São Paulo – Rações, brinquedos, casinhas, medicamentos, itens de higiene e acessórios para gatos. É principalmente atrás de produtos para seus bichanos que os moradores de países árabes entram em petshops. Os artigos para cachorros, porém, estão cada vez mais presentes nas prateleiras desses estabelecimentos, já que os cães vêm ganhando espaço como animal de estimação no mundo árabe.
Quem falou para a reportagem da ANBA sobre o assunto foi o coordenador de Inteligência Comercial do Instituto Pet Brasil, Marcos Lélis. “O grande pet de lá é o gato, mas o cachorro vem ganhando espaço”, afirmou. Segundo ele, isso ocorre principalmente nos países árabes que estão em processo de abertura ao exterior, com aumento da presença de estrangeiros, como é o caso dos Emirados.
Enquanto o gato é o animal de estimação preferido dos árabes e os cachorros são considerados por eles muito mais animais de segurança do que de casa, o cão é o animal amigo dos ocidentais. A presença maior desses estrangeiros para trabalhar ou viver em cidades árabes acarreta a disseminação dos seus costumes. “Quanto mais estrangeiros, mais ocidentais, mais o [número de] cachorro[s] vai crescer”, afirmou ele.
A chegada do cachorro facilita a exploração do mercado árabe pelas indústrias brasileiras de produtos para pets. Isso porque o Brasil tem vasta expertise na área, já que quase metade dos lares do Brasil têm cães como animais de estimação. Mas a indústria brasileira também produz comidas e artigos para gatos, para passarinhos, para peixes e para todo tipo de pet. “O Brasil é o quarto mercado mundial de pet, com isso a gente acaba tendo uma boa quantidade de produção”, relata Lélis.
Como a fabricação de produtos para animais de estimação, tais quais as rações, está associada ao setor agrícola, no qual o Brasil é muito forte, o País sai na frente na competitividade internacional no segmento, segundo o coordenador. Há várias empresas multinacionais produzindo rações para pets no Brasil. “A gente produz principalmente os alimentos para os pets, mas, é claro, produzimos também todos os outros”, diz Lélis, citando os brinquedinhos, as roupas, as casinhas e outros.
Segundo dados do Instituto Pet Brasil, no ano passado o País produziu 2,85 milhões de toneladas de alimentos para animais de estimação, o chamado pet food. É no segmento da comida para os bichinhos de casa que a indústria brasileira também se destaca na exportação. No ano passado, o faturamento com a exportação de itens para pets foi de US$ 295 milhões, sendo que 90% disso foi em alimentos. Lélis conta que o Brasil exporta principalmente para os países da América Latina.
Mercado a explorar
O mercado árabe de produtos para pets também está no foco dessa indústria, mas ainda é algo novo. Os Emirados Árabes Unidos são um dos mercados foco do programa de incentivo à internacionalização do segmento, que é levado adiante pelo Instituto Pet Brasil com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil). O mercado de produtos para pet dos Emirados foi tema de um webinar promovido pelo instituto, com a participação da Câmara de Comércio Árabe Brasileira no início de julho.
“A gente sabe que os Emirados são um ponto de partida para os outros mercados árabes”, afirmou Lélis. Pelo projeto do Instituto Pet Brasil e a Apex-Brasil, empresas do segmento já participaram de feiras no país árabe com o intuito de abrir mercado. O coordenador de Inteligência Comercial do Instituto Pet Brasil afirma que há cerca de três anos o instituto começou a olhar para esse mercado.
De acordo com dados da Câmara Árabe, no ano passado o mercado árabe como um todo importou US$ 862 milhões em produtos para pets, dos quais US$ 7,5 milhões do Brasil. Apesar do valor baixo das exportações brasileiras, elas cresceram 85% sobre o ano anterior. Os principais produtos vendidos foram preparações para alimentação e alimentos para cães e gatos.
Segundo Lélis, os Emirados não são um mercado grande como o brasileiro, mas há atratividades. “O gasto por pet é muito elevado em relação ao Brasil”, afirma. Além disso, o mercado não é tão concentrado, o que abre espaço para novas empresas, e a tendência é de crescimento do consumo. A maior adoção dos costumes ocidentais é dos motivos para a expectativa de crescimento do mercado.
Companhia em casa
No Brasil, o faturamento do mercado de produtos para pets cresceu durante a pandemia da covid-19. O aumento foi de 4% no primeiro trimestre do ano sobre o mesmo período de 2019. Marcos Lélis acredita que esse bom desempenho tenha sido um fenômeno mundial, principalmente nas regiões onde a pandemia foi mais significativa. “As pessoas ficaram em casa, acabaram cuidando melhor dos pets ou pegaram um petzinho porque estavam solitários em casa”, relatou ele à ANBA.
O coordenador conta que a presença de pets nas casas está muito associada a questões demográficas e de urbanização. Quanto mais idosos, crianças e pessoas solteiras há na população de um país, maior presença há de animais domésticos, já que os pets costumam ser companhia para essas pessoas. “Além disso, quanto mais urbanizada for a sociedade, maior a presença de pets”, diz.