Doha – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursou na abertura do Fórum Econômico Brasil-Catar: Oportunidades e Negócios, em Doha, capital do país árabe, nesta quinta-feira (30). No evento, que contou com a presença de empresários e autoridades brasileiras e do Catar, Lula reforçou o interesse em estreitar relações comerciais com os catarianos e disse esperar que o país diversifique sua pauta de investimentos no Brasil.
A visita bilateral antecipa as celebrações do cinquentenário das relações diplomáticas com o Catar, no ano que vem. Após o fórum, o presidente Lula fez uma visita oficial ao emir Tamim bin Hamad Al-Thani.
“Queremos olhar juntos para o futuro e atrair uma nova onda de investimentos para o Brasil. O nosso comércio bilateral cresceu de maneira exponencial, passando de cerca de US$ 38 milhões em 2003 para os atuais US$ 1,6 bilhão. O Catar é, atualmente, uma de nossas principais portas de entrada para negócios com o Oriente Médio e conta com vibrante empresariado com intenso interesse pelo Brasil”, declarou o presidente no discurso.
Lula vê oportunidades em diversos setores. “Há amplo espaço para diversificação de nossa pauta comercial com produtos de maior valor agregado, como autopeças, produtos de defesa e aeronaves da Embraer”, disse.
Sobre o agronegócio brasileiro, o presidente afirmou que o governo está comprometido com uma agricultura sustentável e alinhada com as melhores práticas em matéria ambiental. “Mantemos manejo cuidadoso e criterioso dos produtos halal, com respeito pelos ritos islâmicos e pela cultura catariana”, disse.
“O Brasil também está implementando medidas de facilitação de comércio, como um sistema eletrônico de validação e assinatura de documentos para operações de comércio bilateral. Com esse sistema – que já está em vigor em nosso comércio com o Egito e a Jordânia – teremos o potencial de reduzir os prazos e os custos das transações comerciais entre o Brasil e o Catar”, disse o presidente, se referindo ao sistema Ellos Blockchain, da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, que transforma em digital o despacho aduaneiro no comércio com os países árabes.
Lula afirmou que o aperfeiçoamento da infraestrutura é um desafio urgente que o Brasil deve enfrentar para consolidar seu desenvolvimento. “Lançamos neste primeiro ano do meu governo o novo PAC, que contempla oportunidades de investimentos abertas e atrativas para estrangeiros. Queremos transformar o Brasil em um canteiro de obras, construindo, ampliando e modernizando portos, aeroportos, rodovias, ferrovias, hidrovias. Vamos superar os gargalos que minam a competitividade brasileira”, declarou. O PAC é o Programa de Aceleração do Crescimento do Brasil, que engloba uma série de projetos de investimentos.
O chefe da Casa Civil, Rui Costa, apresentou investimentos planejados de US$ 347 bilhões em infraestrutura pelo novo PAC, enfatizando a agenda verde e os esforços do País rumo a uma economia sustentável. Costa falou sobre oportunidades de investimento em ferrovias, rodovias, hidrovias, portos, aeroportos, entre outros, e sobre a perspectiva de recuperar 40 milhões de hectares para dobrar a produção de alimentos em dez anos.
Fernando Haddad, ministro da Fazenda, falou com a imprensa após a abertura do evento e elogiou a capacidade do Brasil de atrair investimentos em projetos relacionados à sustentabilidade. “O Brasil pode ser o país com melhores condições de investimentos sustentável no mundo, tanto do ponto de vista social quanto do ponto de vista ambiental”, disse.
A viagem ao Catar, para Haddad, tem boas chances de atrair novos parceiros para o Brasil, como ocorreu na Arábia Saudita. “São quase R$ 50 bilhões que a Arábia Saudita pretende investir no Brasil. Isso vai melhorar logística, produtividade da economia brasileira, gerar empregos. Com o Catar, estamos começando uma negociação. No caso da Arábia Saudita, já está adiantada, e o fundo que o reino pretende constituir já está em curso. O Catar é boa promessa”, concluiu Haddad.
O Fórum Econômico Brasil-Catar foi organizado pela Câmara Árabe, Câmara de Comércio e Indústria do Catar e pelo Ministério de Relações Exteriores do Brasil, por meio da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil).
O secretário-geral da Câmara Árabe, Tamer Mansour, encerrou o evento ressaltando a importância das parcerias entre o Brasil e os países árabes, “parceria que está cada dia mais forte no empresariado”.
“O presidente Lula nos países árabes é uma lenda. Ele pensa na relação com esses países, não pensando apenas em economia, mas em laços culturais, e esses laços culturais criaram um relacionamento econômico. Há 20 anos, quando se falava sobre os árabes e o Brasil, se falava sobre carne, sobre frango. Hoje, falamos em parcerias estratégicas”, disse Mansour.
Clima
O presidente viaja ainda nesta quinta-feira para Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, onde irá participar da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, a COP28. Lula ressaltou que o Brasil pretende se consolidar como um dos protagonistas na transição global em curso rumo a uma economia sustentável.
“A transição energética é nova oportunidade de repetir essa história de sucesso nas áreas de energia de baixo carbono, reaproveitamento de resíduos, infraestruturas verdes e sociobiodiversidade. O Brasil vai ser em breve um exportador de sustentabilidade. Temos imenso potencial nos setores de energia solar, eólica, biocombustíveis e hidrogênio verde. Na COP28, lançarei um chamado à ação e à ambição no enfrentamento à crise climática. Estou certo de que o Catar também poderá ser um aliado importante nessa agenda”, declarou Lula.
Paz no Oriente Médio
“Compartilhamos a vocação pela paz”, disse o presidente Lula. “O Catar é um ator diplomático relevante graças à sua política externa de perfil ativo e independente, e um interlocutor-chave em vários temas de amplitude regional e global. Neste momento, em que a guerra volta a assolar o Oriente Médio, o Catar volta a desempenhar papel central em prol da paz no conflito Israel-Palestina”, disse.
Lula saudou a mediação do Catar para o acordo anunciado há poucos dias entre Israel e o Hamas, que envolve uma trégua temporária e a libertação de reféns de ambos os lados, entre eles, mulheres e crianças.
Leia mais sobre as visitas do presidente Lula aos países árabes