve ser comum à filosofia dos APLs. "O objetivo não é nos digladiarmos pelo cliente da esquina, mas nos unirmos como se fôssemos uma única empresa. Temos de cooperar porque temos problemas que são comuns."
A união de amplos setores da sociedade londrinense foi fundamental para o surgimento do pólo. Há doze anos um grupo de empreendedores privados, representantes do poder público e de órgãos de classe da cidade reuniu-se e criou a Associação do Desenvolvimento Tecnológico de Londrina. Entidade sem fins lucrativos, a Adetec assumiu a missão de atuar na promoção educacional, da pesquisa e do fomento voltados para o desenvolvimento tecnológico e regional do Norte do Paraná.
Inovação
O APL de TI de Londrina constitui um dos pólos de desenvolvimento mais dinâmicos do país. A constatação é do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que realizou um amplo levantamento das condições de competitividade da indústria nacional. Os resultados foram reunidos no livro "Inovações, Padrões Tecnológicos e Desempenho das Firmas Industriais Brasileiras".
Na pesquisa, o Ipea identificou quinze agrupamentos econômicos importantes em todo o país, aos quais denominou Aglomerações Industriais Espaciais (AIEs). As AIEs são formadas por empresas próximas geograficamente, mas que podem apresentar diferenças quanto ao segmento em que atuam e ao grau de inovações que aplicam aos seus processos e produtos. Das quinze AIEs identificadas pelo Ipea, duas estão no Paraná: uma em Curitiba e entorno, reunindo dez municípios; outra em Londrina e região, congregando cinco cidades.
De acordo com o economista João Alberto De Negri, vice-presidente do Ipea e organizador do estudo, as AIEs paranaenses têm uma característica importante que as destacam das demais: "O que diferencia o Paraná de outras regiões é a capacidade de diferenciar e inovar os produtos". Diretor de Estudos de Produtividade, Tecnologia e inovação do Instituto, De Negri lembra, a título de comparação, que as AIEs da região Sudeste do país – exceto São Paulo – são formadas por indústrias que competem entre si na produção de bens padronizados.
No Paraná, ao contrário – assim como em Santa Catarina, São Paulo e no Rio Grande do Sul – dá-se grande importância à diferenciação e inovação. Uma estratégia que está de acordo com estes tempos de economia globalizada e concorrência acirrada. Ao lançar-se neste caminho, a empresa desenvolve novas tecnologias e incorpora mais conhecimento ao produto o que, no final das contas, leva ao aumento da competitividade e da renda. "Bens diferenciados possibilitam ao empresário um preço-prêmio de 30% ou mais", explica De Negri.

