São Paulo – Com uma proposta de negócio sustentável e o nome inspirado em uma matriarca libanesa, a marca brasileira de biojoias e esculturas Chames Bio quer ultrapassar as fronteiras do mercado nacional. O atelier do Rio de Janeiro confecciona artigos de luxo que são vendidos em lojas autorais no Brasil e definiu duas regiões alvos para a expansão ao exterior: os países árabes e a Europa.
“Os mercados da Chames são o europeu e o árabe, que dão muito valor para o trabalho manual, artesanal e exclusivo. A quantidade limitada do produto é importante para esses mercados. São mercados atemporais. Acho que eles têm um valor sobre o vestir e sobre o usar muito diferente”, afirmou a diretora criativa, designer e proprietária da Chames Bio, Neida Freitas, para a ANBA.
A Chames Bio produz acessórios femininos e esculturas decorativas a partir de fios e casulos de seda brasileira. A seda vai para o atelier em vez de virar resíduo na indústria. As peças, que incluem colares, brincos e pulseiras, são confeccionadas ainda com materiais como murano, madeira de demolição ou certificada, metais brasileiros e pedras naturais. Qualquer insumo é comprado com um olhar atento da diretora criativa sobre a sustentabilidade e a preocupação social com que é produzido.
A seda utilizada é da empresa Casulo Feliz, do Vale da Seda, do Paraná, que tem sua operação embasada na sustentabilidade, com uso de energia solar, tingimentos vegetais, comunidades locais como fornecedoras e tratamento de afluentes, entre outras práticas. O murano leva a substância italiana da Ilha de Murano que o caracteriza como murano, mas o produto entregue para Neida é feito por pequenas oficinas no Brasil.
Além das fronteiras
A empreendedora conseguiu posicionar o seu produto no segmento de luxo e procurou para ele um varejo com esse perfil no Brasil. Além das redes sociais e do e-commerce no site da marca, os acessórios e esculturas são vendidos em pontos de venda exclusivos na região Sudeste, como em galerias.
Ainda não há vendas da Chames Bio ao exterior, mas já há conversas para que as peças sejam oferecidas em um museu na França. Neida também passou por formação no Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o que a qualificou para a área, e teve a oportunidade de conhecer mais de perto o mercado dos Estados Unidos, mas entendeu que esse não é o mais adequado para a Chames Bio. No ano passado, a empresa se associou à Câmara de Comércio Árabe Brasileira para desbravar o mercado árabe.
A matriarca libanesa
A Chames Bio é um negócio que carrega muitos valores e história, algo que Neida fez questão de dar para a marca. O nome Chames, que em árabe quer dizer “Sol”, vem de Chames Aboud Damous, a tataravó libanesa da filha de Neida e bisavó do seu ex-marido, Jorge Eduardo Aboud. Chames nasceu em Zahle, estudou e trabalhou na loja do pai. Já casada e com filhos, liderou a imigração da família ao Brasil, algo que na época eram os homens que costumavam fazer. Ela mascateou, comerciou e acabou estabelecendo o embrião do que seria o maior grupo empresarial do Maranhão na década de 1950 e início dos anos 1960.
Assim como a libanesa Chames, também Neida criou seu negócio em uma das guinadas da vida. Formada em Administração com Habilitação em Gestão Ambiental no Pará, a designer viveu boa parte da sua vida no estado, onde trabalhou com gestão ambiental em uma época em que o setor era novidade. Neida atuava pela universidade em projetos junto a comunidades locais e ribeirinhas. Foi num desses trabalhos que conheceu o ex-marido e resolveu se mudar com ele para o Rio de Janeiro em 2007.
Um tempo depois, recém-saída de um emprego em uma empresa brasileira de energia e no período em que trouxe a mãe do Pará para tratamento de saúde no Rio, encontrou nas atividades com as biojoias uma maneira de aproveitar o tempo livre. Na época, ela fazia apenas trabalhos esporádicos de auditoria. Primeiro Neida ajudou uma amiga em montagem de bijuterias e depois, com o empreendimento fechado, começou a dar os primeiros passos rumo à sua marca.
Com origem indígena, povo na qual as mulheres carregam história de liderança, Neida foi pesquisar sobre a produção de seda no Brasil e assim, certa das matérias-primas que queria usar, começou a fazer a Chames Bio nascer. A primeira coleção foi lançada em janeiro de 2021, na pandemia. “Nessa vibe de ressignificar a vida, ressignificar as coisas, os nossos trabalhos, o convívio com a família”, diz. A segunda coleção saiu em julho.
Rota da Seda e Sol do Líbano
As esculturas entraram para o negócio a partir de um convite que Neida recebeu para expor na feira brasileira de decoração Abimad. Foi aí que ela criou uma coleção baseada na Rota da Seda, em que apresentou, por meio das peças, lugares e experiências dessa rota de comércio, como o Mar Mediterrâneo, o Império Árabe, os temperos, tecidos e línguas que transitavam por ela. “A partir disso eu vi que era uma oportunidade de crescer dentro de outras possibilidades”, diz, sobre as esculturas.
A peça mãe da Chames Bio atualmente é um colar criado ainda em 2020 chamado “Sol do Líbano”. Toda a criação da marca, inclusive desse colar, é de Neida, que faz questão de usá-lo quando vai apresentar a sua empresa. “Homenageia a Chames”, afirma Neida, sobre o colar, que foi reconhecido como obra de arte pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
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