São Paulo – Transição energética, ampliação da participação social nas discussões da COP28 e o potencial de parcerias em torno de obras de infraestrutura com investimentos estrangeiros. Essas foram algumas das pautas do encontro bilateral entre o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, e o presidente da Conferência das Nações Unidas para o Clima (COP28), Sultan Ahmed Al-Jaber. Os dois conversaram momentos antes das atividades oficiais do último dia da Cúpula da Amazônia, nesta quarta-feira (09) em Belém.
O evento na capital paraense reúne líderes dos oito países amazônicos – Bolívia, Colômbia, Venezuela, Peru, Guiana, Suriname, Equador, além do Brasil – e, nesta quarta-feira, abriga rodada de debates com convidados de países que contam com grandes porções de florestas tropicais, como Congo, República Democrática do Congo e Indonésia, além de representantes da França, Noruega e de organizações internacionais.
A intenção é que os países com grandes reservas de florestas tropicais levem à COP28 – que será realizada entre 30 de novembro e 12 de dezembro em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos – uma série de posições definidas em conjunto. A primeira delas foi expressa na Declaração de Belém, divulgada nesta terça-feira (08). O documento com mais de 100 parágrafos lista compromissos e prioridades para proteção da floresta e dos seus povos, em áreas como desenvolvimento sustentável e combate à fome e às desigualdades.
O presidente da COP28 saudou a iniciativa da reunião dos países amazônicos e manifestou a intenção de conferir ao evento o maior impacto possível. O presidente Lula reforçou a sua intenção de garantir que a conferência do clima, assim como ocorreu na Cúpula da Amazônia, tenha a maior participação possível da sociedade civil no diálogo com os chefes de Estado.
Al-Jaber destacou o importante papel que as nações do G20 desempenham na condução da ação climática. O Brasil é parte do grupo. Ele elogiou a liderança do presidente Lula na redução do desmatamento no Brasil em 34% nos últimos seis meses e na meta de zero desmatamento ilegal até 2030.
Lula e Al-Jaber também trataram sobre o potencial de cooperação entre Emirados Árabes e Brasil em áreas como transição energética e investimentos em infraestrutura. Sultan Ahmed Al-Jaber trouxe os cumprimentos do presidente dos Emirados e emir de Abu Dhabi, Mohammed bin Zayed Al Nahyan, e o desejo de aprofundamento das relações entre os dois países.
O presidente Lula ressaltou que na sexta-feira (11) o governo federal irá lançar o novo Programa de Aceleração de Crescimento (PAC), uma iniciativa que prevê centenas de projetos de infraestrutura em todo o Brasil e que poderá receber investimentos de outros países.
A ministra da Saúde Nísia Trindade também se reuniu com o presidente da COP28 e sua delegação durante a Cúpula da Amazônia. Em seu Twitter, Nísia falou que eles conversaram sobre “como lidar com os efeitos das mudanças climáticas, que afetam sobretudo as populações vulnerabilizadas, como muitas que vivem na Amazônia”.
A delegação de Sultan Ahmed Al-Jaber conta com a ministra de Relações Exteriores e Cooperação Internacional dos Emirados Árabes Unidos, Reem Al Hashimy, o ministro de estado de Comércio Exterior, Thani bin Ahmed Al Zeyoudi, e o diretor da COP28, Majid Al Suwaidi, além da líder de Alto Nível das Mudanças Climáticas nas Nações Unidas para a COP28, Razan Al Mubarak.
Discurso
Al-Jaber também fez um discurso na Cúpula da Amazônia, segundo informou a Agência de Notícias dos Emirados (WAM). “Vocês são os guardiões de um ecossistema vital e delicado que sustenta a vida, as vidas e os meios de subsistência, não apenas para os povos da região Amazônica, mas para o planeta que todos compartilhamos”, ele disse.
Em seu discurso, Al-Jaber elogiou o presidente Lula por defender políticas ousadas que priorizam os povos indígenas e servem de modelo para outras regiões. Ele também aproveitou a oportunidade para se envolver com líderes no Brasil – que deverá sediar a COP30 em 2025 -, para construir uma ponte entre a COP28 e a COP30 que garanta um progresso climático inclusivo, resiliente e duradouro.
“Aproveitaremos a experiência e as lições que a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) e os povos indígenas podem nos ensinar no avanço do objetivo duplo de proteger e restaurar a natureza, ao mesmo tempo em que avançamos no desenvolvimento sustentável.”
Durante sua visita ao Brasil, o Al-Jaber teve reuniões com líderes mundiais para discutir a agenda de transição energética da COP28, inclusive com Luis Arce, presidente da Bolívia; Gustavo Petro, presidente da Colômbia; Félix Tshisekedi, presidente da República Democrática do Congo; e Mark Phillips, primeiro-ministro da Guiana.
O presidente da COP28 se reuniu com a ministra dos Povos Indígenas do Brasil, Sonia Guajajara, e representantes de lideranças indígenas da Amazônia. Ele também teve reuniões bilaterais com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva; com o chanceler Mauro Vieira; com o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates; com o vice-presidente de Inovação, Tecnologia e Desenvolvimento Sustentável da Braskem, Antonio Queiroz, entre outros.
“Colocaremos os direitos dos povos indígenas em posição proeminente em nossa abordagem da natureza. Embora representem 5% da população global, as comunidades indígenas protegem mais de 80% da nossa biodiversidade”, declarou Al-Jaber.