São Paulo – Um número cada vez maior de turistas está conhecendo o Brasil de navio. Os brasileiros ainda são maioria, mas o mercado nacional de cruzeiros marítimos, que cresce em média 40% ao ano e emprega 45 mil pessoas, tem atraído mais a atenção dos estrangeiros.
A oferta de leitos para a temporada 2009/2010, que acaba no mês de maio, aumentou para quase 900 mil, contra 520 mil hóspedes da temporada 2008/2009, dos quais 75 mil eram estrangeiros. “Tamanho crescimento é creditado a diversos fatores, tais como maior investimento das companhias no país, maior número de mini-cruzeiros, temporada mais extensa e maior número de hóspedes estrangeiros”, afirma Ricardo Amaral, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Cruzeiros Marítimos (Abremar).
De acordo com Amaral, os turistas vêm de vários países, mas principalmente dos Estados Unidos, Argentina, Uruguai e Espanha. Os turistas árabes também já descobriram as vantagens de conhecer a costa brasileira a bordo de um transatlântico. “Os turistas de países do Oriente Médio e Norte da África também procuram nossos cruzeiros, mas ainda em pequeno número”, diz o presidente.
Segundo ele, o mercado brasileiro de cruzeiros se expandiu rapidamente a partir do final da década de 1990. “As companhias de todo o mundo perceberam o enorme potencial do mercado brasileiro e começaram a investir na expansão do segmento, enviando navios para o país, gerando enorme expansão no mercado nacional”, explica.
O Nordeste é a região mais procurada. “A posição geográfica [do Brasil] é extremamente favorável para captar o interesse dos armadores, especialmente o litoral do Nordeste, que possui praias ensolaradas o ano todo, excelentes resorts, belíssimo folclore e rico artesanato, ingredientes básicos que o tornam um destino atrativo de primeiro mundo”, destaca.
Subindo no ranking
De acordo com informações divulgadas pelo Ministério do Turismo, hoje o Brasil é o sexto mercado de cruzeiros do mundo, com perspectiva de se tornar o quinto. Hoje o 1º colocado é o mercado norte-americano, com 10 milhões de usuários. A Europa, por sua vez, aproxima-se dos 4 milhões. A região que detém o maior número de cruzeiros marítimos é o Caribe, há mais de 50 anos o destino preferencial deste mercado. O Mediterrâneo tem sido o destino mais consumido pelos europeus no verão do Hemisfério Norte.
No entanto, de acordo com Amaral, em ambos os casos os roteiros se repetem e já não constituem novidade, por isso os consumidores tendem a procurar novos destinos. “Neste ponto, o Brasil leva vantagem sobre China e Dubai e, além disso, é o único país da América do Sul que integra os 40 destinos mais procurados no ranking da Organização Mundial do Turismo, condição que estimula os investimentos”, garante o presidente da Abremar.
E se a demanda aumenta, as operadoras se movimentam para atender os novos consumidores. Para a temporada de cruzeiros 2010/2011 no Brasil, com início previsto para novembro, a CVC ampliará a sua frota. Ao lado dos navios CVC Zenith, CVC Soberano e CVC Imperatriz, que retornarão ao Brasil na próxima temporada, a operadora anuncia o fretamento de mais dois navios: CVC Horizon e CVC Bleu de France, sendo que este último navegará pela exclusiva rota de Fernando de Noronha.
Segundo o diretor comercial de cruzeiros da operadora, Rodolfo Szabo, os cinco navios operados pela CVC oferecerão vantagens adicionais na próxima temporada. "Além do já consagrado sistema ‘tudo incluído’, que será mantido, os preços dos pacotes estarão 20% mais em conta em relação aos praticados atualmente e será concedida gratuidade para crianças de até 11 anos", diz.
Enquanto a indústria de cruzeiros cresce no mercado brasileiro, cria-se a necessidade de melhorias de infraestrutura, além de um acordo de colaboração entre as empresas marítimas, portos de atracação e governo para a formação de parcerias. O Ministério do Turismo, por meio do Grupo de Trabalho (GT) do Turismo Náutico, criou um projeto de capacitação para o setor.
Em parceria com os ministérios da Defesa (Marinha) e Trabalho, integrantes do GT firmaram um Termo de Cooperação para a criação de cursos de formação e especialização em profissões relacionadas ao segmento náutico. A intenção é atender às demandas dos navios de cruzeiro, embarcações de passeio, pessoal de terra e técnicos especializados em reparos em pequenas e médias embarcações.
“O GT está trabalhando para estruturar esse setor que tem grande potencial de crescimento no país. Por isso, a preocupação com a formação e aperfeiçoamento profissional para o segmento”, comenta o diretor do Departamento de Articulação, Estruturação e Ordenamento Turístico do MTur, Ricardo Moesch.
O projeto prevê também a adaptação de cursos de formação de marinheiros, ministrados pela Marinha, para a área do turismo.
Além disso, o GT está identificando eventuais problemas que possam ter ocorrido na temporada para encaminhar soluções e planejar investimentos. “Na última temporada foram investidos R$ 12 milhões em diferentes portos, de Belém [no Norte] à Paranaguá [no Sul]. Até a metade do ano teremos condições de definir onde e quanto será investido no setor para melhor atender os turistas na próxima temporada”, afirma Moesch.
Mais empregos
De acordo com a legislação de cabotagem brasileira, pelo menos 25% da tripulação de cada navio deve ser composta por brasileiros. Neste ano serão gerados cerca de 4 mil empregos diretos para brasileiros, a bordo dos navios, quase mil empregos a mais do que na temporada passada. Este número pode ser ainda maior se forem contados os empregos gerados nos escritórios e nos receptivos que recebem os cruzeiros.
A Abremar espera crescimento de 30% no número de rotas, o que aumenta em 15% a geração de vagas. Na temporada passada, os cruzeiros marítimos foram responsáveis pela geração de mais de 39 mil empregos diretos e indiretos no Brasil. Para esta temporada, a expectativa é a de que o número chegue a 45 mil.

