Geovana Pagel
São Paulo – Em 2005, o setor joalheiro nacional faturou US$ 100 milhões em exportações de jóias prontas. Aos poucos, o Brasil vem ganhando um lugar de destaque no mercado internacional do segmento, que movimenta US$ 15 bilhões por ano. As jóias brasileiras, luxuosas e ricas em design, já são vendidas para mais de 50 países. Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Arábia Saudita figuram entre os principais importadores.
"Acredito que a super afinidade comercial (entre brasileiros e árabes) está influenciando o estilo de alguns dos mais importantes fabricantes brasileiros. A boa notícia é que nossa produção está ficando cada vez mais linda", afirma a consultora de estilo do Instituto Brasileiro de Jóias e Gemas (IBGM), Regina Machado.
Segundo Regina, o mercado brasileiro tem demonstrado sensibilidade para atrair o interesse do mercado árabe. "Dessa forma, vai abrindo portas numa transformação irreversível. Nos descobrimos uns aos outros", afirma.
De acordo com a consultora de estilo, que acompanha de perto as tendências e a produção das joalherias brasileiras, há uma forte influência oriental e romântica nas últimas coleções lançadas por joalherias, principalmente as que vendem para o mercado externo.
"As pessoas passaram a buscar algo diferente da homogeneização provocada pela globalização que deixa tudo parecido", explica. "Por isso algumas joalherias estão expressando uma tendência importante do universo do consumo do luxo, que é buscar nas culturas distantes dos grandes centros inspiração para suas jóias e assim desbanalizar suas coleções", ressalta.
De acordo com Regina, o uso de peças grandiosas também é uma tradição oriental. "E o Brasil recebe influência do uso de adornos africanos e indígenas. O corpo da mulher brasileira, assim como da mulher árabe, está preparado para receber o adorno e exibi-lo com elegância", avalia.
A consultora de estilo explica que, aos poucos, o Brasil começa a se libertar da tradição de exportador de matéria-prima para conquistar o mundo com jóias luxuosas, com valor agregado. De acordo com especialistas do setor, as jóias do mercado de luxo custam, em média, entre R$ 25 mil e R$ 40 mil.
Muitos desses exemplos de jóias luxuosas e exuberantes foram apresentados durante a 42ª edição da Feira Nacional da Indústria de Jóias, Relógios e Afins (Feninjer), realizada de 4 de 7 de fevereiro, no Transamérica Expo Center, em São Paulo.
A Fiamma, de Belo Horizonte, que exporta para o mercado árabe desde 2002, apresentou novos modelos de jóias da sua já tradicional linha Filigrana, com jóias feitas à mão. "Nossos colares e brincos estão com um ar bem oriental. A maioria das peças foi confeccionada com brilhantes e muito ouro amarelo", explica a designer Anna Vitória Motta. "Como nossas peças são grandes e vistosas, fazem o maior sucesso entre as mulheres árabes", contou.
A consultora Regina destaca que a estética da filigrana, aplicação e entrelaçamento de fios de ouro, usada pelas joalherias brasileiras como a Fiamma, por exemplo, atrai muito a atenção do mercado árabe e é herança dos mestres da ourivesaria portuguesa, que, por sua vez, foram influenciadas pelos mestres da ourivesaria moura.
Durante a Feninjer, a fabricante mineira também apresentou a linha de medalhões coloridos: dourado, amarelo, verde e azul e a linha de amuletos de proteção como figa, olho grego, trevo de quatro folhas e com o símbolo ankh, que, segundo Anna Vitória, era considerado a chave da vida pelos faraós egípcios.
Muitas pedras e muito ouro
A designer carioca Márcia Mór levou para a Feninjer suas belas e vistosas jóias confeccionadas em ouro amarelo e muitas pedras. "Eu sempre apresento jóias de todas as minhas coleções. Nesse ano o destaque é para a linha vitoriana e para algumas pedras como turmalinas, citrinos, ametistas, rodolitas e esmeraldas”, explica Márcia.
A designer explica que trabalha muito com pastilhas grandes, que garantem jóias com superfícies exuberantes. "A pedra é a grande vedete das minha jóias. É também o que garante exclusividade. Não abro mão dessa característica", afirma. As jóias de Márcia Mór conquistaram o mercado externo há três anos. Arábia Saudita é um de seus maiores importadores.
