Alexandre Rocha
São Paulo – A Petrobras não só ficou mais uma vez no topo da lista das maiores exportadoras do Brasil, com vendas externas de quase US$ 4,4 bilhões – mais do que o dobro das receitas cambiais conseguidas pela segunda colocada, a Vale do Rio Doce – como teve em 2003, ao completar 50 anos, o maior lucro de sua história em termos absolutos.
Se as exportações da estatal aumentaram 24,57% no ano passado, o lucro líquido passou de R$ 8,98 bilhões em 2002 para R$ 17,795 bilhões em 2003, um crescimento de 120%. Já a receita operacional líquida, ou seja, o que a companhia faturou com sua atividade fim (exploração, refino e comercialização de petróleo, gás e combustíveis) ficou em R$ 95,743 bilhões, 38% a mais do que em 2002.
De acordo com relatório divulgado pela empresa, um dos principais fatores que contribuíram para esses resultados foi o aumento do preço do petróleo no mercado internacional. O preço médio do barril de petróleo tipo Brent ficou em US$ 28,84 em 2003, 15% a mais do que em 2002.
Ainda no quesito preço, o diretor da consultoria Expetro, Jean Paul Prates, disse que a Petrobras consegue manter no Brasil um patamar de preço dos combustíveis “acima do preço de referência internacional”. Isso porque, embora ela não detenha mais o monopólio legal do petróleo no país, na prática ela é a maior operadora e dita as regras do mercado.
“Internamente ela atua sob um regime de preços administrados por ela mesma, e o seu maior mercado é o Brasil. Digo ‘administrados’ não do ponto de vista governamental, mas de que ela tem a hegemonia no mercado”, afirmou Prates.
Mas, segundo o executivo, a Petrobras faz isso com habilidade. Ela mantém os preços internos altos o suficiente para garantir seus ganhos, mas não altos demais, o que poderia estimular as importações.
Descobertas
Em segundo lugar, Prates disse que ocorreu um “recorde” de descobertas de petróleo e gás nos últimos tempos. De fato, o relatório da empresa aponta que 2003 foi “um dos períodos de maior sucesso exploratório nos 50 anos de existência da Petrobras”. As reservas brasileiras aumentaram 14%, passando de 11,01 bilhões de barris em 2002 para 12,6 bilhões em 2003.
Já a produção de óleo e gás aumentou 12,5% na comparação com 2002, chegando a 2.036.500 barris por dia em média. Isso inclui tanto a produção nacional, como o que a Petrobras produz no exterior.
Na avaliação de Prates, a produção interna já equivale a algo em torno de 80% a 85% do consumo. Ele acredita quem em dois anos o Brasil deverá tornar-se auto-suficiente em petróleo.
Investimentos
Um outro fator que estimulou o crescimento, na opinião de Prates, foram os investimentos realizados. Ele destacou a compra da argentina Perez Companc, rebatizada de Petrobras Energia, “uma empresa excelente, adquirida a um preço muito bom”, com reservas na Argentina, Bolívia, Peru, Equador e Venezuela que contribuíram em muito para o aumento das reservas da estatal brasileira no exterior, que passaram de 1,1 bilhão de barris em 2002 para 1,9 bilhão de barris em 2003.
No total, a companhia investiu R$ 18,6 bilhões no ano passado. Na verdade, houve uma redução de 2% no nível de investimentos, cerca de metade desse valor foi investida nas atividades de exploração e produção. Nos próximos cinco anos a Petrobras quer investir US$ 8 bilhões (R$ 23,3 bilhões) por ano.
O grosso das exportações da Petrobras é formado por óleo bruto, na verdade ela troca o petróleo brasileiro, de um tipo mais pesado, por óleo de melhor qualidade no mercado internacional. Isso, inclusive, faz dela também a maior importadora do Brasil, e deficitária em sua balança comercial. Em 2003 ela importou o equivalente a US$ 4,7 bilhões. Houve, porém, uma redução de 2,94% nas importações em comparação com 2002.
Refino
De acordo com Prates, as exportações da Petrobras são motivadas por fatores técnicos, por causa do perfil do refino no Brasil, e para atender a compromissos financeiros. Ele disse, porém, que não é verdade, como se costuma dizer, que o Brasil não tem tecnologia para refinar o óleo pesado.
Segundo ele, o perfil do refino no país está mudando, e isso já vem ocorrendo há cerca de 10 anos, para processar o óleo pesado e produzir combustíveis de melhor qualidade. De fato, de acordo com informações da Petrobras, o percentual do óleo nacional nas refinarias nacionais chegou a 80%. E no ano passado o investimento nesse setor foi de R$ 4,547 bilhões, 84% a mais do que em 2002.
Além de atuar no Brasil, a Petrobras opera em vários outros países, como Angola, Argentina, Bolívia, Cazaquistão, Colômbia, Equador, Estados Unidos, Guiné Equatorial, Nigéria, Peru, Trinidad e Tobago e Venezuela.
Entre os países árabes ela atualmente participa de uma licitação para a exploração de gás natural na Arábia Saudita e, no final do ano passado, foi assinado um memorando de intenções com a argelina Sonatrach para a exploração de petróleo em águas profundas, tecnologia pela qual a empresa brasileira é internacionalmente reconhecida.
A Petrobras emprega cerca de 36 mil pessoas.
Site da empresa
www.petrobras.com.br