São Paulo – O lucro com as reservas de petróleo na camada pré-sal, que estão sendo descobertas em grandes profundidades na costa brasileira, pode chegar a US$ 10 trilhões em um período de 35 a 50 anos. A estimativa é do engenheiro Paulo Metri, diretor técnico do Clube de Engenharia, no Rio de Janeiro, conselheiro da Federação Brasileira de Associações de Engenheiros e estudioso do tema.
O valor considera apenas as receitas obtidas com a comercialização da commodity, mas Metri avalia que haverá impacto em diversas atividades ligadas direta ou indiretamente à indústria petrolífera, desde a mineração, passando por pesquisas tecnológicas, produção de aço, fabricação de equipamentos, construção de navios e até na área de bens de consumo.
“O impacto inicial deve ser sentido por aqueles que são fornecedores [do setor do petróleo]”, afirmou. “Mas ao final deverá se refletir até na ‘linha branca’, por exemplo, pois os trabalhadores de um estaleiro, estando empregados e com melhores salários, vão gastar mais com geladeiras, fogões, etc.”, acrescentou.
Para fazer o cálculo do lucro com o pré-sal, Metri partiu do pressuposto de que as reservas devem chegar a 90 bilhões de barris. Atualmente, as previsões da Petrobras falam de volumes recuperáveis de petróleo entre 10,6 bilhões e 16 bilhões de barris, o que por si só é suficiente para dobrar as reservas do país. O engenheiro disse, porém, que ainda vai demorar para se ter uma visão exata do tamanho total dos depósitos e que técnicos da área fazem estimativas não oficiais próximas à que ele usou.
Metri considerou também que o valor médio do barril deve ficar em US$ 150 no período e que serão realizados investimentos e despesas da ordem de US$ 1 trilhão. “A dependência do petróleo deve permanecer grande e com valor sempre crescente”, afirmou. “Com a certeza da demanda, [as empresas] podem investir em toda a cadeia”, declarou.
Com base em dados de publicações internacionais, ele avalia que a demanda mundial por petróleo deve sair dos atuais 84 milhões de barris diários para 106 milhões em 2030, com um declínio da produção para 31 milhões de barris no período, criando um déficit de 75 milhões de barris – isso considerando apenas as reservas existentes hoje, sem contar novas descobertas, inclusive o pré-sal brasileiro.
Os dados importantes são, em sua opinião, que a demanda continuará a crescer, apesar da busca por fontes alternativas de energia, e a produção mundial tende a cair. No Brasil, a produção hoje gira em torno de 2,3 milhões barris equivalentes de óleo e gás e, com o pré-sal, pode chegar a 5,1 milhões em 2020.
Das áreas do pré-sal, segundo ele, 28% já foram negociadas sob o regime comum de concessão vigente no país, mas novos campos só devem ser licitados após a aprovação, pelo Congresso Nacional, de leis específicas sobre o tema elaboradas pelo governo. Elas ampliam a participação do Poder Público e da Petrobras nos negócios.
Metri avalia que a nova legislação, apesar de ter um modelo “complicado”, avança no sentido em que a Petrobras terá participação obrigatória em todos os consórcios; o governo será remunerado em petróleo e a receita da venda vai para um fundo social, o que ampliará a fatia do lucro que fica no país; e o fato da Petrobras ser a operadora única garante um maior número de compras feitas no próprio Brasil.
“Em 13 anos do regime de concessões, nenhuma empresa estrangeira comprou uma plataforma dentro do país, quem comprou foi só a Petrobras”, destacou. “Isso vai garantir muitas compras no Brasil e o desenvolvimento de tecnologias”, acrescentou.
Mesmo com maior participação e controle estatal, o engenheiro acredita que haverá interesse por parte das companhias estrangeiras, pois elas continuarão a lucrar com as vendas de sua fatia da produção. “A rentabilidade era muito grande e agora ela vai ser só grande”, ressaltou.

