Isaura Daniel
São Paulo – As importações brasileiras de sardinha do Marrocos triplicaram nos sete primeiros meses deste ano. O país comprou 3,4 mil toneladas do produto marroquino entre janeiro e julho contra 1,04 mil toneladas do mesmo período do ano passado. O aumento foi de 233%. O faturamento do país do Norte da África com as vendas do pescado para o Brasil cresceu ainda mais. Saiu de US$ 595 mil para US$ 2,1 milhões.
O Marrocos está aumentando a sua participação no fornecimento do produto para as indústrias brasileiras. De janeiro a julho do ano passado, os marroquinos responderam por 3,42% das importações brasileiras de sardinha. No mesmo período deste ano, a participação saltou para 11,83%.
"As indústrias brasileiras estão adotando a estratégia de diversificar seus fornecedores", explica o coordenador geral da Pesca Industrial da Secretaria Especial da Aqüicultura e da Pesca (Seap), Luiz Eduardo Carvalho Bonilha.
Atualmente, o maior fornecedor internacional de sardinha do Brasil é a Venezuela. O país responde por aproximadamente 60% das importações brasileiras. Os venezuelanos, como integrantes do Pacto Andino, exportam para o Brasil com alíquota zero. No último levantamento da Seap, que leva em conta dados do ano passado e deste ano até o mês de março, o Marrocos consta em terceiro como fornecedor do produto para o Brasil. A Rússia está em segundo lugar.
O país árabe, apesar de ainda não vender um volume muito expressivo de sardinha para o Brasil, é o maior fornecedor mundial do pescado. A produção marroquina alcançou 328 mil toneladas nos seis primeiros meses do ano, de acordo com informações da Embaixada do Marrocos no Brasil. Os maiores compradores da sardinha do Marrocos são Espanha, Japão, Itália e Grécia. A pesca é uma importante fonte de renda para o país.
Sardinha do Brasil
O Brasil também é produtor do pescado. A safra brasileira, porém, é bem menor do que a marroquina. Neste ano serão tiradas do mar por pescadores brasileiros 45 mil toneladas de sardinha. Já as importações brasileiras de sardinha alcançaram 29,4 mil toneladas até o mês de julho.
A compra do produto estrangeiro é, na verdade, tema de constante discussão entre pescadores e indústrias nacionais do setor. As alíquotas de importação de sardinha estão no cerne do debate. Enquanto as indústrias pedem uma taxa menor, os pescadores querem que a importação seja restrita para evitar a depreciação dos preços no mercado interno.
Tanto que no mês de março deste ano o governo brasileiro, a pedido da Seap, limitou as importações do pescado com alíquota reduzida, de 2%, para 10 mil toneladas. A taxa de importação, que normalmente é de 11,5%, é reduzida para 2% no período de defeso, época em que a pesca da sardinha está proibida no Brasil em função da reprodução do peixe.
Pelas regras anteriores, porém, as indústrias podiam importar 40 mil toneladas nos meses de defeso com taxa menor. O volume foi reduzido em 30 mil toneladas para o período de novembro de 2003 até março de 2005. De acordo com Bonilha, a quantidade a ser importada com alíquota reduzida será discutida e definida periodicamente, em encontros entre a Seap e representantes das indústrias e dos pescadores, de acordo com a demanda e a produção nacional.
"As empresas estavam importando excessivamente e estocando. Quando abria a safra brasileira elas estavam abastecidas", explica Bonilha. A importação acabava deixando os produtores locais sem mercado e jogando os preços para baixo. Os pescadores chegaram a fazer greve e parar a produção este ano para tentar estancar a queda dos preços.
A safra brasileira de sardinha deste ano vai aumentar em 27 toneladas em relação ao ano passado, quando foram pescadas 18 mil toneladas. A Seap está trabalhando para incluir a sardinha nas compras governamentais dos programas de combate à fome para ampliar o mercado nacional do produto.

