São Paulo – A marca brasileira de cosméticos Adélia Mendonça conquistou neste mês a certificação halal. A empresa tem 16 anos de história e foca, agora, em expandir seus negócios para os países árabes. O certificado vale para todas as linhas produzidas pela companhia, que tem portfólio com 150 itens fabricados em indústria própria. A empresa se planeja para a exportação de até 15 produtos de diferentes segmentos para três países árabes.
A marca Adélia Mendonça é especializada em produtos para a pele e tem administração familiar. O trabalho abrange desde a pesquisa e criação dos cosméticos até sua industrialização e comércio. Os produtos se dividem em linhas profissionais, vendidas para clínicas e spas, e itens para o consumidor final.
O plano de investir nos árabes e na certificação halal surgiu há quatro anos, em viagens feitas pela fundadora da companhia, a matriarca da família Mendonça. “Já fui a alguns países árabes, como Emirados e Omã, onde fiz estágios em clínicas de estética. Adoro aquela região. Nestas viagens a países árabes e muçulmanos, eles me contaram sobre a certificação halal. E procurei saber se em cosmético tinha isso também”, revela Adélia Mendonça (foto acima), que é esteticista e cosmetóloga há mais de 40 anos.
Para chegar à certificação, a empresa encomendou um estudo de mercado à Câmara de Comércio Árabe Brasileira, da qual é associada, e seguiu os trâmites para ser certificada pela Cdial Halal. A maior parte do processo ocorreu durante a pandemia, e tanto envio de documentos quanto vistoria foram feitos de forma remota. “Com a orientação da Câmara Árabe, vamos entrar com poucos itens. Eles têm que se encantar com nossos produtos, e temos que tentar convencê-los e criar estratégias que vão os agradar”, explicou.
Além da fundadora e CEO, a marca conta com as duas filhas de Adélia na liderança, Joielle na área de pesquisa e Jacqueline em operações de negócios. “Somos, orgulhosamente, uma fábrica própria. Nos envolvemos em todos os processos e, quando precisamos, colocamos a mão na massa também”, disse Jacqueline Mendonça, diretora de operações (COO) da Adélia Mendonça.
Para Jacqueline, a inovação está no DNA da marca, que trabalha com 400 matérias-primas e já desenvolveu 150 produtos em linha. Deste total, a marca está selecionando 15 itens para começar a trabalhar no mercado de três países árabes. “Temos esse encanto com o povo árabe. Vemos essa similaridade entre eles e os brasileiros e gostamos muito de pesquisar”, afirmou a diretora.
A executiva conta que, assim como em outros setores da economia, a pandemia impactou o dia a dia da empresa, que busca, no entanto, ver a questão por outro ângulo. “Se não fosse a pandemia, estaríamos mais avançados, mas eu sou pé no chão e muito otimista. Todo mundo teve que se reinventar. Eu aceito esse ensinamento com muita gratidão. Temos que estar preparados para o tombo e para nos levantar de novo. Este ano a certificação já nos deixou super felizes. Vamos caminhar e retomar contatos”, concluiu a COO.
Mais de quatro décadas na estética
A empresa Adélia Mendonça nasceu a partir de uma busca pessoal de sua fundadora. Nascida e criada em Dores do Indaiá, Minas Gerais, onde fica a unidade fabril da marca, Adélia tem 46 anos de experiência com estética, e foi na juventude que seu interesse teve início. “Quando era adolescente, fui acometida por acne. Me mudei para estudar em Goiânia e tinha loucura para tratar a acne. Fiz vários tratamentos. Até que conheci duas esteticistas que vieram de São Paulo e me tratei com elas. Elas me disseram que iria abrir curso de esteticista na cidade. Fu fui lá e conheci a dona, que morava entre França e Brasil. Fiz o curso e fui a única a trabalhar na área”, contou Adélia.
Foi trabalhando em parceria com uma dermatologista que a mineira percebeu que os produtos brasileiros não tinham a qualidade que ela procurava e que precisaria buscar no exterior produtos e conhecimento. Após fazer um curso na Argentina, Adélia voltou ao Brasil e reuniu economias para viajar à França, onde descobriu o produto mudaria sua carreira. “Fui fazer um curso na França, e um professor falou que tinha uma linha, que em um único produto tinha 28 extratos botânicos. E eu pensei ‘Isso é o pulo do gato! É isso que eu preciso’”, conta ela sobre a novidade de ter diversos ativos em uma mesma formulação. Para Adélia, essa era a possibilidade de tratar, também, mais de um problema de uma só vez.
A brasileira passou 16 anos viajando em temporadas de três a seis meses para a França, onde desenvolveu pesquisas e produtos no laboratório da escola que cursava na França. Sua ideia era produzir cosméticos que atendessem a necessidade de peles presentes em seu país de origem. “Conheci a cosmiatria, onde você tem em uma única formulação um pool de ativos em altas concentrações para atender a necessidade da pele brasileira, que pode ser oito a 10 vezes mais espessa do que uma pele europeia devido a essa genética. O Brasil tem peles miscigenadas. Fui estudar nossa origem e observava, em uma única pele, mancha, acne e poro aberto. Aquilo me deixava super intrigada. Eu percebi que posso ter um produto que trata todas as disfunções da pele brasileira. Foi a virada da chave da minha vida”, relembrou.
Depois de desenvolver 37 produtos no exterior, a brasileira percebeu que era hora de criar sua própria indústria, situada no pequeno município onde nasceu. É lá que a marca mantém até hoje sua clínica modelo, onde Adélia segue fazendo atendimentos selecionados. “O meu propósito é continuar com tudo isso. O passo a passo é crescer sempre, expandir a marca para outros países. Pelo site, pelas compras virtuais, as pessoas descobrem a gente, mas o meu objetivo é ter um grande mercado. Enquanto estiver viva, vou atrás, vou buscar e vou chegar à frente”, destaca ela, hoje aos 66 anos.