Sâo Paulo – A filial brasileira da empresa alemã de lubrificantes Fuchs, em Barueri (SP), conseguiu certificação halal em fevereiro. Agora, a companhia poderá fornecer, de sua fábrica paulista, lubrificantes de grau alimentício para indústrias de alimentos brasileiras que exportam para o mercado islâmico. O documento foi emitido pela Federação das Associações Muçulmanas no Brasil, a Fambras Halal.
A certificação halal é um documento emitido para produtos fabricados por empresas que obedecem às diretrizes específicas da religião islâmica, sem produtos de origem suína ou alcoólica, e possui diversas exigências de rastreabilidade, composição das matérias-primas, armazenamento e manuseio dos produtos durante o processo produtivo.
A companhia tem uma linha de lubrificantes específicos para o segmento de alimentos e bebidas, que também atende os setores de nutrição animal, cosméticos e farmacêutica. Esses lubrificantes são utilizados em máquinas como compressores e rolamentos, e todo e qualquer equipamento que tenha uma possibilidade de contato incidental com o alimento. Eles estão presentes no processamento de produtos para exportação como suco de laranja, soja e carnes bovina e de frango; além de refrigerantes, biscoitos, pães, entre outros.
Em entrevista à ANBA, a especialista de produtos food grade (de grau alimentício) da Fuchs, Lílian Miakawa, afirmou que a certificação halal traz uma nova leitura sobre os produtos e processos utilizados na planta da companhia. “O selo fomentou nossa visão holística, provendo um senso de exigência ainda mais crítico e apurado para todo o processo. Agora temos um diferencial competitivo mais robusto, com a adoção de novas práticas, aprimoramento dos processos e maior qualificação da nossa equipe”, disse.
As demandas por lubrificantes com este tipo de certificado tendem a aumentar e ganhar cada vez mais importância na cadeia de suprimentos das indústrias de alimentos. A certificação da planta brasileira vem a somar às de outras quatro plantas do grupo, já reconhecidas em países como Alemanha (com duas fábricas), Estados Unidos e África do Sul, de onde a Fuchs brasileira importava seus lubrificantes alimentícios com certificação halal para atender o Brasil antes da planta de Barueri adquirir o certificado.
Para obter a certificação halal, a empresa aperfeiçoou os processos dentro dos requisitos exigidos, contemplando desde aquisição e armazenamento das matérias-primas até a construção de estruturas dedicadas à produção, movimentação e estocagem dos lubrificantes de grau alimentício. A Fuchs já possui uma série de certificações como a ISO 9001, e ISO 21469, pré-requisitos que contribuem para o processo de certificação halal.
Esta é uma garantia de qualidade e segurança para que toda a cadeia de fornecedores da indústria alimentícia não tenha nenhum tipo de contato com ingredientes não permitidos pela religião islâmica, nem contaminação cruzada, seja no processo de fabricação do lubrificante, no manuseio da matéria-prima, na estocagem no transporte e no produto acabado, de acordo com a especialista. “São garantias necessárias para o cliente final de alimentos e bebidas, que vai ser solicitado a mostrar que seu produto é halal”, explicou.
Miakawa contou que o aprimoramento dos controles e processos internos, treinamentos e outros investimentos resultaram em um sistema de qualidade mais forte, ágil e confiável. “A certificação halal fortalece mais uma etapa em nossa escalada de aprimoramentos e boas práticas visando tornar a Fuchs um sinônimo de excelência na produção e fornecimento de lubrificantes”, disse a especialista.
Mercado Halal
Segundo a especialista, as diretrizes do halal não se limitam apenas à questão religiosa. “Os produtos com certificação halal são cada vez mais procurados por consumidores não muçulmanos, como uma forma mais segura de consumo de alimentos saudáveis, de qualidade ou ainda como um símbolo de estilo de vida”, afirmou Miakawa.
Segundo material divulgado pela Fuchs, economia islâmica representa hoje 10% do Produto Interno Bruto (PIB) global e o Brasil, como produtor e exportador de destaque em alimentos, tem uma grande oportunidade de crescimento nos negócios. “Este cenário propõe um alto potencial de desenvolvimento não só para o mercado de alimentos, mas também para a cadeia de fornecedores dos segmentos de outras verticais como farmacêuticos, cuidados pessoais, cosméticos e agronegócio, que também utilizam lubrificantes de grau alimentício. Isto gera uma oportunidade de fortalecimento da indústria brasileira”, disse a especialista.
O Brasil lidera a lista de maiores exportadores de alimentos para a Organização para a Cooperação Islâmica (OIC) e as grandes empresas do setor de alimentos e bebidas no País já exportam para este mercado, o que demonstra que a demanda por lubrificantes de grau alimentício com a certificação halal tende a aumentar e ganhar cada vez mais importância na cadeia de suprimentos das indústrias de alimentos.
Outro fator que reforça a importância da certificação halal é o crescimento da população islâmica mundial, que possui taxas muito acima da média das demais religiões, fazendo com que o consumo islâmico seja o maior do mercado de alimentação global. São 1,8 bilhão de pessoas em 2020, e a estimativa é que chegue a 2,2 bilhões em 2030. Os dados são do relatório do State of the Global Islamic Economy de 2020.
“Por ainda carecer de uma rede de fornecedores direcionados a este nicho, o setor passa por transformações. A tendência é que surjam marcas exclusivas e novos centros de pesquisas de alimentos halal, além da formação de novos polos de produção específicos”, disse Miakawa.