São Paulo – O falafel foi o primeiro produto desenvolvido pela food tech brasileira Amazonika Mundi. À época, a empresa ainda se chamava Sottile Alimentos e estava buscando algo que a conectasse com a Amazônia. O que os fundadores já sabiam é que a empresa era de alimentos à base de plantas, ou em inglês plant-based. “Já tínhamos contato com a culinária árabe e no falafel pensamos em como manter a originalidade, mas acrescentar algo brasileiro. Então, trouxemos o feijão-manteiguinha para a receita. Nós fazíamos muitas feiras e, em 2018, participamos do Rock in Rio. Lá o falafel foi um sucesso”, contou Thiago Rosolem, CEO e um dos fundadores da empresa. Na foto acima, falafel burguer, uma das versões da iguaria árabe vendida pela marca brasileira.
O falafel é originalmente feito com produtos vegetais e não com carne como a maioria dos que ganham versão à base de plantas, mas o que a Amazonika fez foi criar uma versão com componentes brasileiros para ele. A partir daí os criadores da marca pensaram em novos produtos com ingredientes do Brasil. “Estávamos reunidos ouvindo música e começou a tocar ‘Morena Tropicana’, do Alceu Valença, que tem um trecho que diz ‘carne de caju’. Aí pensamos ‘carne de caju deve ser uma boa!’, começamos a pesquisar e descobrimos que já existia um projeto da Embrapa sobre a fibra de caju”, detalhou o empreendedor. A Embrapa é a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária.
Rosolem também aprendeu que a população, principalmente a de menor renda, do Ceará já utilizava o bagaço e a fibra do caju para fazer pratos e preparos semelhantes aos que levavam carne. “À base de caju o primeiro produto que nós fizemos foi o bolinho de siriju”, revelou ele sobre a criação que substitui a carne de siri pela fibra de caju. A solução foi o que abriu as portas para novas invenções, inclusive o mais recente, a kafta.
Kafta à brasileira
Neste mês, a Amazonika lançou, em parceria com a Embrapa Agroindústria de Alimentos, dois novos produtos. Um empanado e mais um alimento de origem árabe, a kafta, que levam fibra de caju na receita. “O bacana é que no caso do caju o volume de fibra descartada era muito grande, então conseguimos utilizar esse alimento e ainda apoiar os produtores locais”, lembra Rosolem.
Para a pesquisadora da Embrapa, Janice Lima, no caso da kafta, o desafio foi selecionar os ingredientes que atendessem às necessidades da indústria, como preço e disponibilidade, além de reproduzir características sensoriais de textura, sabor e aparência dos produtos de origem animal. No caso da fibra de caju desenvolvida pela Embrapa Agroindústria Tropical, os pesquisadores explicam que o produto traz textura e agrega, ainda, em valor nutricional.
E, para adicionar mais sabor brasileiro aos produtos, outros ingredientes vêm da Amazônia. Na kafta, a empresa utilizou pimenta assîssî e extrato de açaí. “A ideia é que seja um projeto sustentável e que faça sentido de verdade. Tudo é rastreável com um QR Code em que o consumidor saberá de quem compramos cada ingrediente”, destacou o CEO da marca.
Os parceiros foram escolhidos pela Amazonika em 2019, quando os sócios visitaram a região. Com o contato estabelecido com instituições como o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), a marca reformulou, inclusive, o ‘primogênito’ dos produtos, o falafel. A receita ganhou ingredientes como óleo de patauá, um azeite amazônico, a partir de 2020.
Food tech brazuca
Sediada em Niterói (RJ), a marca também tem projetos de pesquisa com Universidade Federal do Rio de Janeiro e procura se firmar com a inovação nacional. “Sempre batalhamos para ser uma food tech e não um ‘copia e cola’ do que fazem lá fora. O plant-based está crescendo muito, mas não tem [matéria-prima] para abastecer o mercado. Já nos comunicamos com o público vegano intuitivamente e acreditamos que todo mundo pode substituir uma vez ou outra a carne por esses produtos também”, ponderou o fundador.
Com o objetivo de trabalhar com ingredientes e povos de lugares cada vez mais distintos, Rosolem lembra que a marca quer seguir com sua missão. “Nós falamos que são três ésses (S)’. Saudabilidade, sustentabilidade e sabor. E quero ainda acrescentar um ‘I’, de inovação. Daqui para frente é deixar o projeto crescer para chegar a mais pessoas, para que elas também possam provar a carne de caju, o feijão-manteiguinha e todos esses alimentos do Brasil”, contou.
Em seus processos, a Amazonika contou também com consultoria de diferentes chefs de cozinha, entre eles Inês Braconnot. Vai ser justamente nos restaurantes parceiros que a kafta será lançada. A ideia é levar a experiência nos estabelecimentos para gerar curiosidade no público que, futuramente, poderá comprar diretamente a iguaria. O restante da linha da marca já está à venda nas grandes redes especializadas, como Natural da Terra, Empório São Paulo e Instituto Chão, em São Paulo.
No momento, a Amazonika está focada no mercado interno, mas os sócios já vêm recebendo propostas para exportar. “Não estava no radar, mas quando você tem demanda de parceiros que já exportam, como um que já envia poupa de açaí congelado aos Estados Unidos, por que não?”, diz Rosolem, lembrando que outro passo que a marca deve dar em breve é a abertura para captação de fundos de investimento através de um road show.