São Paulo – Martinho da Rocha (foto acima) deu duas guinadas importantes em sua vida. A primeira quando deixou os laboratórios de pesquisa para trás, sabendo de sua necessidade de estar em movimento. A segunda, quando também abandonou a carreira de produtor de vídeos para empreender e fundar a Milagros. A marca é pioneira na produção de incensos à base de resina no Brasil.
Agrônomo de formação, o brasileiro viu no olíbano uma paixão quando fez o Caminho de Santiago de Compostela. A ideia de Rocha era se reaproximar da religião e da espiritualidade. Ali, ele sentiu os aromas de um incenso feito da forma tradicional, com a resina que é extraída de árvores do Oriente Médio ou Norte da África, e decidiu comprar e revender olíbanos como aqueles no Brasil.
Passados 20 anos da criação da empresa, hoje Rocha também produz seus próprios incensos. A Milagros tem fábrica em São João da Boa Vista, interior de São Paulo, e uma loja em Aparecida, município que abriga o Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida e recebe milhares de católicos todos os anos.
Produção
A Milagros vende mais de 20 tipos de incenso. Entre os feitos de uma origem única ou de blends estão o Lacrima Christi, produzido com matéria-prima de Omã, o Olibanum Somalia, de resina somali, e o Olibanum Sudan, produzido a partir de resina do Sudão.
Há, ainda, produtos importados já prontos de países como Inglaterra, Itália, Holanda. Entre os tipos de incenso disponíveis há o grego, o próprio olíbano e a mirra. Além do incenso em si, a marca também comercializa itens como incensários e carvão.
Para o empresário, as exportações em volume considerável devem vir apenas em longo prazo. “Ainda tenho muito para expandir aqui no Brasil. Tenho consultas e o mercado lá fora esperando, está latente, mas ainda não tenho uma pessoa para isso. A equipe está muito atarefada com o comércio interno. Nossa marca está muito forte, sinto que tenho que expandir. Tenho que tornar a empresa maior e mais influente”, disse ele.
Visita a países árabes
Em 2010, o brasileiro partiu em uma jornada pelo continente africano. “Fui para Nairóbi, capital do Quênia. Lá tive apoio de uma equipe que me acompanhou em Somaliland [região da Somália]”, contou ele. Rocha lembra a receptividade calorosa que teve por onde passou. “Lá, o que é forte é a goma arábica, então quando eles sabiam que eu tinha ido do Brasil até o país deles para conhecer a produção de olíbano, ficavam muito surpresos”, disse.
Foi essa viagem que inspirou o brasileiro a criar o Projeto Compartilhar Riqueza. “Foi muito emocionante, mas também difícil ver como as pessoas que extraem a resina vivem na pobreza. A partir dali comecei a fazer reuniões com os compradores da matéria-prima, falando sobre essa necessidade de levar também prosperidade para eles”, contou.
O empreendedor chegou a apresentar a ideia a religiosos do Vaticano, por onde também passou por conta da Milagros. Durante a pandemia, Rocha precisou pausar a busca por apoio, mas pretende retomar o projeto em breve.
A venda de incensos ao Vaticano foi, inclusive, um dos pontos de virada na história da Milagros. “Em 2007, o Papa Bento 16 veio o Brasil e me ligaram pedindo para fornecer incenso. Decidi fazer um incenso azul com gotas douradas para Nossa Senhora. E oito meses depois, me ligaram [do Vaticano] porque o Papa gostou”, revelou Rocha.
Hoje, o empreendedor entrega os incensos na sede da Igreja Católica sem cobrar, mas no começo a venda fez diferença no caixa da empresa, além de ajudar na divulgação da marca. O brasileiro já visitou o Vaticano diversas vezes. “A receptividade foi maravilhosa”, contou.
Outro país por onde o brasileiro passou em suas andanças foi Omã. “Quando fiz uma viagem à China, passaria por Dubai, então decidi conhecer Omã. Fui a Mascate e Salalá, região onde tem incenso. Fui para encontrar a Boswellia Sacra, arvore balsâmica que produz o melhor incenso de resina e que tem este nome por ser desta região da qual saiu um dos reis magos que levou o incenso ao Menino Jesus. Essa é a espécie que é a mais perfumada e nobre”, lembrou ele sobre a resina da espécie que dá origem a um olíbano com perfume cítrico.