São Paulo – A organização não governamental (ONG) brasileira Pimp My Carroça trabalha promovendo reformas e pinturas em carroças de catadores de materiais recicláveis, experiência que foi replicada no Marrocos, país árabe do Norte da África. Um dos pontos centrais do trabalho da ONG é a realização de um dia de evento colaborativo (foto), em que voluntários e artistas fazem melhorias e arte nas carroças dos recicladores, e essa atividade foi realizada nas cidades marroquinas de Casablanca e Meknès em duas oportunidades, nos anos de 2016 e 2017.
A responsável pela área de Inovação e Parcerias da Pimp My Carroça, Elissa Fichtler, afirma que a experiência foi levada ao Marrocos a partir da professora de idiomas marroquina Sonia Cooker, que assistiu uma palestra do fundador da organização, Mundano, e decidiu levar o Pimp My Carroça para o seu país. Sonia organizou a ação com a colaboração de seus estudantes.
“Ela conta que foi bem difícil porque os catadores não conseguiam entender alguém querendo ajudá-los e ficaram bem desconfiados durante o processo”, diz Elissa à ANBA por e-mail. A marroquina relatou, porém, que foi muito importante a ação e que uma das carroças reformadas ficou famosa como símbolo de Casablanca. No ano seguinte, Sonia fez uma edição em Meknès e tem vontade de fazer outras, mas tem sido difícil captar recursos, segundo Elissa.
O Marrocos não é uma exceção. Vários outros países já replicaram o trabalho da ONG de valorização do trabalho dos catadores. “Desde a primeira edição, tivemos muito retorno de mídia espontânea. Dessa forma, pessoas de diferentes cidades, inclusive de outros países, entraram em contato para poder replicar alguma de nossas ações em seus territórios”, conta Elissa. Como o engajamento ativo da sociedade civil é uma das crenças da organização, a Pimp My Carroça compartilha o conhecimento na área e dá todo apoio necessário para que as ações ocorram.
O Pimp My Carroça foi idealizado pelo artista e ativista paulistano Mundano, que identificou nas carroças de catadores o suporte ideal para suas obras artísticas de protesto. Elissa conta que, ao pintar nas carroças frases como “Não buzine. Dê bom dia”, a ideia dele era quebrar preconceitos e chamar a atenção para aquele ser humano que passa o dia carregando uma carroça com os braços para recolher resíduos. “Além do mais, a carroça toda grafitada deixava o catador mais orgulhoso do próprio trabalho”, relata Elissa.
Com as carroças pintadas circulando pelas cidades, a iniciativa ganhou tamanho e repercussão e foi criado o Pimp My Carroça em 2012. Um grande evento colaborativo foi feito naquele mesmo ano no Vale do Anhangabaú, na capital paulista, no qual as carroças foram reformadas e pimpadas e catadores recebem atendimento em serviços de saúde, cidadania e bem-estar, além de extensa programação cultural. Para fortalecer o trabalho e ampliar as formas de captação de recursos, foi criada em 2016 também a ONG Movimento de Pimpadores.
O verbo “pimpar” tem várias definições do Dicionário Houaiss, entre elas fazer-se de valente, ostentar e levar a vida divertida. Na ONG Pimp My Carroça, ela engloba toda a melhoria e a arte que é feita nas carroças.
O Pimp My Carroça tem sede em São Paulo e no Recife, e duas unidades independentes em Cali e Bogotá, na Colômbia. São 13 profissionais contratados e uma rede com 2.500 voluntários e mais de 1.100 artistas, além de empresas, prefeituras, doadores individuais e organizações que apoiam o trabalho. Todos os programas levados adiante têm como foco trazer reconhecimento e remuneração justa para catadoras e catadores de materiais recicláveis, usando a arte e o engajamento social como instrumentos.
As atividades realizadas têm vários formatos. Há um grande evento, chamado de “Pimp My Carroça”, com reformas e pinturas das carroças e outros serviços oferecidos aos catadores, uma mini edição dele, o “Pimpex”, com atendimento a quatro catadores, o “Pimp Nossa Cooperativa”, com revitalização de cooperativas de reciclagem, o “Desafio Pimp”, com experiências imersivas para que as pessoas conheçam o trabalho do catador na prática, e o “Ações Artivistas”, com intervenções urbanas de arte para criar reflexões e otimizar o trabalho do catador.
Também foi criado o “Cataki”, aplicativo para conexão entre o catador e pessoas que têm material reciclado para entregar. O aplicativo reúne 4.500 catadores em mais de 500 cidades brasileiras e foi escolhido como o melhor projeto de inovação tecnológica do mundo pelo prêmio de inovação digital Netexplo, além de vencedor no Chivas Venture 2019, na categoria People’s Choice, premiação global de iniciativas tecnológicas de impacto socioambiental.
A organização segue com planos de expansão. No ano que vem o Cataki ganhará novas funcionalidades. Também em 2020 será lançado um programa de embaixadores, além do protótipo final do projeto de uma carroça com tração elétrica. Essa iniciativa tem apoio do Instituto Clima e Sociedade (ICS) e do Instituto de Pesquisa Tecnológica (IPT). “O grande desafio será desenvolver um modelo onde todos os catadores possam ter acesso, e quem sabe, conseguir comprá-la com seus serviços de reciclagem”, diz Elissa.
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Pimp My Carroça
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