Isaura Daniel
São Paulo – A maçã é a fruta que mais deve gerar receitas com exportações para o Brasil este ano. As projeções do Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf) indicam que a maçã vai passar do quarto lugar para o primeiro no ranking de frutos exportados pelo país. Os produtores de maçã faturaram US$ 72,5 milhões com vendas externas até o mês de setembro, o que poderá fazer a fruta ultrapassar a manga, a uva e o melão em receitas com comércio exterior.
No ano passado, a manga foi o fruto mais exportado pelo país, seguido pela uva e o melão. "Algumas destas frutas tiveram problemas com o excesso de chuvas e a maçã teve um desempenho brilhante na exportação", diz o gerente de exportação do Ibraf, Maurício de Sá Ferraz.
As exportações de manga, por exemplo, não devem atingir os mesmos US$ 73 milhões do ano passado. Já as vendas internacionais de maçã cresceram 91% até setembro deste ano em faturamento. Em volume, as exportações dobraram e atingiram 152,2 mil toneladas. Como a colheita ocorre entre os meses de janeiro e maio, as vendas normalmente estão concluídas até agosto.
O aumento da comercialização externa ocorreu devido a um expressivo crescimento da produção e também à queda de safra enfrentada pela Europa no ano passado. Foram colhidas 989,9 mil toneladas de maçã nos pomares brasileiros este ano, contra 701 mil no ano passado. A Europa comprou cerca de 90% das maçãs exportadas pelo país este ano, o que foi facilitado pela queda de preço decorrente da boa safra no Hemisfério Sul. A tonelada foi vendida por uma média de US$ 450, entre 5% a 10% menor que no ano anterior. O preço médio histórico da tonelada de maçã é de US$ 500.
De acordo com o vice-presidente da Associação Brasileira de Produtores de Maçã (ABPM), Laor Alves, os produtores brasileiros também investiram em novas tecnologias, práticas de cultivo, defesa fitossanitária e fertilização para melhorar a produtividade e a qualidade dos produtos e ter acesso ao mercado internacional. "Dois terços do aumento de produção ocorreu devido ao crescimento da produtividade", diz Alves. As condições climáticas favoreceram a produção.
Até o mês de setembro, a maçã já respondia por cerca de 30% das receitas do Brasil com exportações de frutas, conforme dados do Ibraf. O país faturou US$ 228,5 milhões com vendas internacionais do setor nos nove primeiros meses do ano. Foram vendidas 570 mil toneladas de frutas brasileiras ao exterior até setembro.
Pólos de maçã
A maçã normalmente precisa de frio para se desenvolver bem. Exatamente por isso, os dois maiores estados produtores são Santa Catarina e Rio Grande do Sul, onde as temperaturas são mais baixas no inverno. Santa Catarina é o maior pólo, com 532 mil toneladas produzidas na última safra, e Rio Grande do Sul é o segundo, com 409 mil.
Os dois estados abrigam as duas maiores cidades produtoras: Fraiburgo, em Santa Catarina, e Vacaria, no Rio Grande do Sul. De acordo com o presidente da Associação Gaúcha dos Produtores de Maçã (Agapomi), Blaise de Laurens Castelet, a fruta precisa de 800 horas a mil horas de temperatura abaixo de sete graus, no inverno, para brotar bem. Os tipos de maçãs mais produzidos no país são a gala, de origem inglesa, e a fuji, japonesa.
O estado do Rio Grande do Sul aumentou expressivamente a sua produção de maçã este ano. Os dados da Agapomi mostram que a colheita atingiu 408 mil toneladas contra 310 mil do ano passado. As exportações quase dobraram, saltando de 66 mil toneladas para 35 mil toneladas. Para 2005, os gaúchos esperam exportam 100 mil toneladas de maçã, de acordo com Castelet.
O desempenho das exportações brasileiras de maçã em 2005, porém, ainda vai depender de vários fatores, como a safra européia e o clima. Neste ano, a União Européia incorporou um novo sócio, a Polônia, grande produtora de maçãs, o que deve acirrar a concorrência para os brasileiros na região. O vice-presidente da ABPM diz que ainda é cedo para projeções, mas acredita que tanto a safra, quanto as exportações, possam ter uma pequena queda em 2005.
Maçã para os árabes
Os países árabes adquirem pouca maçã brasileira, mas estão aumentando as suas importações. Eles passaram de compras de 22 toneladas entre janeiro e setembro de 2003 para 656 toneladas no mesmo período deste ano, volume 29 vezes maior. A receita obtida pelos produtores de maçã do país com vendas para as nações da Liga Árabe também saiu de US$ 17 mil para US$ 324 mil.
As lideranças do setor, porém, acreditam que a região pode ter maior participação como destino das exportações brasileiras. "As vendas para lá já começaram este ano, mas podem crescer. Estamos tentando achar mercado em todos os lados", diz Castelet. Alves diz que uma das dificuldades para vender ao Oriente Médio é o transporte. Como os envios precisam ser feitos em transporte marítimo refrigerado, a longa distância acaba tornando o custo alto demais para o preço da maçã.
Mesmo assim, há várias iniciativas de vendas para a região. Os Emirados Árabes Unidos, por exemplo, constam no ranking dos 20 maiores compradores da maçã gaúcha. O país comprou 22 toneladas da fruta dos pomares do Rio Grande do Sul em 2003. O maior comprador da maçã gaúcha foi a Holanda, com 30 mil toneladas.
Renar, de Fraiburgo
A produtora e exportadora de maçãs catarinense Renar Maçãs, com sede em Fraiburgo, é uma das empresas que tem planos de começar a vender a fruta nos países árabes. Representantes da empresa devem fazer uma visita à região no próximo ano para prospectar negócios.
A Renar produziu, neste ano, 35 mil toneladas de maçãs em pomares próprios e exportou 15 mil toneladas. Em 2005, a produção deve ser mantida, mas as vendas internacionais deverão ultrapassar 20 mil toneladas. A companhia também compra maçã de terceiros para comercialização.
A Renar acaba de pedir, aliás, registro na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A intenção é abrir o capital e emitir 10 milhões de ações ordinárias e captar R$ 16 milhões. Metade do dinheiro será investido em aumento de exportações, de acordo com o diretor Relações com Investidores, Elvito Coldebella.
As exportações deste ano já significaram um crescimento de 50% sobre o ano anterior, quando foram vendidas 10 mil toneladas de maçãs no mercado internacional. A Renar vende a fruta para a Europa e a Ásia e mantém mais de 900 hectares com pomares próprios.
A empresa começou a trabalhar com maçãs em 1974, no mesmo período em que a fruta começou a ser plantada no país. Até então, os brasileiros consumiam apenas maçãs importadas. Hoje, a produção ultrapassa o consumo interno e o país passou a ser um exportador da fruta.