Linha retrô e valorização do sagrado
A Vancox, também com fábrica em Belo Horizonte, tem os Emirados Árabes Unidos e Bahrein como seus principais importadores. Buscando como diferencial a produção de jóias exclusivas, a empresa investe pesado em design. Dos 50 funcionários da empresa, 10 são designers.
Nessa edição da Feninjer, ela apresentou uma coleção que sugere a beleza, as tradições e símbolos sagrados como contrapontos que equilibram o ritmo do mundo contemporâneo. A designer Wanda Gontijo, buscou inspiração na onda nostálgica que, aos poucos, toma conta do mundo.
Segundo ela, perdidos diante de extremo avanço robótico e tecnológico, o ser humano teme a desumanização e evoca o sagrado – guardado na memória de objetos, imagens, símbolos, ritos – em busca do contraponto que equilibra.
Nas coleções apresentadas durante a Feninjer, estão presentes o religioso e o místico. Medalhões, imagens de santos, relicários, mandalas e figas são usados como símbolos de proteção. As peças são trabalhadas em ouro amarelo, ouro branco e muitas pedras brasileiras, que são uma das marcas da fabricante. A linha Lótus, inspirada na flor de lótus, utiliza ouro amarelo e cristal branco.
Do túnel do tempo
A joalheria GolDesign buscou no passado, num salão de um castelo repleto de jóias palacianas, a inspiração para a produção da coleção vitoriana. "É a ousadia sem limites que inspira as novas possibilidades que buscamos num passado distante para reinventarmos o presente numa fusão de idéias globais", explica a designer Ana Márcia Albuquerque.
Segundo ela, a suntuosidade, romantismo e sedução são o forte da coleção. Nas peças, rubis, iolitas e safira oriental são os destaques. Com seis anos de fundação, a indústria exporta para França e Estados Unidos. "Estamos sempre buscando novos clientes e acredito que essa coleção, em especial, tem grandes chances de encantar as consumidoras árabes".
A volta dos anos dourados
Há cinco anos a designer mineira Cida Santos, que trabalha no ramo desde 1986, apostou no próprio nome como marca das jóias que cria. Na Feninjer a vitrine do estande de Cida chamava a atenção pelas jóias douradas, em ouro fosco e pedras grandes. Ela aproveitou a participação na feira para lançar a coleção rústica que tem cara da praia e pode ser usada no dia-a-dia.
"Trabalhei com ouro amarelo fosco, de forma totalmente artesanal. O diferencial do meu trabalho é fazer uma jóia grande, volumosa, com muita criatividade e inovação", destaca. O ouro amarelo, explica Cida, é a grande tendência de mercado. "Vivemos um período de retorno total ao dourado. Basta observar a quantidade de mulheres circulando pela feria com calçados e bolsas dourados", observa.
As jóias criadas por Cida já são vendidas para os Estados Unidos e França, além de todo o território nacional. Em breve ela pretende conquistar novos mercados. "Acredito que minhas peças sejam atraentes para os países árabes. Como as mulheres árabes adoram ouro e jóias grandes vão gostar das minhas criações", aposta.
A cadeia produtiva
No ano passado, a cadeia produtiva do setor de gemas e jóias movimentou US$ 766 milhões no país. A expectativa para 2006, de acordo com dados do IBGM, é chegar a US$ 1 bilhão. O faturamento do varejo, com 20 mil empresas, foi de US$ 540 milhões, com geração de 500 mil empregos diretos.
Contatos
Fiamma
Telefone: (31) 3225.49732
E-mail: fiamma@fiamma.com.br
Site: www.fiamma.com.br
Márcia Mór
Telefone: (21) 2252.2611
E-mail: marciamor@marciamor.com
Site: www.marciamor.com
Vancox
Telefone: (31) 3225.0650
E-mail: vancox@vancox.com.br
Site: www.vancox.com.br
GolDesign
Telefone: (31) 3271.2636
E-mail: comercial@goldesignjoias.com.br ou goldesign@gmail.com
Site: www.goldesignjoias.com.br
Cida Santos
Telefone: (31) 7811.8364
E-mail: cidasantos.joias@veloxmail.com.br

