São Paulo – A marca brasileira Mel Barrufi produz mel premium com certificação halal e transformou as exigências desse mercado no norte dos seus negócios. A empresa possui experiência com exportação para América do Norte e Europa, mas está focada em buscar espaço nos países muçulmanos, para os quais o produto que fabrica está para lá de adaptado.
O selo halal atesta que o produto foi feito segundo as regras do Islã e é, portanto, adequado para o consumo dos muçulmanos. Ele também é considerado sinônimo de qualidade, já que as exigências que o halal traz demandam alto padrão e segurança na produção.
A história da Mel Barrufi com o halal começou em 2021, quando o atual CEO e conselheiro de Halal da empresa, Cleber Baruffi, ficou oito meses na Europa pesquisando os méis oferecidos no mercado. Com sua equipe, ele conheceu e degustou muitos méis cujas informações do rótulo não batiam com o que de fato estava no produto. Até se deparar com um mel halal. “Chamou nossa atenção pela qualidade”, diz. Tudo o que estava no rótulo daquele mel, o produto realmente entregava, segundo ele.
A identificação do empresário foi instantânea e ele concluiu que, com a diversidade de méis que poderia oferecer na sua indústria, teria condições de produzir o produto halal e premium, e não um mel para fazer mix com o chinês, como boa parte do mercado faz, ou apenas para servir de insumo a outros produtos. O produto de outras origens costuma ser adicionado para melhorar o sabor do chinês.
A transformação
A partir daí o negócio da Barrufi foi redesenhado e a empresa partiu para obter o selo halal, o que foi conseguido por meio da certificadora SIILHalal. “A gente sabe que o muçulmano vai ofertar o melhor para a família dele”, afirma Cleber sobre a agregação de valor que deu ao produto para atender esse público. As embalagens, com tamanhos de 250 gramas, 500 gramas e um quilo, passaram por reformulação.
A planta industrial foi reconfigurada e o produto mudou. Agora a Barrufi oferece o mel em suas diferentes possibilidades de origem, segundo o bioma, tipo de árvores ou flores nas quais as abelhas coletam o néctar. “Cada florada tem sua particularidade, então resolvemos classificar cada lote por essas particularidades”, afirma.
Assim, companhia oferece méis como o Silvestre, a partir da coleta do néctar pelas abelhas em flores silvestres, o Eucalipto, o qual tem o néctar obtido pelas abelhas em meio a essas árvores, e o Quitoco, gerado em áreas rurais e naturais do Brasil. E dentro dessa divisão há ainda uma infinidade de possibilidades, segundo a vegetação do local, que pode ter desde Aroeiras até Uva-Japão, essa última com safra sazonal.
Para a produção, a Barrufi, que tem sede na cidade gaúcha de Osório, desloca suas colmeias para diferentes ambientes naturais, sempre de olho no tipo que pretende produzir. Matas nativas, rios intocados e reservas são alguns dos locais para onde as colmeias são levadas. A empresa possui berçário para garantir a continuidade e reposição das colmeias. “É todo um trabalho genético”, afirma.
Um mel halal
O processo halal leva para a produção altos padrões de higiene e qualidade e conscientização dos colaboradores sobre o assunto, segundo Cleber. Apesar do mel ser natural, a certificação é adequada para um produto como esse. O CEO conta que o mel pode ter grau etílico segundo a umidade que alcança. Por isso o controle da umidade é uma parte importante na produção da variedade halal.
Com toda a adequação feita, a Mel Barrufi está agora em negociação com alguns países muçulmanos para vender aos seus mercados o mel premium halal. Há conversas com Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Indonésia e uma experiência piloto com a Itália. A Mel Barrufi já exporta a variedade comum para Alemanha, Estados Unidos e Canadá, mas tem como foco vender o premium e halal. A empresa possui duas plantas, uma de mel premium halal e outra de comum.
O CEO da empresa apresentou, nesta semana, a sua experiência com o halal durante um roadshow em Porto Alegre, a capital gaúcha, sobre o mercado halal. O evento foi promovido pelo Projeto Halal do Brasil, que é levado adiante pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) para aumentar o fornecimento brasileiro de alimentos halal com valor agregado ao mercado internacional. A Mel Barrufi participa do projeto.
Mel de geração para geração
A produção de mel está na história da família Barrufi. A empresa está atualmente nas mãos de cinco irmãos Baruffi, que oficializaram o negócio em 1996. O mel, porém, faz parte da trajetória dos Baruffi desde a chegada dos bisavós de Cleber da Itália ao Brasil, no início do último século. Tanto a mãe do CEO, que é Baruffi, como o pai, de sobrenome Batista Camargo, vieram de famílias de apicultores.
Leia também:
Projeto Halal amplia divulgação de produtos para muçulmanos
Rio Grande do Sul: 5º maior exportador a islâmicos
Trabalhando na roça e mantendo um alambique, em determinado momento o casal resolveu investir na apicultura e dar continuidade à história familiar com o mel. “Venderam todas as galinhas que tinham para comprar material e começar na apicultura “, relata Cleber, reproduzindo algo ouvido dos pais muitas vezes. O dinheiro serviu para comprar tábuas e fazer as primeiras caixas para as abelhas morarem.
O nome do negócio nasceu naturalmente com os clientes chamando o produto de o mel dos Baruffi. Por questões de cidadania, a família mudou seu nome para o original da Itália: Baruffi com um R e dois Fs. Mas a empresa seguiu sendo Barrufi, com dois Rs e um F.
Os filhos do casal resolveram formalizar o negócio quando cresceram e dar continuidade à produção de mel, mas com ambições maiores. Assim, conseguiram as habilitações e licenças para vender para todo o Brasil e para exportar e puderam expandir o negócio. A empresa faz no País um trabalho de conscientização sobre o que é o mel halal. No evento do projeto Halal do Brasil foi oferecida degustação aos participantes.