Débora Rubin
São Paulo – Nas mãos de cinco artesãos da periferia de São Paulo, a madeira que é jogada no lixo ganha vida. As caixinhas, mesas, luminárias, bandejas, escovas e porta-trecos são criados e confeccionados por meio da técnica da marchetaria tanto com folhas de madeira como com pedaços de madeira maciça. Todo material é encontrado na rua ou doado por lojas, marcenarias e até açougues, que dão ossos e chifres que complementam as peças. O trabalho faz parte do Projeto Pinóquio – Dando Vida à Madeira, criado este ano por jovens de Perus, bairro que fica na periferia de São Paulo.
Cleiton Ferreira, um dos cinco artesãos do projeto, conta que a idéia nasceu depois que os cinco fizeram um curso de marchetaria oferecido pela prefeitura de São Paulo. Uma vez mestres da arte da madeira, decidiram levar o conhecimento para dentro da comunidade e ensinar novos artesãos. Ao longo deste ano, formaram a primeira turma. "Queremos mostrar que é possível aprender uma arte e ainda tirar uma renda com ela", diz Cleiton, que sobrevive com o trabalho no Projeto Pinóquio. Além de formar profissionais em uma comunidade de baixa renda, ajudam a reutilizar matéria-prima que viraria lixo nas ruas da grande cidade.
Os produtos feitos pelos cinco criadores do Pinóquio são divulgados principalmente em grandes feiras que acontecem na cidade. Ao longo do ano, eles participaram de cinco, sendo a última sobre meio ambiente industrial. "Só participamos das feiras onde há espaço gratuito para projetos sociais. Do contrário, não teríamos como bancar o espaço", explica Cleiton. Ainda assim, as feiras renderam contatos estratégicos. Hoje já há um volume considerável de pedidos por encomendas, tanto de consumidores diretos como de revendedores.
As peças do projeto Pinóquio custam entre R$ 15 – as caixinhas pequeninas – e R$ 200 – mesas, luminárias e outros produtos mais trabalhosos. Segundo Cleiton, a tendência é fazer cada vez mais móveis. Tudo dependerá da demanda.
Culturas excluídas
O Pinóquio faz parte de um projeto maior de inclusão social chamado Comunidade Cultural Quilombaque cujo objetivo é colocar os jovens de Perus em contato com temas da cultura brasileira esquecidos pela maioria da população. Ou, como diria Cleiton, para promover o "resgate de culturas excluídas". Além de oficinas culturais e artísticas – o que inclui um grupo de percussão, que trabalha ritmos regionais – o grupo mostra documentários, realiza debates e orienta pesquisas e estudos sobre a cultura brasileira, em especial a cultura negra.
Quilombaque
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